Resenha de Henry Campos e Nahuan Gonçalves
O Senegal, país do oeste africano, com uma população de 16 milhões de habitantes, escassez de leitos hospitalares, a baixíssima marca de cerca de sete médicos por 100 mil habitantes, enfrentou a pandemia da Covid-19 de modo muito agressivo e, até agora, muito eficiente: o país tem cerca de 14 mil casos e 284 mortes.
Numa análise recente da revista Foreign Policy, o Senegal teve o segundo melhor resultado entre 36 países, numa análise sobre a condução da crise sanitária, onde estavam mesclados, países ricos, países de renda média e países em desenvolvimento, só ficando atrás da Nova Zelândia. O Brasil ficou em 29º lugar e os Estados Unidos, em 32º. A análise utilizou os indicadores: prevenção, detecção, resposta, serviços de saúde, normas internacionais e risco ambiental. O Senegal recebeu notas altas por “um alto grau de preparação e embasamento em fatos e na ciência”, enquanto que os Estados Unidos receberam alertas quanto à pobreza da comunicação da saúde pública, testagem limitada e outros fracassos.
Para chegar a esse resultado “você vê o Senegal movendo-se em todas as direções – seguindo a ciência, agindo com rapidez, trabalhando o fator comunicação nessa equação e, então, pensando em inovação”, diz Judd Devermont, do Programa para a África, do Center for Strategic and International Studies, um “think tank” apartidário sobre política internacional.
O país, que se beneficiou das lições aprendidas na epidemia do vírus Ebola, em 2014, quando saiu-se muito bem, começou a trabalhar rapidamente, tão logo o vírus emergiu, e, como informa o Dr. Abdoulaye Bousso, diretor do Senegal’s Health Emergency Operation Center, iniciou a formatação do seu plano de contingência tão logo a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, pela primeira vez, no dia 30 de janeiro, situação de emergência da saúde pública.
Quando, dois meses depois, o país apresentou o seu primeiro caso positivo, o presidente Macky Sall impôs um toque de recolher e restringiu as viagens entre as 14 regiões do país. O país aumentou rapidamente a sua capacidade de testagem, criou laboratórios móveis, que podiam entregar o resultado dos testes em 24 horas ou, em alguns casos, em duas horas. O governo de Sall também fez uma promessa ousada: todas as pessoas que testassem positivo para o Sars-CoV-2 teriam um leito de hospital, quer apresentassem sintomas ou não. Isso manteve os pacientes longe de suas casas, onde poderiam transmitir o vírus a outros, sendo visto logo no início que, com a adoção dessa medida, pode-se parar a transmissão.
Outro passo importante para a conscientização das pessoas foi “a divulgação diária dos números reais de novos casos e de óbitos, para, com essa transparência, mostrar que o vírus é real”, diz o Dr. Bousso. Na entrada de cada supermercado, restaurante, lojas e outras facilidades, há um segurança com um termômetro digital e um frasco de desinfetante. Ao decidir fazer quarentena depois de exposto ao vírus, mesmo sem ter sido infectado, o presidente Macky Sall deu mais um exemplo de liderança efetiva e ganhou ainda maior respeito de seus compatriotas.
Causa espanto aos senegaleses que americanos recusem-se a usar máscaras. Shannon Underwood, uma advogada de Seattle que imigrou para o Senegal com a família há dois anos, diz que a resposta do governo foi “impressionante, senão perfeita”. Para Underwood é “bizarro” ver a resposta dos Estados Unidos de longe e que para ela é preferível estar vivendo em Dakar. “Não houve um só momento em que minha família tenha pensado, oh, nós deveríamos ter sido evacuados. Nós sempre sentimos que estar aqui era a melhor escolha”.
Os indicadores globais, já mencionados e utilizados na análise da Foreign Policy, mostram que os Estados Unidos detêm muito mais condição para combater os surtos de uma pandemia do que o Senegal. No entanto, não foi o que se viu na prática. Esse país africano mostrou mais capacidade de tratar os doentes e de proteger os trabalhadores da saúde, de reduzir os riscos ambientais e de aderir às normas internacionais, protegendo os vazios assistenciais e protegendo-se contra ameaças biológicas. Diz a americana imigrante, Shannon Underwood, que “na sociedade e na cultura daqui é inimaginável que alguém se recuse a usar uma máscara para proteger as pessoas à sua volta”.
Para os especialistas, as lideranças do Senegal têm provido uma informação consistente e de base científica e empenharam-se de forma precoce e agressiva no combate ao novo coronavírus.
Para ler mais: www.foreignpolicy.com
www.nature.com
www.usatoday.com
www.theatlantic.com