O capitalismo é como um pêndulo. Quando atinge um ponto extremo, tende a retornar em sentido oposto. O cenário internacional aponta para o retorno a uma fase de maior intervenção do Estado, especialmente depois da crise provocada pela pandemia de Covid-19. E o esgotamento do modelo prometido no Brasil pelo atual governo, e sua incapacidade de responder à crise, fazem crer que esse pêndulo histórico, também em terras brasileiras, começa a fazer o movimento de volta a uma política econômica desenvolvimentista com maior participação do Estado e fim de uma crença ingênua na capacidade de o livre mercado resolver tudo.
Essa figura do pêndulo foi empregada pelos três professores de Economia convidados do programa Pauta Brasil realizado no final da tarde da última sexta-feira, 21 de maio. Carlos Pinkusfeld Bastos, Fernando Mattos e Victor Leonardo de Araújo debateram, com mediação de Artur Araújo, da Fundação Perseu Abramo, o tema Desafios do Desenvolvimento no Brasil.
O trio faz parte do grupo de autores do recém-lançado livro “A Economia Brasileira, de Getúlio a Dilma – Novas Interpretações”. O programa Pauta Brasil, consequentemente, foi guiado em grande parte pelo conteúdo do livro.
Para Carlos Pinkusfeld Bastos, muitos sinais vindos de diversas partes do mundo mostram que o pêndulo se afasta novamente das ideias neoliberais. “O que a gente vê neste momento é o ano 1 do retorno do pêndulo”, diz. Cita como exemplo os Estados Unidos: “E não é só o Biden, não. O próprio Trump, com todos os seus problemas, havia proposto um plano de intervenção da ordem de 1 trilhão de dólares, só que na forma de parceria público-privada que não deu certo. Agora, o Estado vai colocar ele mesmo o 1 trilhão”.
Fernando Mattos abriu sua participação fazendo uma homenagem à Dilma Rousseff, ao Lula e ao Fernando Haddad, que segundo o professor são exemplos de luta pelo desenvolvimento econômico e social do Brasil. Outra figura que acabou por destacar foi Getúlio Vargas, sobre o qual escreveu um dos capítulos para o livro. “Havia uma intencionalidade de industrialização e desenvolvimento naquele período, e se enfrentou cenários externos bastante adversos”, disse Mattos, em referência à crise de 1929 e à Guerra da Coreia, eventos internacionais que marcaram os dois governos de Vargas.
O livro do qual participa o trio demonstra, em sua análise de um amplo arco de tempo, “que as crises no Brasil não são causadas por políticas fiscais frouxas, por populismos, por irresponsabilidade fiscal, como supõem os colegas ortodoxos, liberais ou neoliberais”, destacou o professor Victor Leonardo de Araújo. “E que nem os episódios de recuperação econômica estão ligados a ajustes fiscais, aperto na política monetária ou reformas de retiradas de direitos dos trabalhadores”, completou.
Mesmo no período da ditadura, lembrou Araújo, a retomada com Costa e Silva deu-se por uma “virada keynesiana”, com forte intervenção do Estado na condução da política econômica. Nos anos 1990, ainda segundo o professor, quando o pêndulo retornou para o ideário neoliberal, outro fracasso da promessa de prosperidade impulsionada pelo livre mercado: as privatizações.
Uma pergunta fica no ar, após o encerramento do programa: é possível controlar esse pêndulo de forma a impedir novas oscilações rumo a períodos de maior empobrecimento das populações e maior concentração de renda?
O vídeo do programa pode ser assistido aqui.