Tradução de Wilson Jr. para artigo de Madeleine Hoecklin, publicado em Health Policy Watch
Plataformas de resposta rápida, particularmente a plataforma de RNA mensageiro (mRNA), mudaram o cenário do desenvolvimento de vacinas, permitindo uma resposta rápida à pandemia de Covid-19, disse o Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) na segunda-feira (22/2).
Fauci, falando na abertura do Fórum Global de Pesquisa de Vacinas e Imunizações (GVIRF), coorganizado pela OMS, pela Fundação Bill & Melinda Gates e pelo NIAID, destacou as inovações em vacinologia que possibilitaram que o rápido desenvolvimento das vacinas contra Covid-19 fosse possível.
“Há uma série de novas tecnologias que agora realmente dominam nossa abordagem da Covid-19. Por exemplo, existe a imunização genética usando vacinas de RNA e DNA”, disse Fauci. “Estamos bem cientes dos sucessos, por exemplo, das vacinas de mRNA.”
Plataformas de resposta rápida são sistemas que podem ser adaptados contra diferentes patógenos. No caso das vacinas de mRNA, elas foram desenvolvidas ao longo de vários anos para tratar a gripe, a zika e a raiva animal e mostraram um alto nível de eficácia contra o SARS-CoV2.
As vacinas anti-SARS-CoV2 da Pfizer / BioNTech e da Moderna têm ambas mais de 95% de eficácia contra Covid-19 sintomática e quase 100% de eficácia contra sintomas graves da doença.
“Acho que é justo dizer que as plataformas de resposta rápida foram uma revolução na vacinologia em 2020 com a Covid-19”, disse Melanie Saville, Diretora de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas da Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI). “Elas podem ser desenvolvidas e preparadas para futuros surtos, epidemias e pandemias”.
Barney Graham, vice-diretor do Centro de Pesquisa de Vacinas do NIAID, acrescentou que, principalmente nos últimos 12 anos, “as novas tecnologias como biologia estrutural, engenharia de proteínas e rápida fabricação de plataforma melhoraram nossa capacidade de nos preparar e responder às ameaças emergentes,.”
Abordagem de protótipo de patógenos
Tanto Graham como Fauci descreveram a abordagem de protótipo do patógeno para a pesquisa de vacinas em prontidão pandêmica usada no NIAID. Isso se refere ao estudo de patógenos de um determinado grupo para construir a partir de experiências anteriores e usar estratégias para orientar o projeto de vacinas para vírus relacionados.
No desenvolvimento de vacinas para SARS-CoV2, projetos de vacinas com base na estrutura da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV), que está na família dos coronavírus, foram usados e "nos permitiu obter rapidamente uma vacina bem-sucedida, particularmente com [tecnologia]mRNA”, disse Fauci.
Com os avanços tecnológicos e o trabalho de P&D sem precedentes realizado no ano passado com a Covid-19, “acho que provavelmente avançamos uma década... com vacinas contra a Covid-19 sendo desenvolvidas em apenas 300 dias, enquanto normalmente, elas levariam vários anos, senão décadas”, disse Saville.
Linha do tempo do desenvolvimento da vacina de mRNA Covid-19
“Uma coisa a destacar [é] a velocidade com que passamos da avaliação do novo vírus, neste caso o SARS-CoV2, em 10 de janeiro de 2020, para iniciar um ensaio de fase um cerca de 65 dias depois, um ensaio de fase 3 tanto com a Moderna quanto com a Pfizer, no dia 27 de julho e agora tendo as duas vacinas já sendo administradas aqui nos Estados Unidos e em outros lugares. [Este é] o [processo] mais rápido na história da vacinologia, desde a identificação de um patógeno específico até a administração real de uma vacina”, disse Fauci.
Desafios com plataformas de mRNA
Embora a tecnologia de mRNA tenha tido grandes avanços, ainda há muito que se desconhece sobre esse tipo de vacina, incluindo que tipo de RNA usar e qual pode ser a durabilidade da resposta imune em longo prazo.
O desenvolvimento contínuo das plataformas de resposta rápida é necessário para se obter progressos com a Covid-19 e com futuras epidemias e pandemias.
“Em todos os casos, quanto mais robusta a plataforma, em termos de quais dados de segurança você obtém a partir dela, que tipo de perfil imunológico e, mais importante, o processo de fabricação – que muitas vezes é realmente o fator de limitação de taxa -- [melhores são]... os ajustes finos alcançáveis”, disse Saville.
A fabricação das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna é limitada e em grande parte centrada na Europa e na América do Norte.
Um mapa dos locais de fabricação de vacinas de mRNA Covid-19 em todo o mundo.
“O que realmente precisamos olhar no médio e longo prazo [é] ... como essa localização de fabricação pode ser muito mais compatível com a capacidade de fabricação regional”, disse Saville. “Olhar para a inovação em manufatura ... que poderia ser adequada aos países de baixa e média renda [é] algo que realmente precisa ser buscado.”
Inovações na manufatura
Embora inúmeras conquistas tenham surgido com a pandemia de Covid-19, ocorreram várias deficiências, particularmente no desenvolvimento e fabricação de vacinas.
“Não há dúvida de que a Covid demonstrou o potencial de desenvolvimento de vacinas e P&D, mas também expôs algumas lacunas muito importantes no sistema e [mostrou] o que acontece quando uma doença atinge o mundo inteiro ao mesmo tempo”, disse Selwyn.
Essas lacunas incluem o fornecimento limitado de vacinas garantidas para países de baixa e média renda; países de alta renda que encomendam grandes quantidades de vacinas para si próprios; a redução da capacidade de produção para outras doenças, que podem aumentar o risco de surtos; e a dependência de transferências de tecnologia.
“Na Covid, havia várias empresas com experiência bastante limitada na fabricação de vacinas e no fornecimento de vacinas por meio de licenciamento, [que estavam] planejando mais de 10 transferências de tecnologia em um único ano”, disse Casey Selwyn, diretor sênior de Desenvolvimento de Vacinas e Resposta em Saúde Global para Covid-19 na Fundação Gates, em um workshop que se seguiu à sessão de abertura. Normalmente, uma empresa pode realizar uma transferência por ano.
“Para maximizar o fornecimento global, precisamos ter maneiras inovadoras de facilitar e encorajar a transferência de tecnologia ... Uma transferência de tecnologia requer tempo, requer recursos e compartilhamento de know-how, não apenas propriedade intelectual”, acrescentou Selwyn.
A maneira mais eficiente de aumentar a produção e o fornecimento de vacinas a longo prazo é construir instalações de produção de vacinas “ever-warm” [sempre prontas para entrar em operação], que sejam multiplataforma e multifunções, com uma força de trabalho treinada, de modo que as instalações possam ser preparadas quando ocorrer um surto, propôs Selwyn.
Outra recomendação para inovar a manufatura global foi implementar um modelo de distribuição hub and spoke [centro e raios], o que criaria uma rede centralizada onde os produtos são recebidos em locais centrais antes de serem enviados diretamente para seus destinos.
De acordo com Selwyn, isso poderia aliviar a pressão das transferências de tecnologia e estabelecer um melhor alcance geográfico, criando um sistema mais flexível, acessível e econômico.
Como alternativa, aumentar a padronização de protocolos de fabricação e requisitos regulamentares - que podem incluir a rotulagem de produtos, serialização e design de protocolos – também pode melhorar a velocidade, flexibilidade e eficiência de custos.
“Provavelmente, um dos mais importantes conjuntos de inovações, conjuntos de lições e conjuntos de ações para o futuro é realmente continuar a buscar uniformidade e harmonização, especialmente para um conjunto de doenças e patógenos que requerem resposta rápida”, disse Anant Shah, Chefe de Novos Produtos para Vacinas Globais contra Covid-19 e Ebola na Merck.
“Temos que buscar uniformidade, flexibilidade e eficiência se quisermos continuar garantindo acesso equitativo global”, disse Shah.