Nos dias 17 e 18 de maio aconteceu o Seminário Nacional Reconexões Periferias, organizado pela Fundação Perseu Abramo. O encontro contou com a participação de ativistas e especialistas das áreas de cultura, violência e trabalho de todas as regiões do país. Trata-se de uma etapa do projeto Reconexões Periferias em que a equipe apresentou os resultados parciais e colheu contribuições para as próximas etapas, dirigida pelo diretor da Fundação Artur Henrique da Silva Santos.

Quando abordadas essas três temáticas alinhadas à ideia de periferia, muitas vezes vem à memória apenas a ideia de precariedade e ausências. No entanto, o encontro buscou dialogar principalmente sobre as potências de resistência e transformação em torno dos campos cultura, trabalho e violência produzidas por sujeitos periféricos. São formas de denunciar, se reinventar, (re)existir e protagonizar ações pelo bem viver.

Os participantes tiveram contato com os materiais que estão sendo produzidos pela equipe do projeto “Reconexões Periferias”, como formato dos dossiês temáticos e mapeamento nacional de movimentos sociais. A partir das apresentações, puderam opinar sobre caminhos a serem traçados no desenvolvimento das ações, contribuindo assim para aprimorar os trabalhos que serão devolvidos na sociedade, a fim de qualificar o debate político em torno das ações necessárias para construção de um país que garanta os direitos de todas as pessoas.

As equipes das pesquisas sobre 1) violência racial e de gênero, 2) chacina e 3) trabalho e informalidade apresentaram os pressupostos iniciais tomados como ponto de partida para a realização do estudo nacional. Seus projetos têm a periferia não como espaço apenas das necessidades, mas como o território onde se produzem narrativas sobre as experiências cotidianas, reivindicações políticas e ações alternativas às condições sociais colocadas. Desta forma, estes sujeitos aparecem não como aqueles objetos de políticas a serem elaboradas de fora para dentro, mas como atores que ensinam formas de pensar e fazer, e apontam as emergências colocadas para o Brasil de hoje.

Marcia Lima, Jackeline Romio e Jacqueline Sinhoreto apresentaram indicadores sobre violência contra jovens negros, feminicídio e chacinas, respectivamente, considerando a conjuntura e os operadores ideológicos que produzem este cenário. As provocações trazidas por este grupo de pesquisadoras e ativistas provocou os demais participantes do seminário a compartilhar suas vivências frente a estes fenômenos em diferentes contextos do país.

Marcia Lima destacou o cenário político construído pelo movimento negro e movimentos de juventude negra em torno da agenda do Genocídio da Juventude Negra até que ela se tornasse política de Estado, considerando os impasses das representações públicas assumirem o termo genocídio. Jackeline Romio abordou dados de feminicídio no Brasil e seus aspectos, como o feminicídio decorrente da negligência do Estado e decorrente de relações estabelecidas a partir de uma cultura sexista. Sinhoreto apresentou um panorama sobre as características das chacinas no país e os atores envolvidos, como agentes do Estado, crime organizado, vítimas e movimentos sociais organizados a partir deste fenômeno.

Já a mesa sobre trabalho e informalidade, composta por Ludmila Abilio, Arthur Henrique Santos e Daniel Teixeira abordaram os efeitos da chamada “modernização capitalista” sobre as relações de trabalho, o fenômeno da uberização e informalidade e a realidade dos trabalhadores das periferias que, mesmo em momentos de pleno emprego, estiveram na informalidade seja por meio do acúmulo do trabalho CLT com atividades que garantem a remuneração extra para garantir condições de sobrevivência, seja totalmente na informalidade.

Destacou-se como as condições precárias de trabalho atingem massivamente moradores das periferias, sobretudo negros, e o impacto da reforma trabalhista na precarização do trabalho e empobrecimento deste segmento. Os participantes, em geral, buscaram trazer exemplos de como em seus territórios a informalidade e subemprego sempre atingiu seus pares, dentro e fora de suas famílias.

Para finalizar, realizou-se uma mesa sobre linguagens de resistência nas periferias com Marcio Tavares, Flávio Renegado, Maitê Freitas e Écio Salles. Os quatro apresentaram o cenário das periferias como espaço de potência, apesar das exclusões e condições de vulnerabilidade em que estes territórios estão expostos. As formas de fazer e mobilizar as comunidades em torno de expressões culturais que tematizam as alegrias e as tristezas de viver nas periferias e estimular o protagonismo local foram destacadas pelos participantes.

Confira as fotos do evento: