Observa BR: caminhos da reconstrução e transformação do Brasil (união de dois projetos da Fundação Perseu Abramo, o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil e o Observatório da Crise do Coronavírus) debateu nessa quarta-feira, 30 de setembro, “como voltar às salas de aula?” e as principais questões que envolvem esse tema. Participaram do programa Luiza Dulci, Edson Grandisoli e Herbert Coelho, com a mediação de Artur Henrique, diretor da Fundação Perseu Abramo e ex-presidente da CUT.

Desde março de 2020, cerca de 48 milhões de estudantes deixaram de frequentar as atividades presenciais nas mais de 180 mil escolas de ensino básico espalhadas pelo Brasil como forma de prevenção à propagação do coronavírus. Esses são dados de acordo com o último censo escolar divulgado pelo Inep (2019), colocados por Artur Henrique.

O educador Edson Grandisoli, professor do ensino básico, consultor da Unesco e Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, iniciou sua exposição considerando que o cenário da educação no período anterior à pandemia no país já era comprometido, com grande desigualdade nas e entre as esferas municipais, estaduais e principalmente entre a rede pública e particular de ensino. “A palavra correta a usar para o atual cenário é defasagem. Temos um modelo que responde aos desafios do século 19, talvez início do 20, mas não responde aos desafios de uma sociedade pós-industrial, com toda essa produção 4.0”, define. Durante a pandemia as desigualdades apontadas pelo professor se acentuaram: as escolas privadas conseguiram se adaptar e responderam à demanda de urgência de maneira mais pronta porque já vinham se preparando anteriormente com a utilização de tecnologias de ensino. No entanto, a falta de preparo e condições até materiais dos professores e estudantes da rede pública para lidar com a nova situação, expõe o aprofundamento desse abismo.

Grandisoli, que também é pesquisador no programa Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, relata a pesquisa que teve oportunidade de realizar com professores da rede pública de São Paulo, a qual  avaliou entre outros indicadores que os sentimentos de medo e insegurança em relação à Covid-19 lideravam. Refuta a ideia de a volta às escolas não é responsabilidade apenas dos professores, ou da comunidade escolar, mas do município, pois envolvem muitas precauções, inclusive com relação ao transporte.

A economista Luiza Dulci, doutoranda em Ciências Sociais e integrante do Conselho Curador da FPA, destaca pontos que considera importantes no debate. O primeiro deles é a necessidade de debater todas as questões que envolvem a volta à escola e todos os perfis, levando em conta faixas etárias, etnias, diferenças econômicas, sociais e regionais, condições de ensino remoto, a evasão escolar como conseqüência etc. Em segundo lugar, é preciso considerar que os pais precisam trabalhar e não têm com quem deixar seus filhos. Um terceiro aspecto é que escolas oferecem merenda e universidades têm refeitórios com preços acessíveis, “logo quando essas instituições públicas estão fechadas, crianças e jovens adentram ou agravam sua condição de insegurança alimentar”. E ainda uma quarta questão diz respeito “à saúde mental, pois é muito importante a convivência com a comunidade escolar, tendo em vista que o isolamento pode trazer sérias conseqüências, agravando sintomas de ansiedade e depressão”.

Luiza reitera que não é o momento de retornar às escolas e que essa discussão não pertence apenas à comunidade escolar, mas deve envolver também as autoridades governamentais e sanitárias. Lembra também os direitos dos trabalhadores em educação, o fato de que escolas públicas e privadas precisam ter as mesmas condições e regras e que para dar condições de retorno às escolas é preciso aumentar os investimentos em educação. O que parece não estar nos planos do governo federal se atentarmos para a proposta orçamentária para 2021.

Herbert Coelho, diretor de Políticas Educacionais da Ubes e secretário geral da Abes, estudante de cursinho pré-vestibular popular no interior da Bahia, recupera as condições no período anterior à pandemia e o sucateamento do ensino público do básico ao universitário: escolas sendo fechadas, a tentativa de privatização do ensino, militarização de colégios, falta de valorização e investimento. Embora considere a vitória da aprovação do Fundeb aponta tentativa de manobra do governo para aplicação do recurso.

Para o dirigente estudantil o debate de retorno às escolas deve estar vinculado à valorização do ensino e maior investimento em educação. Afinal as escolas têm de passar por reformas, fornecer EPIs, álcool em gel, máscaras, providenciar testagem em massa etc. “Uma escola, pública principalmente, envolve toda a sociedade, professores, profissionais, vendedores de alimentação no entorno, trabalhadores no transporte...”.

Assista abaixo o debate na íntegra.

O Observa BR objetiva concentrar debates e troca de informações e ser um repositório acessível, dinâmico e sempre atualizado de notícias, propostas, iniciativas, políticas, análises e formulações relacionadas à reconstrução e transformação do Brasil, superando os problemas estruturais do país agravados pelas crises sanitária, econômica, política e financeira em que se afundou pela completa incapacidade do governo Bolsonaro no combate à pandemia de 2020 e a seus efeitos

O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21 horas, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e Twitter, além de ser retransmitido pelas redes sociais de Dilma Rousseff e Fernando Haddad, e dos portais parceiros: Revista Fórum, DCM e Brasil 247.