Por Sarah Butler
Tradução de Artur Araújo, original aqui.
Até £ 4,8 bilhões em mercadorias para varejistas britânicos podem ser produzidas localmente, diz relatório
As fábricas do Reino Unido podem gerar até £ 4,8 bilhões a mais de mercadorias para os varejistas britânicos nos próximos doze meses, já que a pandemia do coronavírus e o Brexit induzem as empresas a trazer a produção de volta para casa.
Os pedidos adicionais, em grande parte de alimentos e moda, mas potencialmente incluindo produtos “faça você mesmo” e utensílios domésticos, seriam equivalentes a toda a produção atual de fabricação de roupas do país, de acordo com um relatório da consultoria Alvarez & Marsal e do grupo de pesquisa Retail Economics.
Sinais da tendência já surgiram, com a página de moda online Asos encomendando sua nova linha de preços baixos AsYou em fábricas selecionadas de Leicester e Ted Baker anunciando sua linha Made in Britain este mês.
As empresas de varejo estão fazendo mudanças depois que a pandemia realçou as fraquezas estruturais nas cadeias de abastecimento globais - que podem ser lentas para se adaptar a aumentos ou quedas repentinas na demanda causados por eventos de choque ou a mudanças rápidas no gosto do consumidor.
A possibilidade de um Brexit sem acordo - segundo o qual tarifas de até 80% poderiam ser introduzidas sobre algumas carnes e laticínios, de 12% sobre roupas e de 16% sobre calçados - também levou os varejistas a considerar opções alternativas, de acordo com o relatório.
A demanda dos consumidores e investidores por mais sustentabilidade também está desempenhando um grande papel na mudança, já que o custo ambiental do transporte de mercadorias do Extremo Oriente, com muitos itens encalhando, está agora sendo considerado. “Sete em cada 10 varejistas pesquisados dizem que já começaram a mudar a forma como adquiriam bens para cumprir metas ecológicas ou éticas”, disse o relatório.
No País de Gales, 70 costureiras que trabalhavam para a marca Laura Ashley voltaram à indústria de roupas em uma nova fábrica em Powys, onde o “fornecedor ético” [ethical supplier ] Fashion Enter está fazendo roupas para a Asos e acaba de fechar um contrato com o especialista em roupas online N Brown, proprietário da Simply Be.
Jenny Holloway, presidente-executiva da Fashion Enter, que também tem uma fábrica no norte de Londres, relatou que os negócios aumentaram em mais de um terço este ano. Ela disse que os varejistas estavam procurando por fornecedores mais ágeis perto de casa, depois que as incertezas da pandemia realçaram a inflexibilidade na aquisição de vestuário na Ásia.
“É suicídio comercial apoiar-se em estoques para longos períodos neste momento. Os varejistas estão cada vez mais e mais colados à temporada”, disse ela. “De jeito nenhum eu teria aberto a fábrica no País de Gales, a menos que tivesse certeza de que há uma tendência de longo prazo de volta ao Reino Unido. É emocionante.”
Enquanto isso, a mais do que cinquentenária marca de moda David Nieper está contratando trinta novas costureiras e investindo £ 4,5 milhões em uma fábrica têxtil que emprega mais oito trabalhadores em sua cidade natal, Alfreton, em Derbyshire, onde vai estampar e tingir seus próprios tecidos.
Christopher Nieper, o presidente-executivo da David Nieper, afirmou: “A fabricação na Grã-Bretanha torna os negócios monitoráveis e permite o controle sobre cada etapa do processo de produção. Manufaturar no exterior [offshoring manufacturing] é essencialmente externalizar a responsabilidade [offshoring responsibility] e, sem dúvida, a poluição. Atualmente, dois terços das emissões [de carbono] relacionadas à produção de roupas comercializadas no Reino Unido ocorrem no exterior. Não é aceitável mudar o problema para onde ele está fora da vista e da mente.”
Em Kent, a fabricante de chips de frutas e vegetais Nim’s Fruit Crisps viu os negócios crescerem 20% este ano, apesar de ter sofrido uma forte impacto da crise da Covid.
Nimisha Raja, presidente-executiva da Nim's, disse que a empresa foi forçada a se tornar fornecedora de frutas e vegetais secos como ingredientes para outros fabricantes de salgadinhos e de frutas secas para pubs, bares e consumidores domésticos de coquetéis [gin fans] como acompanhamento de bebidas, depois que o mercado ”para viagem” no horário de almoço foi atingido pela mudança para o trabalho em casa.
A mudança por parte dos varejistas é apenas parte das mudanças mais amplas nas cadeias de suprimentos promovidas pela Covid e pelo Brexit.
Tony Hague, presidente-executivo da PP Control & Automation, faz parte do grupo da indústria britânica Unite, que oferece um serviço de aproximação [dating service] para fabricantes que procuram trabalhar juntos para trazer a produção de volta para o país. Iniciado em resposta ao desafio dos ventiladores para pacientes de Covid, o grupo agora tem 300 membros.
“Não é uma coisa de curto prazo”, disse ele. “Leva muito tempo e esforço para mover uma cadeia de suprimentos de volta ao Reino Unido. Você não faz isso apenas por alguns meses.”