Anúncios diários dos andamentos das vacinas em todo o mundo. Mas como o Brasil poderá superar os desafios de produção e distribuição da vacina para todo território nacional? O país tem o desafio produtivo e logístico da vacinação contra Covid-19, seja em relação às vacinas como aos produtos auxiliares, seringas, agulhas, algodão.

Para discutir desafios da vacinação universal contra a Covid no país, o Observa BR recebeu no dia 9 de dezembro, Érika Aragão, mestra em Economia e doutora em Saúde Pública, presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde e professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC-UFBA), e Reinaldo Guimarães, médico, professor do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada à Saúde (Nubea/UFRJ), ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (2007/2010) e vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fundação Oswaldo Cruz (2005/2006). A mediação foi de Márcio Jardim, diretor da Fundação Perseu Abramo.

Érika Aragão utilizou seu tempo para fazer um paralelo da situação da saúde no país com outros países que também possuem sistema universal, por exemplo, Inglaterra e Reino Unido, já antecipando que o Brasil não se preparou em termos de organização e planejamento para enfrentar a pandemia. A professora lembra que “a formulação de políticas de medicamentos, equipamentos, imunológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção constam de lei no país”, assim como o acesso universal e igualitário em todos os níveis de assistência, que é constitucional. Fala sobre o subfinanciamento que se encontra o sistema de saúde nos últimos anos.

Chama a atenção para as assimetrias globais de propriedade intelectual, ou seja, alguns poucos países detêm a tecnologia, o que significa que os demais países em casos de pandemia como a Covid terão de negociar para adquirir o medicamento. Explica a briga geopolítica por vacina e o grande investimento público que as empresas (laboratórios) angariam nesse processo. Frisa, “apesar de se tratar de uma calamidade pública”.  Fala sobre as vacinas que apresentaram maior eficácia e reitera que o Brasil deveria ter planejamento e organização para incorporar o máximo de vacinas possíveis para atender a quantidade máxima de pessoas. Descreve o funcionamento do Programa de Imunização Nacional (PIN), que se acionado pode abarcar todo o território do país, e sistema logístico necessário. Para Érika, o grande gargalo está no projeto de lei orçamentária que não garante recurso para que aconteça essa vacinação em massa no país.

O professor Reinaldo Guimarães fala sobre a dinâmica global das vacinas e as campanhas para o enfrentamento da Covid-19 no mundo. Embora tenha se chegado à vacina em tempo recorde, foi clara a disputa política entre grandes países. Aponta como grande problema a disparidade entre capacidade de produção de vacina e demanda. “Se pegarmos todas as empresas que têm vacinas já em fase adiantada não se terá ao final de 2021 mais de 10 bilhões de doses... O que teoricamente daria para vacinar dois terços da população mundial. O fato é que esse número ideal não existe. Países de maior capacidade financeira e poder político açambarcaram boa parte desses 10 bilhões. O Canadá, por exemplo, já tem compradas vacinas para vacinar quatro vezes 100% de sua população”, informa. Como sabemos, outros países não têm recursos para fazê-lo.

Diante desse descompasso, Reinaldo Guimarães fala sobre os critérios estabelecidos em todo o mundo de prioridades para a vacinação. “Essas prioridades podem não apenas ir selecionando segmentos da população, mas podem ir apenas se aproximando dos 100%”, esclarece.

Sobre o Brasil, o professor descreve o sistema de imunização como um quadrilátero, formado pelo PIN, mais antigo que o SUS, pelos Institutos Butantan, e o Bio-Manguinhos da Fiocruz (ambos responsáveis pelo fornecimento de 90% das vacinas aplicadas no país), e a Anvisa, considerada pelo painelista, uma agência de reconhecimento internacional. “A articulação harmoniosa desses quatro elementos configuram a espinha dorsal de uma campanha de vacinação no país”.  Guimarães prossegue falando da irresponsabilidade e dos desencontros do governo no enfrentamento da pandemia.

Assista na íntegra esta edição do programa abaixo.

 

Esse programa é parte do Observa BR (clique aqui para acessar), iniciativa que objetiva concentrar debates e troca de informações e ser um repositório acessível, dinâmico e sempre atualizado de notícias, propostas, iniciativas, políticas, análises e formulações relacionadas à reconstrução e transformação do Brasil, superando os problemas estruturais do país agravados pelas crises sanitária, econômica, política e financeira em que se afundou pela completa incapacidade do governo Bolsonaro no combate à pandemia de 2020 e a seus efeitos.

O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e perfil no Twitter.