Na quarta-feira, 7 de outubro, o Observa BR recebeu os professores Antonio Gomes Sousa Filho, Marcelo Knobel e Sérgio Machado Resende para debater a situação das universidades e institutos de pesquisa durante a pandemia da Covid-19. A mediação foi de Elen Coutinho, diretora da Fundação Perseu Abramo.
O físico Antonio Gomes Souza Filho, professor na Universidade Federal do Ceará e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, considera que os institutos de pesquisa e as universidades responderam prontamente à situação de emergência imposta pela pandemia, fazendo ciência de qualidade e beneficiando a sociedade diretamente. Segundo ele, que também é pesquisador do CNPq, isso porque “as instituições de pesquisa têm capacidade de cooperação e articulação e tiveram papel estratégico, além das agências de fomento e empresas de base tecnológica, pois muitas das pesquisas realizadas foram em conjunto com vários setores da sociedade”. Falou sobre o documento que elaborou com o professor Oswaldo Luiz Alves (Unicamp), listando exemplos de inovações realizadas por universidades e institutos públicos para o enfrentamento da Covid-19, o qual se divide em suporte tecnológico, assistência, teste de diagnóstico, vacinas, novos tratamentos, modelagem epidemiológica e pesquisa básica.
Salienta ainda que no início da pandemia o mercado estava completamente desabastecido, havia poucos fabricantes preparados para produção de alguns insumos. “Universidades e instituto de pesquisas direcionaram parte da sua capacidade até mesmo para produzir insumos, contribuíram com a demanda imediata, que não seria nem mesmo a sua função primária. Só para ter uma ideia produziram quase um milhão de litros de álcool em gel, e em torno de quatrocentos leitos de UTI foram colocados à disposição nos hospitais universitários”, segue ainda com muitos exemplos o pesquisador.
Já o físico Marcelo Knobel, professor e reitor da Unicamp e também pesquisador do CNPq, define-se como bastante pessimista com a situação. Lembra que as universidades públicas vinham de um contexto de crescentes ataques por parte de autoridades desde verbais, passando por quebra de autonomia com a nomeação de reitores não escolhidos pela comunidade universitária, até o corte de recursos. Tais medidas “colocam em risco um sistema de ciência e tecnologia que tem se desenvolvido ao longo dos últimos sessenta anos, que não é fácil de ser criado, mas é fácil destruí-lo”.
Constata que com a pandemia vivemos um paradoxo, ao mesmo tempo em que a situação sanitária é complexa, as universidades ganharam espaço na mídia. “Uma vez que as pessoas estão desesperadas por uma vacina, cientistas e pesquisadores ganharam visibilidade. Isso não quer dizer que aqueles que atacam as universidades tenham desaparecido, são contra a ciência e querem voltar para a idade das trevas tenham sumido. É preciso aproveitar esse momento para alavancar a nossa comunicação institucional e da comunidade universitária em geral”. Knobel ressalta como foi importante a cooperação da sociedade cível e suas instituições. Conta que criou na Unicamp um programa de doações que arrecadou mais de R$ 15 milhões.
Ex-ministro de Ciência e Tecnologia, o professor Sérgio Machado Rezende, que é coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, inicia sua exposição ressaltando que ciência, tecnologia e inovação (CT&I) são essenciais para o desenvolvimento econômico e soberania das nações. Historia os avanços e retrocessos no sistema no país, destacando que durante o governo Lula havia uma política e um plano de ação em CT&I com prioridades, tais como expansão e consolidação do sistema; apoio à inovação tecnológica nas empresas; pesquisa, desenvolvimento e inovação em treze áreas estratégicas; além de CT&I para o desenvolvimento social. De 2007 a 2010, o orçamento da pasta foi R$ 61 bi (valor atualizado). Como principais avanços na área nesse período o ex-ministro cita aumento nos recursos destinados, substancial melhoria na produção científica e avanço no ambiente para inovação tecnológica nas empresas.
Entre os 86 programas, implementados durante os dois mandatos de Lula, está o programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), que não significou a criação de novas instituições, mas a formação de redes entre as instituições existentes, bem distribuídas regionalmente e por área de conhecimento. Rezende frisa que a área da saúde abarcou grande quantidade de institutos (39 dos 123), com aumento significativo de cursos de mestrado e doutorado e respeito no exterior. Lembra que no governo Dilma o programa Ciência sem Fronteiras, ampliando ainda mais a atenção internacional que o país tinha angariado. O professor prossegue relatando o desastre ocorrido nos últimos anos.
Assista abaixo o debate na íntegra.
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O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e Twitter, além de ser retransmitido pelas redes sociais de Dilma Rousseff e Fernando Haddad, e dos portais parceiros: Revista Fórum, DCM e Brasil 247.