Às vésperas de o Brasil registrar 500 mil mortes por Covid-19, a CPI que investiga a gestão da pandemia avança “para uma seara que nós não imaginávamos que estaria por trás disso tudo que está acontecendo, que é a corrupção, a possibilidade de advocacia administrativa, de prevaricação, de alguém que se beneficia de toda essa política equivocada”, nas palavras do senador Humberto Costa (PT-PE), entrevistado do programa Observa BR da sexta-feira, 18 de junho. O programa foi mediado pela jornalista Mariana Jacob, da TV PT.
“Nessa terceira fase, a CPI vai se dar na busca dos documentos que nós solicitamos. É a partir dali que nós vamos encontrar provas de que houve também uma atividade de corrupção. Há coisas que ninguém entende. Por que o Ministério da Saúde, que tem expertise de décadas na realização de contratos internacionais, na aquisição de produtos, não esteve à frente da negociação das vacinas, e isso teve de ser feito por um integrante da Secretaria de Comunicação da Presidência?”, questionou Costa, que foi ministro da Saúde. “Por que num primeiro momento uma dose de vacina custava 10 dólares e, depois, passou a custar 12 dólares?”, insistiu.
Antes, o senador, integrante da CPI, já havia citado outra evidência de ganho financeiro em detrimento de vidas humanas. Costa afirmou que empresas fabricantes de remédios apontados pelo governo Bolsonaro como eficazes na prevenção da Covid-19 tiveram seus faturamentos ampliados em sete vezes. “Foram 52 milhões de comprimidos vendidos só nos balcões das farmácias”, disse ele, lembrando ainda que hospitais e clínicas particulares também prescreveram remédios como a cloroquina.
Portanto, argumenta o senador, ignorância ou negacionismo não bastam para explicar a estratégia adotada pelo governo federal desde o início da pandemia.
Na próxima semana, a CPI vai ouvir, entre outros depoentes, o ex-ministro Osmar Terra, apontado por Humberto Costa como o mentor da chamada imunidade de rebanho, estratégia que norteou as ações do governo desde o início. “A imunidade natural poderia até ser usada em algumas viroses simples, mas não diante de um vírus RNA, que sofre várias mutações. É uma decisão criminosa, é um crime com dolo eventual, assim como decidir dirigir alcoolizado e atropelar e matar alguém”, argumentou Costa, que afirmou ainda que a CPI já tem elementos em grande número para encaminhar denúncia ao Ministério Público contra o presidente e outros integrantes do governo.
O vídeo com a entrevista pode ser revisto aqui.