A Carta IEDI de hoje aborda os principais pontos do recém-publicado Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial (WEF). Em sua 16ª edição, o relatório centra-se nos riscos e consequências da pandemia de Covid-19 para o aumento das desigualdades em termos de acesso a saúde, tecnologia e oportunidades de emprego e da fragmentação da sociedade.

O estudo se baseia na Pesquisa de Percepção de Riscos Globais (GRPS) realizada anualmente junto a 650 lideranças mundiais do WEF. A partir de uma lista de trinta e cinco riscos de alto impacto mundial, agrupados nas categorias de risco econômico, ambiental, geopolítico, social e tecnológico, os participantes indicaram o horizonte de tempo em que esses riscos poderão se tornar uma ameaça crítica para o mundo.

Entre as ameaças mais imediatas _ aquelas que são mais prováveis nos próximos dois anos _ se destacam os riscos sociais (como doenças, desemprego, erosão da coesão social etc), mas também riscos de falhas de cibersegurança, desigualdade digital, estagnação econômica prolongada, ataques terroristas e danos ambientais causados pelo homem.

No horizonte de 3 a 5 anos, os riscos econômicos aparecem com destaque. Incluem bolhas de ativos, instabilidade de preços, choques de commodities e crises de dívida. Aparecem também riscos geopolíticos, inclusive em torno de recursos naturais.

Já no horizonte de 5 a 10 anos, predominam os riscos ambientais, como perda de biodiversidade, crises de recursos naturais e fracasso da ação climática, associados a riscos geopolíticos. Completam o cenário possíveis efeitos adversos de tecnologia, reação contra a ciência etc.

Embora o fracasso das ações climáticas seja considerado pelos participantes do GRPS como o risco de longo prazo mais preocupante e o segundo mais provável e de maior impacto, o WEF também enfatiza os efeitos negativos de uma maior disparidade digital e sua elação com o desemprego.

Na avaliação do WEF, os efeitos da pandemia da Covid-19, assim como alguns aspectos da resposta política à crise sanitária, ainda que necessários, aumentaram as disparidades de distintas naturezas que já existiam dentro dos países e entre eles, prejudicaram desproporcionalmente certos setores e grupos sociais e complicaram o caminho para o mundo alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas até 2030 e do Acordo de Paris.

Por exemplo, estima-se que 18% das micro e pequenas empresas na China, que respondem por cerca de 80% dos empregos do país, quebraram somente entre fev/20 e mai/20. Nos Estados Unidos, 20% das empresas com menos de 500 funcionários fecharam definitivamente entre mar/20 e ago/20, segundo WEF. Com a recessão global, a WEF avalia que mais de 150 milhões de pessoas teriam sido levadas à pobreza extrema, aumentando o total para 9,4% da população mundial.

Na crise econômica da Covid-19, os jovens entre 15 e 24 anos foram os primeiros a perder seus empregos durante o confinamento e a ter sua renda comprometida. Ao mesmo tempo, em muitos países tiveram o acesso à educação e ao aprendizado interrompidos pela ausência de conectividade digital, de apoio adulto ou de espaço adequado para estudar em casa.

Destaca-se no relatório que 80% dos alunos ficaram fora da escola em todo mundo, com a suspensão do ensino tradicional em sala de aula. Apesar da adaptação para o ensino remoto via televisão, rádio e internet, estima-se que pelo menos 30% da população estudantil mundial não teve acesso à tecnologia para participar do ensino à distância.

Entre os efeitos da pandemia da Covid-19 está igualmente a aceleração da Quarta Revolução Industrial, expandindo a digitalização da interação humana, o e-commerce, a educação online e o trabalho remoto. Essas mudanças transformadoras prometem enormes benefícios, mas o WEF lembra que também podem exacerbar as desigualdades digitais, minando as perspectivas de uma recuperação inclusiva.

O relatório do WEF alerta que no mundo dos negócios, as pressões econômicas, tecnológicas e de reputação do momento presente trazem o risco de uma reorganização desordenada. As ameaças incluem estagnação prolongada nas economias avançadas e perda de potencial de crescimento nos mercados emergentes e em desenvolvimento, a falência de pequenas empresas, ampliando as lacunas em relação às grandes empresas e reduzindo o dinamismo dos mercados, bem como a exacerbação de desigualdade, dificultando o desenvolvimento sustentável de longo prazo.

O ambiente de negócios global pode se tornar mais oneroso e incerto como resultado de tendências protecionistas ampliadas e o enfraquecimento do multilateralismo, à medida que alguns Estados se voltam cada vez mais para dentro em uma tentativa de fortalecer a autossuficiência e proteger empregos domésticos.

O não enfrentamento das desigualdades econômicas e da divisão da sociedade pode paralisar ainda mais as ações sobre as mudanças climáticas, que constituem uma ameaça existencial para a humanidade. Porém, na avaliação do WEF, se os riscos ambientais não forem enfrentados no curto prazo, a degradação ambiental se cruzará com a fragmentação social, com consequências dramáticas.

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