Outras Palavras
Desde o início da pandemia, as remoções aumentaram 310% no Brasil: foram quase 20 mil famílias despejadas até agosto de 2021. Outras 93 mil estão sob forte ameaça de reintegração de posse. Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas foram os estados que mais violaram o Direito à Moradia durante esta crise sanitária. Isso em um contexto em que o IGP-M, índice usado para a correção da maior parte dos aluguéis, bate recorde; o desemprego e a perda de renda flagelam milhões; e o auxílio emergencial é incipiente e limitado – e, sem alternativas, muitos acabam nas ruas ou em ocupações precárias, onde são alvos de reintegração de posse, remoções e ameaças.
Os dados são da Campanha Nacional Despejo Zero, formada em junho do ano passado, que reúne mais de 100 organizações, entidades, movimentos sociais e coletivos. O advogado popular Benedito Roberto Barbosa, que integra esta articulação além de atuar na Central dos Movimentos Populares (CMP) e no Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos (e militante ativo na resistência das ocupações), cita um exemplo do absurdo: um casarão ocupado na avenida 9 de Julho, em São Paulo, ocupado por diversas famílias de baixa renda, tem reintegração de posse marcada para o dia 11 de outubro, véspera do Dia das Crianças, sob o argumento esdrúxulo de “garantir a tranquilidade da vizinhança” de um bairro nobre paulistano. “Como é possível que as crianças estejam mais seguras na rua, do que neste Casarão abandonado?”, questiona.