Caderno Chacinas e Policiamento teve lançamento em Belém
Por Rose Silva
A quarta Jornada de Territorialização 2024 foi realizada em 15 de junho, em Belém (PA), pela Fundação Perseu Abramo e o Projeto Reconexão Periferias, em parceria com a Fundação Friedrich Ebert Brasil (FES) e o Diretório do PT Estadual do Pará.
Durante o evento, foi lançado o caderno Chacinas e Policiamento: os casos de Belém e Complexo do Salgueiro, que aprofunda dados da pesquisa “Chacinas e a politização das mortes no Brasil”, realizada desde 2018 pelo Projeto Reconexão Periferias. A Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas e o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec-RJ) são parceiros na realização da segunda fase da pesquisa.
O levantamento identificou 786 chacinas reportadas em jornais do Brasil de 2011 a 2020. Entre eles, 111 casos são motivados por policiamento, envolvendo agentes dentro e fora de serviço. Também foram identificados entre outras motivações noventa casos nos quais há suspeita da participação policial. A Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas e o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec-RJ) são parceiros na realização da segunda fase da pesquisa.
Participaram da abertura da Jornada a socióloga e pesquisadora do projeto Sofia Toledo, o coordenador de projetos da Fundação Friedrich Ebert (FES) Willian Habermann, a vereadora de Belém Beatriz Caminha (PT-PA), a secretária estadual de Formação do PT-PA Euci Ana Gonçalves e a presidenta da CUT Pará Vera Paoloni.
A coordenadora do estudo, Sofia Toledo, destacou que foram coletadas informações como quantas pessoas morrem nas chacinas, que tipo de encaminhamento jurídico é dado e quem é ouvido nas entrevistas. “A maneira como a mídia reporta esses casos acaba gerando mais violência para as pessoas vitimadas e os territórios. Ainda que as vítimas não tenham antecedentes criminais, aparecem como ‘suspeitas de envolvimento’, sempre em uma narrativa que tenta justificar e legitimar essas mortes”, afirmou.
O advogado e mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará Alexandre Julião foi parceiro na segunda fase da pesquisa e introduziu o estudo de caso da Chacina de Belém. “A pesquisa discute como a urbanização afeta as populações periféricas e o controle social vem acontecendo a partir da realização de mortes coletivas em nossos territórios. Ajuda a pensar também como fazer uma agenda forte de denúncia para que a gente possa contribuir com formas de incidência política para tentar desbaratinar esse tipo de atuação”, afirmou.
O professor da Universidade Estadual do Pará (Uepa) Aiala Couto ressaltou a importância da pesquisa para que saia dos coletivos uma construção capaz de resolver o problema.
Susana dos Anjos Amaral, que é mãe de uma das vítimas da Chacina de Belém, criadora do Instituto Marcinho, disse que acreditava na polícia. “Eu achava que eles iam dizer quem matou meu filho. Eu andava todo dia para o IML, delegacia de homicídios, perguntando, mas ninguém dizia, ninguém respondeu. O Estado matou meu filho em 5 de novembro, matou meu filho um ano e meio depois e me mata todos os dias com a ausência dele”, disse.
Justiça climática – A segunda mesa, Violência e Justiça Climática nas Periferias, debateu a pluralidade das periferias a partir do livro Periferias no Plural e teve a participação de Willian Habermann (FES); da arquiteta e professora da Universidade Federal do Pará Roberta Menezes; do membro do Coletivo de Juventude do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) Gustavo Pereira; e da vereadora Beatriz Caminha (PT).
Para Roberta Menezes, quando se discutem intervenções nas periferias e qualificação dos territórios é preciso entender o contexto. “Nenhum aparato estatal, considerando as várias secretarias públicas de saneamento, habitação, está preparado para lidar com isso”, afirmou.
Segundo Gustavo Pereira, vivemos em um cenário em que o neoliberalismo foi tão astucioso que conseguiu se infiltrar não somente nas instituições, mas também nos partidos da esquerda e em nossas imaginações. “Qualquer política que consiga realmente encarar a conjuntura em que a gente vive aparece supostamente como muito radical, senão inviável. Passamos por um negacionismo climático de extrema direita, mas dentro do campo da esquerda esse tema ainda aparece como pauta secundária, em eventos pontuais. A gente não vai conseguir avançar em nenhum direito social progressista se estivermos com uma cidade alagada”, afirmou.
A vereadora Beatriz Caminha disse que a COP não é um evento que trará os movimentos sociais e as periferias, pois se trata de um momento do capitalismo. “Hoje no Brasil não temos planos de adaptação climática para as cidades pequenas, médias ou grandes. Nem temos fóruns de discussão regimentais sobre clima. A gente já acreditou que o problema era a falta de um projeto, mas hoje a gente sabe que é esse o projeto. Não ter projeto para as periferias, para aumentar a resiliência das famílias mais pobres, não ter projeto para as mães poderem sair de lugares em que o clima será muito afetado. Não ter projeto é o projeto do estado capitalista imperialista”.