Primeira mulher negra a ser eleita vereadora em Araraquara, começou seu mandato em 2017. Foi reeleita em 2020 com a maior votação entre os vereadores e vereadoras que tentaram reeleição. Foi também a mais jovem. Aos 27 anos, ela alçou um voo maior e foi eleita deputada estadual em 2022.

Thainara Faria garante que vai manter na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo as mesmas prioridades que construiu como vereadora: mandato aberto à participação popular e foco em moradia, alimentação, saúde e educação para as camadas de menor poder aquisitivo e as menos assistidas.

Para se eleger deputada estadual, essa advogada prounista abriu sua campanha para a participação popular, com três plenárias que definiram o planejamento dos futuros quatro anos de mandato. A política e a vontade de participar ocuparam o imaginário dela por conta da mãe, que a levou para participar de atos de campanha eleitoral, quando ainda era menina.

“Eu percebi que também podia ser candidata”, lembra. Naquele momento ela notou também que os políticos costumavam sumir após as eleições. “Então resolvi me candidatar para representar uma parcela da sociedade que nunca tinha sido representada”, conta. Thainara vai ocupar um espaço marcado pelo preconceito. No último mandato, a assembleia paulista registrou casos rumorosos de assédio sexual e racismo.

Acompanhe:

Quem é você?

Sou Thainara Faria, 27 anos, advogada prounista com pós-graduação em Direito Constitucional e especialização em economia, cursos que fiz para aperfeiçoar meu exercício como vereadora. Sempre quis estar muito preparada para atender as necessidades do povo. Eu sou uma mulher preta, jovem, bissexual, do interior do Estado de São Paulo, gosto de praticar esportes, amo a função pública que exerço, gosto muito de estar com minha família, com meus amigos e gosto muito de estudar.

De seus planos para o mandato, acha que tem conseguido cumpri-los?

Desde que tomei posse em 2017 eu sempre gostei de planejar os mandatos junto às pessoas. Eu fiz o planejamento do primeiro mandato, do segundo mandato, que se tornou um plano de legislatura, o primeiro que Araraquara já viu. Fiz de maneira coletiva, com três plenárias temáticas, digitais, para que todas as pessoas pudessem participar, para a Assembleia Legislativa do Estado. A gente conseguiu cumprir nossos projetos e planos para o mandato, porque a minha maior intenção era estar próxima da população, e isso a gente desenvolveu. Gabinete na rua, toda a segunda-feira eu faço visitas e fiscalização nos bairros. Nós conseguimos aprovar 27 projetos de lei. Eu também trouxe mais de R$ 8 milhões em emendas para Araraquara, sendo R$ 2 milhões só em emendas de combate à Covid, R$ 1 milhão para construir uma unidade de saúde unidade-escola, mais R$ 500 mil que portunizaram a reforma de um centro de referência, além de outras emendas importantes. Fui membra da Comissão de Legislação, Redação e Justiça, para ajudar nas questões legais dos projetos na Câmara, fui procuradora-especial da Mulher na Câmara dos Vereadores, presidenta da Escola do Legislativo, então, acredito que sim, a gente conseguiu cumprir tudo aquilo que era plano para o nosso mandato.

Qual a prioridade número um?

A prioridade número um sempre foi garantir teto, alimento e educação para todas as pessoas, em todas as idades. Saúde também foi importante, mas eu sempre colocava como orientação no gabinete que ninguém ia sair dali sem ter onde dormir, o que comer e onde estudar e sem atendimento em saúde. Nossa prioridade são esses eixos que sustentam a vida do ser humano e que estão previstos na Constituição Federal.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Como você despertou para a política?

Eu entrei para a política porque minha mãe sempre teve dois empregos, e, não tendo onde deixar a mim e a meus irmãos, ela nos levava para campanhas políticas, em que ela era cabo eleitoral. E aí, vendo, em 2008, pela primeira vez uma mulher candidata a prefeita, eu percebi que eu também poderia ser candidata. E os candidatos com que a gente trabalhava sempre sumiam, havia um sentimento de abandono da população por parte dos políticos, então resolvi me candidatar para representar uma parcela da sociedade que nunca tinha sido representada.

Tanto que eu fui a primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal de Araraquara. Então, sempre tive como ideal a defesa das pessoas em condições de vulnerabilidade, das pessoas na periferia. É assim que fizemos e fazemos até hoje. O meu grande mote foi ter representação real do povo e não abandonar as pessoas.

Quais setores a apoiam e quais não apoiam?

Eu tenho muito apoio popular. Nosso mandato se sustenta no povo, especialmente pessoas em extrema vulnerabilidade e que entendem o papel que nosso mandato exerce. Os setores mais conservadores costumam não gostar e fazem oposição. Todos aqueles que não acreditam na liberdade das pessoas, nos direitos de todos, são os que nos fazem oposição.Agora, todos que acreditam em equidade de oportunidades são os que mais nos apoiam.

Destaque algum momento marcante pra você nos mandatos, positiva ou negativamente.

Posso enumerar várias situações extremamente emocionantes no nosso mandato. Eu acredito que tudo aquilo que conquistamos em prol da população, por iniciativa e pedido da população, são momentos exitosos. Como a lei que nós aprovamos de inserção da mulher acima de 45 anos no mercado de trabalho. A lei que aprovamos também de inserção dos egressos do sistema prisional no mercado de trabalho. As emendas que nós trouxemos para nossa cidade. A entrega do posto de saúde. Há diversos momentos que marcaram positivamente nossa trajetória. E um momento bastante ruim foi o período de muita perseguição, no início de mandato, quando me chamavam de vagabunda, falavam do meu cabelo, das roupas que eu usava. A violência política de gênero se faz muito presente no dia a dia, mas no primeiro ano de mandato foi mais forte, com perseguição inclusive da mídia local da cidade. Hoje temos um pouco menos de perseguição da mídia local, mas a internet, as redes sociais, continuam com muitos e muitos haters, pessoas que não acreditam que eu deva ocupar o espaço que eu ocupo.

O que você diria para os jovens que desejam entrar para a política?

Eu digo: venham. Participem. Nós precisamos de pessoas jovens, mas precisamos sobretudo de renovação, que vem acima da juventude. Porque a renovação está ligada a práticas e ideias, e não à idade. Nós precisamos de pessoas que pensem diferente, que estejam alinhadas com o mundo atual. Venham. São fundamentais para dialogar com a realidade e fazer com que a política seja um espaço de todas as pessoas, realmente.

Como conquistar mais jovens para os ideais de esquerda?

É preciso falar com os jovens que são atingidos pelas políticas públicas que os ideais de esquerda defendem. Então eu dialogaria muitíssimo com os jovens beneficiados por programas educacionais como ProUni, FIES, que tivessem acesso a universidades públicas. Conversaria muito com pessoas da periferia que foram atingidos por programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida, conversaria com os jovens que, por intermédio de suas mães, tiveram incremento de suas rendas pelo Bolsa Família. Essas pessoas se convenceriam de que os ideais de esquerda são aqueles que protegem as pessoas que de alguma forma foram alijadas de seus direitos. Com certeza, isso traz luz ao debate, para que os jovens se alinhem àquilo que é a defesa fundamental da vida: teto, educação, alimentação e saúde.