Além das Grades: voluntários atuam em defesa da vida digna nas prisões
O Além das Grades, grupo de extensão popular vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é uma entidade voltada à defesa dos direitos humanos que desde 2012 atua na assessoria jurídica voluntária, articulação acadêmica para debater e propagar conhecimentos, produção de textos e conteúdos úteis às causas apoiadas, abordagem e estudo do Direito e do contexto social sob viés crítico e humanista.
Integram e participam das atividades do Além das Grades majoritariamente estudantes de direito (vinculados ou não à UFPE) e advogados, que oferecem assessoria jurídica, redação de peças e atuação ativa nas instâncias de Justiça pertinentes. Contribuem também com estudantes e profissionais de qualquer área, ou qualquer pessoa que se sinta motivada. Atualmente, o grupo reúne cerca de 110 voluntários atuantes nos projetos.
A advogada e coordenadora discente do coletivo Letícia Gonçalves afirma que a história do Além das Grades é muito bonita, pautada na resistência e voltada aos direitos humanos. “A gente começou em meados de 2013, dentro da Universidade Federal de Pernambuco, só com estudantes da Federal depois crescemos, selecionamos outros voluntários. O que a gente analisa nessas seleções é realmente a intenção da pessoa em trabalhar com o nosso objeto, que são os direitos humanos. Gosto de dizer que atuamos na frente das câmeras e atrás também, porque não estamos somente dentro do sistema penitenciário, trabalhamos também com os egressos”, diz.
Nas unidades prisionais, o Além das Grades age como uma extensão da Defensoria Pública, em parceria com a Secretaria Executiva de Ressocialização do Estado de Pernambuco (SERES), que autoriza a entrada dos voluntários do projeto. “A gente leva comida, a gente leva brinquedo (para as atividades nos dias de visitas das crianças), doações. Tudo isso precisa de uma logística interna muito grande, inclusive de carros. Dois meses atrás fizemos uma campanha de arrecadação para uma atividade recreativa de doação também de itens de higiene pessoal no Instagram e conseguimos em torno de R$ 1.200 revertidos em compras. Cada mutirão beneficia em torno de 400 a 500 pessoas”, conta Letícia.
Outro foco do coletivo é selecionar professores, psicólogos, enfermeiros que fazem um trabalho educacional, atualmente localizado no centro de saúde penitenciário, por meio de atividades educativas que ajudam na socialização e no autoconhecimento dos presos.
Letícia acredita que a mudança das condições indignas que atualmente negam os direitos humanos das pessoas encarceradas no Brasil está diretamente ligada à conscientização e mobilização da sociedade. “Foi passado socialmente o estigma de que a prisão é para o outro, um estereótipo específico de pessoa, um tipo específico de vida, mas a realidade não é essa. Quando eu comecei a atuar no Além das Grades, em uma das minhas primeiras idas, eu chorei muito ao chegar em casa. Porque peguei alguns casos para análise de pessoas que não deveriam estar lá dentro, que não cometeram crimes e estavam cumprindo pena há mais de dez anos. Os presídios, tanto em escala nacional quanto internacional, não são para bandidos, como a maioria da população pensa, são para os opositores. Então aquele lugar também é nosso. A gente só precisa pisar em falso”, pontua.
“A forma que a gente tem de combater as péssimas condições dos presídios, desumanas, é colocando a mão na massa. É preciso que as pessoas tenham isso em mente e ajudem, pois é como falei no início, quem trabalha com direitos humanos sabe que é dar a cara a tapa, é acreditar realmente num mundo melhor, é acreditar no seu projeto, acreditar que aquilo que está sendo feito vai ser efetivo para transformar”.
Parcerias do coletivo Além das Grades:
Centro de Saúde Penitenciário – CSP
Defensoria Pública da União – DPU
Defensoria Pública do Estado de Pernambuco – DPPE
Grupo de Trabalhos em Prevenção Positivo – GTP+
Plataforma Brasileira de Política de Drogas – PBPD
Secretaria Executiva de Ressocialização do Estado de Pernambuco – SERES