Da BBC News Brasil

Em meados de maio, o tio de Ninawa Inu Huni Kui, líder dos Huni Kuin, comunidade indígena espalhada pelo Estado do Acre, começou a sentir sintomas de gripe.

Quando a tosse e a febre evoluíram para "dor no pulmão" e falta de ar, veio a desconfiança de que ele poderia ter sido infectado com a doença nova que circulava "na cidade".

Maná duá Bakê foi o primeiro caso de covid-19 da aldeia, que, em algumas semanas, viu praticamente todos os seus 200 habitantes, distribuídos em 40 famílias, caírem doentes.

"Só uma família não foi infectada", conta Ninawa.

A localização remota explica, em parte, por que apenas duas pessoas chegaram a ser atendidas no hospital — uma mulher grávida e uma adolescente de 12 anos.

A maioria foi tratada na aldeia pelos pajés, com plantas medicinais, utilizadas em chás e defumações.

"Até mesmo porque, no período da pandemia mesmo na aldeia, quando estava todo mundo acamado, bem complicada a situação, não apareceu ninguém da Saúde", diz o cacique.

"Então os pajés tomaram essa decisão, com resultados muito positivos na utilização da medicina tradicional. Porque, se fosse esperar por assistência do sistema de saúde, se fosse depender disso, acho que teriam acontecido coisas bem mais piores. Muitos óbitos."

Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde, o primeiro caso de covid em um indígena da aldeia foi oficialmente diagnosticado em 6 de julho no município de Feijó, uma mulher.

"Dada a necessidade de monitoramento para identificação de possíveis novos casos, a equipe de saúde dirigiu-se imediatamente à região, estando presente no local no dia 08/07, ocasião em que a coordenadora do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Alto Rio Juruá também compôs a equipe", afirmou, em nota, a assessoria de imprensa do ministério.

"Foi realizada uma busca ativa de síndromes respiratórias na aldeia Maê Txanayá e seu entorno e foram reforçadas as ações de cunho sanitário - essenciais para o controle da doença - destacando a testagem, orientação sobre distanciamento social e uso de máscaras. A equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena ainda acompanhou todo processo de investigação de novos casos e tratamento dos que apresentaram resultados positivos, seja por método laboratorial e/ou clínico epidemiológico."

Sebastião Carlos Oliveira Amorim Kaxinawá, genro de Maná, afirma, entretanto, que após o atendimento em julho a aldeia não teve mais contato com os agentes, a não ser pela visita de um dentista algum tempo depois.
Ninawa foi o terceiro da aldeia a pegar a doença. Acha que foi infectado no hospital, já que, alguns dias antes, fizera um procedimento para retirada da vesícula.

Não chegou a desenvolver uma forma grave de covid-19, mas atingiu o que ele apelidou de "terceira fase": teve febre, diarreia, "dores no pulmão" e muita dor nas articulações.

Como líder da Federação do Povo Huni Kuin no Estado do Acre, ele se divide entre a capital, Rio Branco, e a aldeia. E foi na cidade que ele ficou recluso por mais de um mês, já que o exame diagnóstico, depois dos primeiros 14 dias de quarentena, continuou dando positivo.

"Depois eu fiz e não deu mais positivo. Foi quando eu saí para poder correr atrás de socorro pra ajudar o meu povo também."

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