Evaldo Stanislau

A resposta imunológica induzida em resposta à infecção pelo vírus da Covid ou pelas vacinas é um dos temas científicos mais sérios da atualidade e estudado em profundidade em diversas universidades pelo mundo. Quando vemos vídeos primários de pessoas que fazem um teste de anticorpos após tomar uma vacina e exigem revacinação porque não os desenvolveram, está clara a incompreensão do tema e, mais que isso, interesses que extrapolam a saúde. No caso de laboratórios de análise clínica, o interesse comercial é óbvio. Por isso temos que deixar claro alguns pontos.

  1. Existem dois tipos de resposta imunológica, diferentes, igualmente importantes e protetoras. Uma vem de anticorpos induzidos contra o vírus, denominada Humoral. A outra, é a imunidade de linfócitos, denominada Celular.
  2. Os testes comercializados observam apenas essa resposta de anticorpos, ou seja, não considera a imunidade Celular que é essencial na proteção como demonstra a Literatura Científica, e cuja aferição demanda métodos não comerciais.
  3. Considerando o que está exposto nos itens 1 e 2 e, mais, que a efetividade de uma vacina seja medida pelo seu impacto clínico ao reduzir formas graves e mortes pela doença (no caso a Covid), a OMS e a Sociedade Brasileira de Imunizações não recomendam nenhum teste comercial após a vacinação.
  4. Todas as vacinas em uso no Brasil têm demonstrado efetividade clínica, inclusive com publicações recentes nos mais renomados periódicos científicos do mundo, como o New England Journal of Medicine que mostrou o sucesso no Chile e reportes do Uruguai e do Brasil com a mesma evidência para a Coronavac, recentemente incluída, inclusive, no rol da Covax Facility da OMS.
  5. Nenhum país do mundo ou autoridade sanitária preconiza doses de reforço ou novos esquemas vacinais para enfrentar o desafio das novas variantes fora do âmbito de um estudo clínico.
  6. Obviamente, como ensina a história do desenvolvimento vacinal, novos esquemas posológicos, vacinação de reforço, esquemas heterólogos e novas vacinas surgirão. É necessário, entretanto, compreender que nesse momento cumpre vacinar o quanto antes, o quanto mais e de forma completa o maior número de brasileiros e demais cidadãos do mundo para reduzir a circulação viral com todas as vacinas disponíveis e autorizadas pelas agências reguladoras do mundo.
  7. Por ser amplamente conhecido também que nenhuma vacina é 100% eficaz em todos os seus objetivos, a manutenção de todas as medidas não medicamentosas de proteção (máscara, distanciamento, renovação de ar, higiene) segue como recomendação essencial e obrigatória aos vacinados e não vacinados, até que tenhamos um outro momento epidemiológico.

Evaldo Stanislau é medico infectologista do Hospital das Clínicas-USP