Por que negros e hispânicos proprietários de pequenas empresas foram tão duramente atingidos pela recessão pandêmica
Carlos Avenancio-Leon e Isaac Hacamo1
Tradução de Rafael Tatemoto
Original: https://theconversation.com/why-black-and-hispanic-small-business-owners-have-been-so-badly-hit-in-the-pandemic-recession-150818
A pandemia teve um grande impacto na Main Street [literalmente Rua Principal, expressão que designa áreas centrais de comércio] com milhares de pequenas empresas fechando nos EUA.
Mas, por pior que seja o cenário geral, para as empresas pertencentes a minorias o quadro é ainda mais sombrio. Uma pesquisa divulgada em 27 de janeiro pelo grupo de suporte Small Business Majority descobriu que quase 1 em cada 5 empresários negros e hispânicos esperava encerrar definitivamente seus negócios nos próximos três meses - uma taxa mais alta do que para proprietários brancos. Sua divulgação sucede a publicação de um relatório do Federal Reserve de Cleveland que sugeria que o impacto do coronavírus poderia ser duas vezes maior para empresas de propriedade de negros e hispânicos do que para empresas de propriedade de brancos.
Como estudiosos que pesquisam desigualdades raciais e empreendedorismo, sabemos que mesmo antes da pandemia, as empresas de propriedade de negros e hispânicos eram mais vulneráveis às crises econômicas. As empresas pertencentes a minorias tendem a ter níveis mais baixos de capital - o valor do patrimônio líquido em relação à dívida - do que as empresas de propriedade de brancos, tornando mais difícil para elas se protegerem contra crises econômicas inesperadas. Além disso, os negócios de propriedade de negros e hispânicos tendem a se concentrar em áreas e setores que foram especialmente afetados pela pandemia, como varejo e restaurantes.
Renda mais baixa, menos capital
A diferença de capital disponível para proprietários de negócios negros e hispânicos é em grande parte resultado de disparidades de longa data nas taxas de propriedade de imóveis de moradia.
Níveis mais baixos de propriedade de moradia entre negros e hispano-americanos comprometem sua capacidade de usar o valor da casa para iniciar ou manter negócios. Mesmo para aqueles que são proprietários de casas, as taxas de juros e os prêmios de seguros de hipotecas e os impostos sobre propriedade mais altos implicam que eles provavelmente terão menos riqueza doméstica à disposição para manter os negócios funcionando em tempos difíceis.
Os dados da Pesquisa de Finanças do Consumidor de 2019 [Survey of Consumer Finances] mostram que os proprietários de negócios brancos tinham quase cinco vezes mais saldo de valor em propriedade residencial que os negros e hispânicos. Ao mesmo tempo, as empresas pertencentes a minorias geraram dez vezes menos receita do que as de propriedade de brancos.
Em suma, isso significa que as empresas de propriedade de brancos normalmente têm mais liquidez para enfrentar uma queda acentuada nas receitas, como a que ocorreu durante a pandemia.
Declínio nos negócios
Para agravar o problema, há o impacto que a pandemia teve sobre clientes e consumidores de pequenas empresas.
Um grande número de empresas pertencentes a minorias opera em bairros com muitas populações minoritárias - as mesmas comunidades que foram afetadas de forma desproporcional pela pandemia, por meio da perda de empregos e da doença.
Isso, por sua vez, afeta a demanda por produtos e serviços fornecidos por pequenas empresas minoritárias, especialmente porque as recessões tendem a atingir as comunidades negras e hispânicas nos EUA com mais força e mais cedo.
Dados do site de análise SafeGraph mostram que o tráfego de pedestres em direção a empresas em bairros de minorias diminuiu mais acentuadamente do que em bairros de brancos. Pequenos negócios em bairros totalmente brancos não tiveram quase nenhuma queda no tráfego de pedestres durante a pandemia. Em contraste, pequenas empresas em bairros com 20% de composição minoritária viram um declínio no tráfego de pedestres de quase 40%.
Os setores nos quais as empresas pertencentes a negros e hispânicos tendem a se concentrar também contribuem para a disparidade racial nos encerramentos de negócios. Os números da American Community Survey mostram que os setores que têm sido particularmente vulneráveis à pandemia, como varejo e restaurantes, têm uma parcela maior de propriedade minoritária. Assim, não é surpresa que as perdas de empregos no início da recessão tenham sido maiores em setores com a maior participação de proprietários de empresas que integram minorias.
Assistência dirigida
As empresas de propriedade de minorias que estão em situação vulnerável também têm menos probabilidade de se beneficiar quando o governo oferece ajuda em uma crise.
E é isso que parece estar acontecendo durante a pandemia. O governo federal criou o Programa de Proteção ao Pagamento de Salários em abril passado para fornecer assistência a pequenas empresas afetadas pelos bloqueios por conta do coronavírus.
Administrado em duas rodadas, ofereceu mais de US$ 500 bilhões em empréstimos que poderiam ser perdoados se os recursos fossem usados para cobrir a folha de pagamento. Esses empréstimos forneceram uma tábua de salvação para muitas pequenas empresas.
Mas a pesquisa descobriu que a primeira rodada do pacote de estímulo foi distribuída de forma desigual, com a maior parte dos fundos repassados a empresas em bairros com baixa participação de residentes negros e hispânicos. O atraso na ajuda federal para proprietários de empresas que pertencem a minorias pode ter sido crítico, dada a grande fração de fechamentos de empresas que ocorreram nos primeiros meses da pandemia.
Para mitigar os efeitos desproporcionais dessa crise nas empresas de propriedade de minorias, acreditamos ser crucial que a administração Biden comece a direcionar mais ajuda às pequenas empresas para empresas negras e hispânicas e para as comunidades mais afetadas. A consequência de não garantir que a ajuda seja distribuída de maneira mais equitativa é mais sofrimento para a comunidade empresarial negra e hispânica.
1 Professores de Finanças na Indiana University