Por Ciro Barros, para a Agência Pública.
Akuanduba é uma divindade da mitologia dos indígenas Arara, que habitam o estado do Pará. Segundo a lenda, se alguém cometesse algum excesso, contrariando as normas, a divindade fazia soar uma pequena flauta, restabelecendo a ordem.
Foi dessa lenda dos Arara que a Polícia Federal (PF) tomou emprestado o nome que batizou a operação de investigação deflagrada em maio deste ano que mira o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o presidente do Ibama Eduardo Bim e outros agentes públicos e empresários do ramo madeireiro com suspeitas de irregularidades em processos de exportação de madeiras.
Agora, seis meses após a Operação Akuanduba, a Agência Pública traz novas informações sobre o quanto de madeira foi exportada e quais países e empresas receberam o produto durante os 15 meses em que vigorou a medida do Ibama (7036900/2020) que está no cerne da investigação da PF. A investigação aponta que as exportações de madeira foram facilitadas pelo despacho que tornou obsoleta uma Instrução Normativa (15/2011) que estabelecia que as exportações de madeira necessitavam de autorização específica do Ibama e previa procedimentos mais rigorosos para o controle de exportação, como inspeção de cargas por amostragem.
O despacho foi suspenso em maio por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Na decisão, Moraes afirmou que, de acordo com os trabalhos feitos pela PF com dados, depoimentos e documentos, as investigações apontariam “para a existência de grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”. Para Moraes, há suspeitas de participação do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do presidente do Ibama Eduardo Bim no suposto esquema.
Estão entre os investigados também funcionários nomeados por Salles no Ibama, além de empresas do ramo madeireiro, sobretudo as vinculadas às madeireiras da associação paraense Aimex (Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará).
174 mil toneladas para EUA e Europa
Segundo levantamento inédito da Pública, somente as madeireiras associadas à Aimex exportaram 174 mil toneladas de madeira desde o início do governo Bolsonaro – 57% dessas exportações (cerca de 100 mil toneladas) ocorreram na vigência da medida do Ibama.
A reportagem apurou que, entre fevereiro de 2020 e maio de 2021, as empresas vinculadas à Aimex comercializaram pelo menos 12,5 mil toneladas de madeira de espécies florestais consideradas ameaçadas pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), como, por exemplo, angelim-pedra, cedro-rosa, cerejeira, itaúba e garapeira.
Os dados foram obtidos em parceria com o Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (Clip) a partir da plataforma Panjiva, uma base de informações comerciais e inteligência de mercado mantida pela S&P Global. A pedido da reportagem, a equipe de dados do Clip agregou as informações de transações comerciais feitas pelas madeireiras associadas à Aimex.
O volume de madeira comercializado, segundo os dados da Panjiva, foi maior nos 15 meses em que vigorou o decreto do Ibama (de fevereiro de 2020 a maio de 2021) do que entre 2016 e 2019, quando 11 mil toneladas de madeira de espécies consideradas ameaçadas foram comercializadas pelas empresas.
Leia a reportagem completa: https://apublica.org/2021/11/4-anos-em-15-meses/