Por Xiaomeng Kang e Dingding Chen* para The Diplomat

Tradução de Artur Araújo

Enquanto grande parte do mundo se esforça para evitar que novas ondas de coronavírus impeçam a frágil recuperação da recessão, a economia da China parece estar atingindo seu ritmo usual. Na verdade, recuperação econômica pode não ser um termo adequado para descrever o boom econômico do país, já que no caso da China a pandemia causou algo mais próximo de uma estagnação do que de uma recessão.

Com a sociedade voltando ao normal, a inovação e a digitalização pré-existente estão reforçando o crescimento econômico. O choque da pandemia reforçou a tendência ao investimento em digitalização e inovação na China, e seu impacto acelerado foi sendo gradualmente liberado com a economia voltando ao normal. Aqui, primeiro analisaremos por que a economia da China continua crescendo, mesmo depois de sofrer o choque da Covid-19, e então abordaremos as novas direções econômicas na China e seus desafios no futuro próximo.

A China registrou crescimento do PIB de 4,9% no terceiro trimestre de 2020, em comparação ao ano anterior, levando o crescimento nos três primeiros trimestres para 0,7% em base anualizada, de acordo com dados divulgados em 20 de outubro pelo National Bureau of Statistics. As importações e exportações cresceram rapidamente em setembro, com as importações aumentando 13,2% e as exportações, 9,9% em relação ao ano anterior. Conforme observado no comércio internacional, a pandemia atingiu severamente os países desenvolvidos, causando uma redução acentuada no grau de sua centralidade nas redes de comércio, mas não afetou a posição central da China. Além disso, a China mantém seu 14º lugar nas economias de melhor desempenho no Índice Global de Inovação (GII) 2020, divulgado em 2 de setembro, de acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual da ONU (WIPO). O Diretor-Geral da WIPO, Francis Gurry, disse que a pandemia de Covid-19 em geral parecia estar estimulando uma “aceleração de tendências pré-existentes”, prevendo que uma das tendências que podem ser aceleradas pela pandemia é o movimento em direção à Ásia.

Shenzhen é considerada o marco da reforma da China há 40 anos e agora é considerada um dos principais centros de inovação do mundo. Sua ascensão é um estudo de caso para o contínuo boom econômico da China.

Primeiro, a reforma de Shenzhen é apoiada pelo governo central. No 40º aniversário do estabelecimento da Zona Econômica Especial em Shenzhen, o presidente Xi Jinping anunciou o apoio à reforma piloto da cidade com autorização abrangente, com requisito de aprofundamento generalizado das reformas, de ampliação da abertura, de modernização do sistema de governança e de promoção ativa do desenvolvimento de Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau.

Em segundo lugar, a força de trabalho jovem e dinâmica fez de Shenzhen um ponto focal de intercâmbio e crescimento para uma nova geração de inovadores chineses. Shenzhen tem a maior proporção de população de “sala de máquinas” [engine room population, trabalhadores na faixa dos 20 aos 40 anos de idade] de qualquer cidade do mundo. Terceiro, as conexões regionais construíram Shenzhen como o locus para a reforma e abertura da China.

Como uma vitrine da história de sucesso econômico da China, é revelador que Shenzhen seja agora um centro de inovação e tecnologia. Centrado em conectividade digital, inovação e empreendedorismo, e troca e desenvolvimento de talentos em tecnologia, a primeira reunião do comitê de implementação da Smart City Initiative (SCI) foi realizada por Cingapura e Shenzhen em 17 de junho de 2020. A Covid-19 acelerou o ritmo de digitalização em Cingapura e Shenzhen e tornou a conectividade digital entre duas partes "ainda mais pertinente". As duas cidades chegaram a um acordo sem torno de oito memorandos de entendimento (MEs) relativos a um maior acesso a oportunidades de mercado na Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau (GBA) e no Sudeste Asiático.

O governo chinês tem desempenhado um papel significativo no aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento e governando o mercado de inovação. A China continuou seu longo período de aumentos percentuais de dois dígitos em gastos com P&D em 2019. Os gastos totais públicos e privados com ciência e tecnologia em 2019 aumentaram 12,5% em relação ao ano anterior, para 2,21 trilhões de renminbi chineses (US$ 322 bilhões), totalizando 2,23 por cento do PIB. Para efeito de comparação, os Estados Unidos gastaram 2,83% do PIB, os países da OCDE gastaram coletivamente 2,38% do PIB, Israel e a Coreia do Sul gastaram 4,9% e 4,5%, respectivamente, em 2018. A meta de gastos de 2,5% do PIB em P&D em 2020 foi definida no mais recente Plano Quinquenal da China e no Programa de Médio e Longo Prazo de Quinze Anos para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia.

Como em outras economias do Leste Asiático, a intervenção governamental tem sido um componente importante da evolução da China. Como afirma Robert Wade, as evidências dos países do Leste Asiático nos mostram que o governo pode, em algumas circunstâncias, orientar o mercado para produzir um desempenho industrial melhor do que um mercado livre. Em 22 de setembro, Xi presidiu um simpósio de cientistas enfatizando que devemos fazer a ciência e a tecnologia avançar em amplitude e profundidade para encontrar a vanguarda da ciência e tecnologia mundial, o principal campo de batalha da economia, das principais necessidades nacionais e pela vida e saúde das pessoas. O governo central dá grande ênfase à reforma do sistema de inovação científica e tecnológica e ao aprimoramento da ecologia da inovação.

“A solução de fundo para domínio pleno das tecnologias não é simplesmente uma questão científica, um produto inovador, mas o elo fraco no mecanismo geral de operações geral da China no campo de sistemas de inovação científica e tecnológica e de desenvolvimento industrial”, afirmou Lan Xue, diretor do China Center for Science and Technology Policy, em comunicado à conferência China-U.S. Physics Examination and Application em 18 de outubro. Leva tempo para construir um moderno sistema de inovação moderno e para acumular capacidade de inovação industrial, enquanto o tempo sempre foi ignorado na marcha infinita da tecnologia.

*Xiaomeng Kang é assistente de pesquisa no Instituto Intellisia e Dingding Chen é o presidente do Instituto Intellisia em Guangzhou, China. Texto original aqui.