Sebnem Kalemli-Ozcan[1]

Tradução: Rafael Tatemoto
Original em https://theconversation.com/the-4-trillion-economic-cost-of-not-vaccinating-the-entire-world-154786

A aplicação de uma vacina para impedir a propagação de uma pandemia global não sai barato. Bilhões de dólares foram gastos no desenvolvimento de imunizantes e na implementação de um programa para colocar esses imunizantes nos braços das pessoas.

Mas em meio a uma distribuição desigual de vacinas - com os países mais pobres ficando muito atrás dos países mais ricos - outra preocupação se apresenta: o custo de não vacinar todo mundo.

Meus colegas e eu procuramos descobrir qual poderia ser o impacto total para a economia global da distribuição desigual de vacinação.

Para isso, analisamos 35 setores - como serviços e manufatura - em 65 países e examinamos como todos eles estavam ligados economicamente em 2019, antes da pandemia. Por exemplo, o setor de construção nos EUA depende do aço importado do Brasil, as montadoras americanas precisam de vidros e pneus de países da Ásia, e assim por diante.

Em seguida, usamos dados sobre infecções por COVID-19 para cada país para demonstrar como a crise do coronavírus afetou o comércio global, restringindo as remessas de aço, vidro e outras exportações para outros países. Quanto mais um setor depende de pessoas que trabalham de forma próxima para produzir bens, mais interrupções haverá devido ao aumento das infecções.

Após esse passo, modelamos como as vacinas poderiam ajudar a aliviar esses custos econômicos, visto que uma força de trabalho saudável e imune é capaz de aumentar a produção.

Carregando o fardo

Nossos resultados mostraram que se as nações mais ricas estiverem totalmente vacinadas até meados deste ano - uma meta pela qual muitos países estão se esforçando -, caso os países em desenvolvimento consigam vacinar apenas metade de suas populações, a perda econômica global seria de cerca de US$ 4 trilhões.

Estimamos o custo econômico global dos países em desenvolvimento não vacinarem nenhum de seus cidadãos em cerca de US$ 9 trilhões. Há um esforço atual para que as vacinas cheguem aos países em desenvolvimento, mas, mesmo assim, é provável que as nações mais pobres ainda fiquem para trás no número total de vacinados.

Qualquer que seja o preço, os EUA, Canadá, Europa e Japão arcariam com quase metade do ônus das contínuas interrupções no comércio global - mesmo se eles próprios conseguissem vacinar a totalidade de suas próprias populações.

As descobertas surgem no momento em que a comunidade global busca maneiras de resolver o desequilíbrio entre os números das vacinações nacionais. Os resultados de nosso estudo, publicado como um documento de trabalho pelo National Bureau of Economic Research e seu homólogo europeu, o Center for Economic Policy Research, foram apresentados em uma reunião recente da Organização Mundial da Saúde. O momento do relatório também coincide com o anúncio do presidente Joe Biden de que os Estados Unidos pretendem aderir à COVAX - uma iniciativa que visa vacinar pelo menos 20% da população de todos os países até o final deste ano.

Mas a COVAX está atualmente bilhões de dólares aquém de poder cumprir essa meta.

Nenhuma economia é uma ilha

Nossa pesquisa ressalta que é do interesse econômico direto dos países ricos garantir que as nações pobres também sejam totalmente vacinadas.

A vacinação generalizada em países mais ricos certamente ajudará empresas domésticas como restaurantes, academias e outros serviços. Mas, setores como o automotivo, de construção e varejo que dependem de outros países para materiais, peças e suprimentos continuarão a sofrer se as vacinas não forem disponibilizadas em todo o mundo.

Nenhuma economia é uma ilha - a recuperação econômica global completa ocorrerá apenas quando todas as economias se recuperarem da pandemia.

[1] Professora de Economia, University of Maryland