O programa do Observatório da Coronacrise da última sexta-feira (24) debateu a reconstrução e transformação na saúde, um dos eixos que integram o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, iniciativa da Fundação Perseu Abramo (FPA) e do Partido dos Trabalhadores (PT) lançada no início da semana. Mediado pelo diretor da FPA Márcio Jardim, o debate teve a participação da psicóloga sanitarista, integrante do Naap Saúde do PT, Lumena Furtado; do ex-ministro da Saúde e senador Humberto Costa (PT-PE); e do médico e professor da Unifesp, ex-ministro da Saúde, Artur Chioro.

Jardim abriu o debate pautando duas questões: o plano emergencial para combater a Covid-19 e a reestruturação da saúde dentro do Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, que foi lançado a partir do trabalho de especialistas de várias áreas reunidos nos Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas (Napps) da FPA.

Lumena pontuou que para o enfrentamento à Covid-19 é preciso que se reconheça que são muitas epidemias, considerando a imensa diversidade do Brasil. “A pandemia que no Brasil começou branca e rica hoje é cada vez mais preta e pobre. Nas periferias, nos assentamentos precários, na população de rua, nos presídios é onde morrem mais brasileiros por Covid”.

Ela criticou o fato de o governo federal e de vários governos estaduais, como o de São Paulo, por exemplo, tratarem a pandemia como se fosse única, passarem informações padronizadas pela imprensa e responsabilizarem o indívíduo por sua própria proteção. “O Estado tem de se responsabilizar junto com a sociedade pelas medidas de proteção e isolamento. Isso é central neste momento em que ainda vemos crescer a mortalidade, passamos de 140 mil, e temos lugares que ainda estão em curvas acentuadas de crescimento. Não temos tido a ação necessária do Estado para a proteção das pessoas que mais estão morrendo, porque elas têm de sair de casa para trabalhar. A renda mínima e os apoios não chegaram a todo mundo”, afirmou.

Chioro, coordenador do Napp da Saúde, destacou o caráter coletivo das propostas contidas no Plano. “Tanto aquelas para o enfrentamento emergencial da crise da Covid quanto as de reestruturação da política de saúde no país, para que o SUS possa ser valorizado e responda às necessidades da população, vêm de um processo muito participativo”. Disse ainda que esta não é uma contribuição pronta e acabada. “É uma provocação para as forças de esquerda, progressistas e que estão comprometidas com o futuro do Brasil se envolverem na discussão.”
Ele explicou que o Plano para a saúde se articula com as ideias elaboradas em outros Napps, de outras áreas.“Não há como enfrentar a crise sanitária que vivemos se não houver a formulação de uma política intersetorial abrangente, que tenha a complexidade e a profundidade para enfrentar um problema que não tem causas simples, pois estamos lidando com a mais grave emergência sanitária dos últimos 100 anos”.

Para Chioro, a resposta do país a este problema tem sido uma tragédia, um verdadeiro genocídio, resultado da necropolítica do governo Bolsonaro. “O Brasil tem apenas 2,7% da população mundial, mas responde por mais de 15% dos óbitos e dos casos confirmados de Covid no mundo. Isso significa que milhares de vidas poderiam ter sido preservadas, alertou.”

O senador Humberto Costa lembrou que há dois dias circula a informação de que o presidente Bolsonaro quer fazer uma grande jogada de marketing em relação à Covid 19, o que demonstra o total cinismo do governo. “Haveria um dia “D” em que ele mandaria distribuir gratuitamente cloroquina, que comprovadamente não tem nenhuma incidência para resolver o problema da Covid-19 e, ao contrário, provoca efeitos colaterais gravíssimos que podem levar à morte, à cegueira, a crises epiléticas. Ou seja, um verdadeiro escárnio”.

Sobre o Plano, Costa constatou que no espaço de aproximadamente treze anos dos governos Lula e Dilma fizemos um processo de implementação do SUS extremamente avançado. “Atuamos na ampliação gigantesca da área da atenção básica, criamos um programa para garantir o acesso universal às pessoas, o Mais Médicos, enfraquecido por Temer e eliminado por Bolsonaro, melhoramos a formação profissional de médicos e outras categorias para adaptá-las à realidade do país, ampliamos o atendimento emergencial com a criação das Upas e do Samu e desevolvemos uma área de vigilância epidemiológica exemplar no mundo”, concluiu.

Assista aqui ao programa completo.