Reportagem de Brian Melley para a APNews
Tradução de Artur Araújo
LOS ANGELES (AP) – A pressão de pacientes com coronavírus é tão grave em Los Angeles que na terça-feira eles excederam a capacidade normal do Hospital Comunitário Martin Luther King Jr., que atende muitos negros e latinos no maior condado dos Estados Unidos.
O hospital na parte sul da cidade, que tem capacidade para 131 pacientes, estava tratando de 215, 135 deles com Covid-19, disse Jeff Stout, chefe interino de enfermagem e operações. O MLK é emblemático do que está acontecendo nos hospitais de Los Angeles, onde um aumento de casos de coronavírus sobrecarregou a equipe médica, criou uma escassez de oxigênio e levou a uma diretriz para que as equipes de ambulância parem de transportar pacientes que elas não possam reviver a caminho de um hospital.
Stout disse que o hospital estava finalizando seus padrões de operação em crises, que são diretrizes para racionar o tratamento quando há falta de pessoal, medicamentos e equipamentos. “Ainda não chegamos lá”, informou Stout. “Todos os dias, a cada hora, estamos tentando evitar entrar em crise. O objetivo máximo da operação em crises é nunca chegar lá.”
Durante grande parte do ano, o estado mais populoso do país fez as coisas certas para evitar uma catástrofe. Mas agora o vírus está se espalhando intensamente e a Califórnia permanece no topo ou próximo ao topo da lista de estados com o maior número de novos casos per capita. Mesmo com as vacinas sendo administradas, embora lentamente, espera-se que demore muitas mais semanas para conter o contágio.
LA é o epicentro do aumento repentino de casos na Califórnia, que deve piorar nas próximas semanas, quando outro salto é esperado depois que as pessoas viajaram ou se reuniram para o Natal e Ano Novo. Grande parte do estado está sob uma ordem de permanência em casa e empresas abertas estão operando com capacidade limitada.
Los Angeles continua a ver as hospitalizações aumentarem dia após dia, estabelecendo um novo recorde na terça-feira (5/1), com quase 8 mil hospitalizados e mais de um quinto deles em unidades de terapia intensiva. O condado, que responde por um quarto dos 40 milhões de residentes da Califórnia, tem mais de 40% das 27 mil mortes por coronavírus do estado. As regiões de San Joaquin Valley e do sul da Califórnia foram as mais atingidas, com capacidade esgotada nas UTIs para tratar pacientes com Covid-19.
Na terça-feira, a Califórnia emitiu uma ordem de saúde pública exigindo que os hospitais de Los Angeles e de treze outros condados dessas regiões atrasassem cirurgias não essenciais “e que não apresentassem risco de vida” para liberação de leitos. A ordem, que vigerá por pelo menos três semanas, também se aplicará a qualquer condado onde a capacidade da UTI para tratar pacientes com Covid-19 esteja se esgotando e também exige que os hospitais de todo o estado aceitem pacientes de outras instalações médicas que implementaram procedimentos de contingência porque estão lotando.
O médico-chefe do condado de Fresno diz que está observando de perto o que acontece em LA enquanto se prepara para uma nova onda aparentemente inevitável com origem nos feriados. “Estou muito preocupado porque veremos um aumento no número de hospitalizações e mortes”, disse o Dr. Rais Vohra, chefe de saúde interino de Fresno.
Os hospitais no condado de Los Angeles tiveram que declarar “estado de desastre interno” e por vezes fechar suas portas porque ficaram sobrecarregados, deixando ambulâncias esperando até oito horas e desviando outras pessoas para diferentes prontos-socorros. Na segunda-feira, equipes de ambulância do condado foram orientadas a interromper o transporte de pacientes que não podem ressuscitar em campo.
O Dr. Marc Eckstein, diretor médico e comandante dos serviços médicos de emergência do Corpo de Bombeiros de LA, disse que a diretriz reconhece que tais cenários são “todos de risco e de nenhum ganho” neste momento. Ele informou que as equipes que transportam alguém sem pulso dão falsas esperanças às famílias, tiram a ambulância de serviço, expõem os trabalhadores à Covid-19 e exigem a descontaminação do veículo. “Para ser claro, não estamos pedindo aos socorristas que decidam quem vive e quem morre”, disse Eckstein. “Essas são pessoas que estão clinicamente mortas.” Em um memorando separado, o condado também orientou as equipes das ambulâncias para não fornecerem oxigênio suplementar aos pacientes cujos níveis de saturação caíssem abaixo de 90%.
O oxigênio está em falta devido às demandas dos pacientes que lutam para respirar. Eckstein disse que os pacientes com pneumonia associada à Covid-19 estão usando até 60 litros de oxigênio por minuto, o que é pelo menos 10 vezes mais do que um paciente com pneumonia normal precisaria. Alguns hospitais mais antigos no sul da Califórnia tinham sistemas desatualizados que não conseguem lidar com o fluxo de oxigênio, e o estado contratou o Corpo de Engenheiros do Exército para atualizá-los.
No Hospital Comunitário Martin Luther King Jr., um grande número de pacientes que não são mantidos em quartos tradicionais precisam de oxigênio engarrafado, que é escasso, disse Stout. O MLK teve que alojar pacientes em sua antiga loja de presentes, em uma capela, em tendas e nos corredores. O pronto-socorro tinha de 45 a 50 pacientes esperando por leitos no hospital na terça-feira.O hospital tem uma UTI com 10 leitos, mas expandiu esse nível de atendimento para três seções do hospital e está tratando de 36 pacientes.O maior problema não é a falta de espaço, mas a falta de pessoal, principalmente enfermeiras e terapeutas respiratórios, um desfio comum para hospitais que estão competindo por quaisquer trabalhadores adicionais
O Escritório de Serviços de Emergência do estado solicitou na terça-feira 500 trabalhadores médicos federais adicionais para ajudar, depois de saber que o navio-hospital USNS Mercy, que atracou em Los Angeles no início do ano para atender o excesso de pacientes, estava em doca seca e não voltaria.
Stout disse que não pensa para além de amanhã no que diz respeito à crise. “Estamos agindo uma hora por vez, um paciente por vez”, disse ele.