Por Rose Silva
A Associação Elas Existem-Mulheres Encarceradas atua em prol das mulheres que compõem o sistema penitenciário e das adolescentes do sistema socioeducativo do Rio de Janeiro.
O foco principal de atenção da associação são grávidas, puérperas e lactantes em privação de liberdade; presas provisórias; mulheres transexuais presas; ingressas e egressas do sistema prisional; mulheres em privação de liberdade assistidas pelas unidades jurídico-manicomiais; adolescentes em privação de liberdade; estrangeiras em privação de liberdade; e mulheres negras encarceradas.
A advogada e mestra em segurança pública Carol Bispo, fundadora e diretora-presidenta da organização, lembra que começou a atuar quando ainda morava em Guadalupe, no subúrbio carioca. Em 2014 saiu o primeiro relatório sobre mulheres no sistema prisional, demonstrando que o número havia crescido absurdamente desde o ano 2000. No Rio de Janeiro, de 2013 a 2014, passou de pouco mais de mil mulheres para 4600. Esse crescimento levou Carol a querer mostrar às pessoas que elas existem. “Na minha cabeça, acabar com o sistema prisional, um dos valores da nossa organização, é fazer com que essas mulheres não voltem. Pode ser que elas não fiquem conosco eternamente, nem queremos isso, pretendemos ser ferramentas”, disse.
“Quando Elas Existem iniciou, em 2016, a maioria das pessoas morava na Zona Sul. A gente começou lá na OAB, como um grupo de trabalho e pesquisa. Quando acabavam as reuniões, eu ainda estava dentro da Avenida Brasil, no ônibus, indo para casa, e as meninas estavam nas suas próprias casas. A primeira dificuldade foi entender o contexto social e saber que eu não tinha tempo”, relatou.
Hoje sete vezes pós-graduada, disse que ainda é vista como a menina de Guadalupe e que uma das principais dificuldades é ser alguém que montou um pequeno grupo e não é vista como pessoa branca. “ ‘Como assim você estuda? Como assim você está falando e quer trazer dinheiro?’ Quero trazer dinheiro, porque tudo o que tenho pra mim eu quero trazer para a meninas”.
A agente de leitura da organização e egressa do sistema prisional Rafaela Rosas afirma que luta todos os dias com o estigma de ser travesti. “É complicado porque para nós é bem difícil o acesso a informações. Então a gente aceita abuso de poder, ser xingada na rua. Então, quando as informações vão chegando, você consegue perceber o que está errado”.