Perspectivas para 2026 na Reconexão com as Periferias
por Artur Henrique, Barbara Martins, Danilo Morais, Darlene Testa, Paulo Ramos e Ruan Bernardo – equipe Reconexão Periferias
A Reconexão Periferias, em 2025, atuou em temáticas estratégicas para a conformação de um arcabouço de conhecimento e formulação sobre as periferias, especialmente as relacionadas à violência e à segurança pública, ao trabalho informal e suas consequências, combinando as desigualdades e as questões ambientais à cultura de participação popular.
Pautas que afloraram diversas questões que são prioritárias para um partido de trabalhadores, que, após 45 anos de existência e com tantas e profundas transformações no mundo do trabalho e na agenda política brasileira, e nos levaram a aprofundar a compreensão de como elas se manifestam nas periferias e como a classe trabalhadora periférica tem encontrado alternativas de sobrevivência.
A chegada de 2026 se dá em um contexto de profundas transformações sociais, políticas, tecnológicas e econômicas no mundo com impacto direto nas periferias brasileiras. O novo patamar de conectividade das pessoas, propiciado pela internet e mídias sociais, tem contribuído – de forma paradoxal – tanto para o fortalecimento da solidariedade como para a explosão de manifestações de ódio de todo o tipo, teorias da conspiração e fakenews, envolvendo igrejas, escolas e empresas, e agora, em grande parte, impulsionados pela eleição de Donald Trump e seu discurso sexista, xenófobo e belicista.
Esses territórios e seus sujeitos, historicamente marcados por desigualdades, tornaram-se também polos de inovação cultural, de protagonismo comunitário e de novos arranjos econômicos. O debate sobre a reconexão com as periferias ganha centralidade tanto na formulação de políticas públicas quanto na atuação de organizações da sociedade civil ou na redefinição de estratégias de desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, a Reconexão Periferias priorizará para atuação em 2026, o fortalecimento da organização e a presença do Partido dos Trabalhadores nas periferias, nas cidades, nos campos e quilombos do Brasil; contribuir na atualização programática, a partir da formulação de propostas de políticas públicas e ampliação da rede de articulação da Reconexão Periferias como também na maior articulação e aproximação do Reconexão com o PT, com o objetivo de formar, difundir o conhecimento produzido e continuar dando voz e espaço para os atores das periferias.
Para isso, devemos trabalhar com a concepção da periferia na centralidade do debate estratégico da política. Há um deslocamento cultural e simbólico nos últimos anos, ampliando a visibilidade das periferias como espaços de produção cultural, empreendedorismo e novas linguagens digitais. Como essa tendência deve se manter, com o fortalecimento dessa centralidade cultural, não como exceção, mas como um vetor permanente de expressão social, em que coletivos culturais, mídias independentes e artistas periféricos redefinem narrativas e pautas, produzindo um diálogo mais direto com públicos antes distantes, potencializar essa reconexão com esses territórios e sujeitos implica reconhecer essa potência: não como “beneficiários”, mas como protagonistas.
Por outro lado, sem infraestrutura e mobilidade, não há expressão visível e factível dessa reconexão, apenas superficial; portanto, pautar e debater os desafios relacionados ao transporte, ao saneamento, à energia, à conectividade digital e à moradia continuam sendo essenciais. Aí, entramos num espaço fundamental que é debater a cidade que queremos, uma cidade de bem viver, e, como expressão concreta, as diversas questões que se colocam na conformação dos planos diretores e da pouca participação popular nas suas definições estratégicas e prioritárias. Questões como a expansão de corredores de mobilidade integrados, a requalificação de áreas vulneráveis, incentivos à urbanização sustentável e ampliação do acesso à internet de alta velocidade são temáticas que possibilitam dialogar com a vida real do povo periférico das cidades e que constarão dos nossos programas.
Priorizar a reconexão com a juventude periférica como força estratégica é outra questão prioritária, pois a juventude representa uma das maiores concentrações de energia criativa e capacidade de transformação, e aí, podemos falar de atuação mais planejada em programas de formação tecnológica, acesso a economia digital, incentivo ao empreendedorismo comunitário, políticas de redução da evasão escolar e valorização de lideranças juvenis.
A persistência das chacinas e a letalidade policial que atinge preferencialmente a juventude negra impõe um desafio ético e programático incontornável para o nosso campo em 2026. É urgente denunciar que a lógica de “guerra” tem servido historicamente como pretexto para a suspensão de garantias constitucionais nas favelas e periferias, criando um estado de exceção em que a vida vale pouco. O enfrentamento a esse cenário exige reconhecer que o racismo estrutural é o motor dessa violência e que não haverá democracia plena enquanto o CEP e a cor da pele definirem quem tem direito ao devido processo legal e quem é alvo preferencial da mira do Estado.
Nesse contexto, a disputa pela segurança pública deve ser travada no terreno da Constituição Cidadã, reafirmando que a segurança é um direito fundamental, garantido pela oferta integrada de justiça e de proteção social, e não pela militarização do cotidiano. A “segurança cidadã” que defendemos pressupõe que a presença do Estado na periferia não pode se limitar à viatura que reprime, mas deve se materializar na escola de tempo integral, na iluminação pública, no posto de saúde e nos equipamentos de cultura. Garantir a lei e a ordem significa, antes de tudo, garantir que a Constituição de 1988 atravesse a ponte e vigore plenamente nos territórios periféricos, assegurando a inviolabilidade da vida e do domicílio de seus moradores.
Para o ciclo que se aproxima, reconectar-se com as periferias exige assumir a defesa intransigente da vida da juventude negra como pauta central para o desenvolvimento do país. Precisamos construir uma nova governança federativa que invista massivamente em inteligência e investigação para desmantelar o crime organizado, retirando o foco do varejo de drogas que encarcera e mata a ponta mais frágil da corda. A nossa tarefa é substituir a narrativa do medo, explorada pela extrema-direita, pela narrativa de direitos, provando que é possível construir territórios de paz onde os jovens negros sejam vistos como potência de futuro e inovação, e não como estatística de óbito.
E de importância igual, a economia das periferias, com novos modelos e oportunidades, em que as periferias têm impulsionado modelos econômicos próprios: do comércio local ao setor criativo, da economia de plataformas à produção artesanal. O Reconexão pretende aprofundar o debate sobre o crescimento de micro e pequenos negócios, a digitalização de empreendedores e as redes colaborativas de crédito e de produção.
Enfim, as temáticas e prioridades de 2026 deverão se articular à uma visão de reconexão política e maior participação social desses sujeitos periféricos, com o estímulo à escuta e diálogo para participação e fortalecimento de conselhos comunitários, iniciativas de orçamento participativo revisitado, comunicação direta com lideranças locais e a implementação de plataformas digitais de consulta pública.
O processo de reflexão e formulação a ser estabelecido em 2026 pressupõe debater modelos de gestão pública e social que valorizem a participação contínua, e não apenas episódica, buscando a reconstrução de pontes, baseadas no trinômio inclusão, inovação e justiça social. Mais do que uma agenda, é um chamado ao reconhecimento, ao investimento em trajetórias, talentos e à participação, fortalecendo relações e aspirações de um futuro mais compartilhado e solidário; ao invés de segregação socioespacial, caminhos para um ciclo de dignidade. Nossa ação é um chamado ao diálogo e à construção coletiva, porque a estrela, o vermelho da nossa bandeira, o vermelho da luta, do pulsar da indignação presente em nossos corações é o que nos move para um Brasil de reconstrução e eliminação das desigualdades.




