Do The Intercept
O Brasil é aquele país que tem horror à fome, à ideia da fome, à possibilidade da fome. Não suporta pensar na sua proximidade: sabe que ela devasta o corpo, a dignidade, a vida. Mas o Brasil é também o país que está totalmente acostumado à sua presença, seja de forma real ou mediada: ela está no rapaz circulando perto dos carros e segurando um cartaz pedindo comida; na criança magra vista na matéria da revista; na campanha de arrecadação de alimento que mostra a família, de preferência nordestina, em frente a um casebre.
Os sentimentos circulam entre a revolta e uma desmobilizadora resignação: repetimos que aquilo precisa ser combatido, que é “uma vergonha”, que “o governo devia dar um jeito”, que “esse é o Brasil”. Todo esse horror geralmente tem um destino: no fim, a fome dos outros é um problema dos outros – a não ser que ela sirva para nos entreter, para respaldar reportagem especial ou para apresentador da Globo mostrar “a miséria” em rede nacional e assim posar de salvador da pátria. Falo já a respeito.
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