Adão Villaverde; Antonio Elias; William Nozaki. Tradução de Wilson Jr Original em https://www.nodal.am/2021/12/brasil-ciencia-tecnologia-e-innovacion-y-la-sociedad-del-conocimiento/?fbclid=IwAR0RX60zK20tJJmkLp622ILtdAcgfRyMHN_uZfnU3r4pmXbPs5--8nZ3ZUY
Ao definir as atuais bases para o desenvolvimento da economia brasileira, amparado por uma agenda neoliberal tardia e também com base em um ajuste fiscal ortodoxo, o atual governo impôs fortes restrições à capacidade do país de responder aos desafios impostos pela crise econômica, agravada sobretudo pela pandemia, com graves consequências sanitárias e sociais.
É o que o "Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil", organizado pela "Fundação Perseu Abramo", indica como contribuição ao programa eleitoral do presidente Lula, que em importante passagem afirma: "Um país que não defende sua soberania acaba guiado por interesses judaicos, ele se torna incapaz de desenvolver políticas internas para promover seu desenvolvimento…. Sem soberania não tem políticas de desenvolvimento, industrialização, ciência e tecnologia. Sem soberania, só existe dependência econômica, geopolítica e tecnológica”.
Em nossos governos geramos um novo tipo de relação entre Estado, centros de pesquisa, empresas e sociedade (Hélice-Quádruplo) marcada pela orientação estratégica de desenvolvimento sustentável, inclusão social e desconcentração de renda com crescimento vigoroso do emprego. Tudo isso permitiu promover mudanças na estrutura produtiva com competitividade e melhoria na estrutura social com distribuição, por meio de investimentos em recursos naturais; em infraestrutura econômica; em infraestrutura social; nos investimentos voltados ao mercado interno de consumo de massa e bens e serviços; e nos investimentos em reindustrialização na fronteira tecnológica, como bens de capital, farmacêutica, microeletrônica e defesa aeroespacial, entre outros.
As nações mais desenvolvidas têm no avanço da pesquisa e da inovação os alicerces para a construção de uma sociedade do conhecimento. A centralidade dessa agenda nesses países e em alguns países em desenvolvimento, nos últimos anos, vem introduzindo estratégias industriais e de CT&I com caráter de políticas de Estado de longo prazo, amparadas por incentivos em P&D, subsídios e uso do poder de compra do governo.
A perspectiva de ascensão e expansão da digitalização, com a disseminação da tecnologia 5G e da indústria 4.0, intensificou essa agenda, como evidenciado pelo manifesto franco-alemão por uma nova política industrial e de P&D para a Europa, que vem junto com o fortalecimento da manufatura articulado com o US Green New Deal, além das prioridades chinesas para inteligência artificial e o avanço dos semicondutores no mundo, especialmente nos países asiáticos.
A atual política de estado mínimo atrasa a construção do Brasil de amanhã e inviabiliza o avanço do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI). O modelo neoliberal desconstrói o objetivo de produzir ciência e promover a inovação, além de reduzir a possibilidade de o país usufruir dos benefícios do progresso técnico para amenizar os graves problemas de desigualdade social e possibilitar a conquista de novos mercados. A baixa taxa de investimento não só prejudica a competitividade da economia local, mas também pode levar ao surgimento de gargalos que inviabilizam um novo ciclo de crescimento.
Nessa perspectiva, vivemos um dos piores momentos da nossa história. A negação e o obscurantismo impõem um descrédito aos resultados da produção científica, que é acompanhado por uma redução drástica dos investimentos públicos; perda de recursos orçamentários do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que terá seu menor orçamento discricionário em anos; e o maior fundo de apoio à ciência e inovação foi reduzido, que é o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Em comparação com 2014, por exemplo, hoje diminui quase 6 vezes.
Além disso, a redução dos investimentos em saúde e educação, bem como em áreas estratégicas, fragiliza a formação de recursos humanos e o avanço da infraestrutura científica e de inovação. Estamos enfrentando uma redução drástica no desenvolvimento, subsídios e crédito, promovendo um grande retrocesso no SNCTI, que terá como consequência o sucateamento e degradação da infraestrutura construída com muitos aportes de recursos ao longo de muitos anos, até mesmo por vários governos.
Para que o sistema de CT&I retome o seu papel, é imprescindível dotá-lo de bases de financiamento adequadas, resgatando fundos estáveis com horizonte de desenvolvimento nacional. Como a ciência não é um processo de curto prazo, para sua manutenção é imprescindível uma visão política de Estado, não só de Governo, que coloque o conhecimento e os ativos intangíveis de nosso tempo, como uma alavanca para o crescimento econômico, transformando-os em valor. para as organizações e a sociedade.
Tudo isso para que possamos realizar nossa necessária reindustrialização, crescer, desenvolver, gerar empregos e nos incluir socialmente; acima de tudo para reduzir a pobreza e recuperar efetivamente uma economia sustentável, solidária, colaborativa e solidária e um país soberano.
Portanto, devemos ter em mente que sem ciência não há tecnologia, sem tecnologia não há inovação e sem inovação não há desenvolvimento.
(1) Engenheiro e Professor de Gestão do Conhecimento e da Inovação
(2) Economista e Pesquisador em Propriedade Industrial
(3) Professor Fundação Perseu Abramo