No dia 18 de novembro, o Observa BR recebeu Arthur Koblitz, economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e presidente da Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES); Marcelo Mitterhof, economista do BNDES e ex-colunista da Folha de S. Paulo; e Carlos Pinkusfeld Bastos, economista e professor associado do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), para debater o tema “Bancos públicos, investimentos e redução de desigualdades”. As participações de Arthur Koblitz e Marcelo Mitterhof se deram em caráter pessoal e as opiniões emitidas por ambos não refletem necessariamente o posicionamento do BNDES. A mediação foi de Artur Araújo, consultor da Fundação Perseu Abramo (FPA) e da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).
Marcelo Mitterhof inicia sua exposição falando sobre a perda de competitividade crescente do BNDES, que é o principal financiador de longo prazo. Desde 2014 a queda de desembolso do banco vem sendo maior que a queda de investimento na economia brasileira. Isso se deveu à criação da TLP como taxa de financiamento, que quando a economia está caindo, a taxa sobe. Segundo o economista, essa taxa não permite que o banco cumpra a sua função mais básica de fomentar o desenvolvimento, que é emprestar com uma taxa diferenciada, mais barata, subsidiada. Outro problema ainda é que se trata de uma taxa que ninguém usa, sendo a mais comum o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Mitterhof fala que falta ao país um projeto nacional de longo prazo, uma vez que a industrialização deixou de sê-lo a partir dos anos 1990. O que acarreta o fim dos empregos de mais alta produtividade. “Com a recessão, o excedente está sendo gerado pela extenuação do trabalhador, seja pela intensificação da hora de trabalho, seja pelo prolongamento da jornada, o que é o caso de entregadores e motoristas de aplicativos”. É preciso criar mais empregos na indústria para incorporar essas pessoas e ter trabalho de mais alta produtividade. Lembra, então, que é preciso fazer o que foi a marca dos governos petistas, a inclusão social, no que o BNDES pode ajudar muito.
O professor Carlos Pinkusfeld Bastos fala sobre a criminalização do banco estatal feita pelo governo Bolsonaro, quando “financiar projetos foi transformado num crime de lesa-pátria”. "A forma como os diferentes Estados financiam a inovação, garantem as atividades de mais risco... a criação, a inovação, é a fronteira com a economia, que possibilita ao país se encaixar de forma mais ou menos eficiente na economia internacional", diz o economista. Recupera que o Brasil tem um banco gigante, com uma capacidade técnica grande, que é o BNDES. Lamenta o desperdício de recursos que é reunir num espaço tantos profissionais com muita capacitação para não fazer nada em prol de um projeto de desenvolvimento.
Arthur Koblitz comenta a gravidade que é o BNDES estar vendendo ações de sua carteira, uma vez que se trata de uma orientação estratégica. Segundo ele, o fato de o banco estar devolvendo dinheiro ao Tesouro é sinal de que o governo não está apostando no BNDES não só agora, num momento de crise, e “nem ao menos apostará em uma segundo etapa, pós-pandemia, como havia sido anunciado por seu presidente na fatídica reunião ministerial de 22 de abril”.
Reitera que o BNDES é a principal fonte de investimento em capital fixo de longo prazo e é fundamental para o aumento da taxa de investimento do Brasil, que se encontra “deprimente”. Com relação ao título do debate, esclarece que “a principal missão de um banco de desenvolvimento não é atacar o problema da desigualdade de renda – o governo tem vários instrumentos para isso –, é aumentar a produtividade da economia”, operar a transformação produtiva de um país. “Seu papel é dar dinheiro para quem pode fazer o que a sociedade precisa”, explica.
Assista abaixo o programa na íntegra.
Esse programa é parte do Observa BR (clique aqui para acessar), iniciativa que objetiva concentrar debates e troca de informações e ser um repositório acessível, dinâmico e sempre atualizado de notícias, propostas, iniciativas, políticas, análises e formulações relacionadas à reconstrução e transformação do Brasil, superando os problemas estruturais do país agravados pelas crises sanitária, econômica, política e financeira em que se afundou pela completa incapacidade do governo Bolsonaro no combate à pandemia de 2020 e a seus efeitos.
O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e perfil no Twitter.