O segundo Pauta Brasil discutiu, no dia 20 de janeiro, a pandemia e a vacinação, seus prognósticos e análises, além das possibilidades reais do país avançar na imunização. Participaram do programa Adriano Massuda, Eliane Cruz e Gonzalo Vecina.

Num cenário de 211 mil mortos pela Covid-19 no país e a calamidade pela qual passa a cidade de Manaus, a educadora, Eliane Cruz, é assistente social, educadora popular, mestre em Direitos Humanos e Cidadania, doutora em Bioética e coordenadora do Setorial Nacional de Saúde do Partido dos Trabalhadores. Propõe para debate a questão: o Brasil está vivendo uma segunda onda do coronavírus ou ainda é a primeira? Como o Brasil vai enfrentar e dialogar socialmente sobre essa situação no próximo período?

O professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina, médico sanitarista, ex-presidente da Anvisa, ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo e ex-CEO do Hospital Sírio Libanês, inicia sua participação traçando um paralelo da pandemia da Covid-19 com a gripe espanhola. Segundo ele, a gripe matou 35 mil brasileiros, em sete meses aproximadamente, quando o país tinha uma população de 29 milhões. “Portanto, aquele desastre será suplantado pelo atual”, frisa. Lembrando que, há um século, não havia antibióticos, equipamentos de respiração artificial, nunca se tinha visto um vírus e medicamentos eram poucos. “Não se trata de uma segunda onda, mas o recrudescimento de uma onda que nunca se foi. Ela vem contínua, caiu porque nós fizemos algum nível de isolamento social e depois voltou a subir porque relaxamos. E quem nos levou a isso foram as autoridades federais e estaduais e as municipais, que governam este país, critica.

Vecina prossegue retratando o estado de calamidade que se estabeleceu em Manaus, cuja responsabilidade atribui ao Ministério da Saúde, às autoridades locais e empresas que distribuem oxigênio. “A White Martins é a única empresa de produção de oxigênio medicinal em Manaus, no entanto, todos nós vimos imagens de pessoas carregando torpedo de oxigênio pelas ruas da cidade. Onde eles iam buscar oxigênio se o único produtor é a White Martins? Como existe um mercado paralelo de oxigênio na cidade?” O sanitarista alerta ainda para o fato de que o mesmo pode ocorrer no Pará.

O médico sanitarista, Adriano Massuda, doutor em Política, Planejamento e Gestão em Saúde pela Unicamp e professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, ex-consultor da Organização Panamericana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (2016 - 2019), ressalta que a pandemia não atingiu o mundo de forma semelhante. “Países que tiveram melhor capacidade de organização e resposta, com ações de saúde pública, protegeram fronteiras, tomaram medidas para diagnóstico precoce de casos, tiveram melhor resposta no enfrentamento da pandemia”. Já o Brasil, segundo o professor, tinha tempo e condições para se preparar. Uma vez que o país tem o SUS, um sistema nacional e municipalizado. Lembra que o Ministério da Saúde sempre teve o papel em situações de emergência de autoridade sanitária, de referência técnica.

Segundo Adriano Massuda, o SUS começou a ser enfraquecido após o golpe de 2016, com redução de orçamento e ministros sem compromisso com a saúde pública fez com que se agravasse a situação de um país já bastante desigual. A militarização do ministério não acontece apenas na coordenação da pasta, mas em várias áreas técnicas de importância vital, a exemplo da área de sangue e hemoderivados, que têm um saber institucionalizado construído ao longo de décadas. Acredita que a situação ainda pode piorar. “O que aconteceu em Manaus está ocorrendo em várias outras regiões do país, de é o afrouxamento do distanciamento social, que vão aumentar a transmissão e a demanda para o sistema de saúde”, avalia. Lembra que há a demanda da epidemia e a demanda das doenças crônicas que não foram tratadas por causa do direcionamento do sistema para os pacientes de Covid. Defende que a gestão do ministério volte para quem entenda de saúde e seu orçamento seja recomposto.

O debate prossegue sobre o papel da Anvisa, as vacinas em questão, as reais condições de vacinação e as possibilidades do país ter vacina para todos.

Assista a íntegra do programa abaixo.

Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira.

Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.