Por Thomas Piketty, publicado originalmente no Le Monde e na Carta Maior.
"A crise da Covid-19, a mais séria crise de saúde global em um século, força a repensar fundamentalmente a noção de solidariedade internacional. Além do direito de produzir vacinas e equipamentos médicos, é toda a questão do direito dos países pobres de se desenvolverem e cobrarem parte da receita tributária das multinacionais e bilionários do planeta que deve ser questionada. É preciso deixar a noção neocolonial de ajuda internacional, paga segundo a boa vontade dos países ricos, sob seu controle, para finalmente passar a uma lógica de direitos.
Vamos começar com as vacinas. Alguns argumentam (de forma imprudente) que seria inútil suspender os direitos de propriedade sobre patentes, porque os países pobres seriam incapazes de produzir as preciosas doses. É falso. A Índia e a África do Sul têm capacidade significativa de produção de vacinas, que poderia ser expandida, e suprimentos médicos podem ser produzidos em quase todos os lugares. Não foi para passar o tempo que esses dois países encabeçaram uma coalizão de cem países para exigir da OMC [Organização Mundial do Comércio] a suspensão excepcional desses direitos de propriedade. Ao se opor a isso, os países ricos não deixaram apenas o campo aberto para a China e a Rússia: eles perderam uma grande oportunidade de mudar de época e mostrar que sua concepção de multilateralismo não andava apenas em um sentido. Esperemos que eles recuem muito rapidamente."
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