Por Henry Campos e Nahuan Gonçalves

O artigo “Sex differences in immune responses that underlie Covid-19 disease outcomes”, realizado por uma equipe de 35 pesquisadores da Yale University (New Haven, Connecticut), publicado na edição desta segunda-feira, 26 de agosto, na revista Nature, sugere que estratégias diferentes, ditadas de acordo com o sexo, masculino ou feminino, poderão ser adotadas no tratamento e cuidado de pacientes com Covid-19. Esses achados vão em encontro com sólidas evidências prévias de diferenças na evolução clínica, segundo o sexo, de pacientes acometidos pela doença. Até a publicação desse estudo, no entanto, não se sabia se a resposta imune ao SARS-CoV-2 apresentava diferenças de acordo com o sexo e se tais diferenças explicariam a ocorrência 2,4 vezes maior da Covid-19 em homens, como havia sido demonstrado em publicação da mesma revista no mês de abril deste ano.

O estudo buscou elucidar a resposta imune na infecção pelo SARS-CoV-2 em homens e mulheres e, por isso, analisou detalhadamente as diferenças, segundo o sexo, da carga viral, dos níveis de anticorpos específicos contra o novo coronavírus, dos níveis plasmáticos de 71 substâncias pró-inflamatórias – citocinas e quimiocinas e dos perfis de células envolvidas na resposta do sistema imune à infecção. Essas análises puderam ser feitas de forma longitudinal num subgrupo de 48 dos 98 pacientes incluídos no estudo, todos com infecção comprovada pelo SARS-CoV-2 e admitidos no Yale – New Haven Hospital, entre 18 de março e 9 de maio do corrente ano. As mesmas análises foram realizadas num grupo controle, formado por 64 funcionários do Hospital, livres da infecção pelo vírus.

Os resultados mostraram diferenças significativas na resposta imune de homens e mulheres durante o curso da infecção pelo SARS-CoV-2. Os níveis de substâncias pró-inflamatórias – os níveis de citocinas e quimiocinas, como IL-8, IL-18 e CCL5, estiveram mais elevados, de forma longitudinal, em homens. Uma resposta mais robusta das células T, particularmente de linfócitos T ativados – células que podem destruir as células infectadas pelo vírus – foi observada nas mulheres; essa resposta foi menos vigorosa entre os homens mais velhos, não tendo sido encontradas diferenças quanto à idade nas mulheres. Análises da evolução clínica mostraram que menor resposta das células T esteve associada à progressão futura da doença em homens, enquanto que nas mulheres a piora da doença esteve associada a níveis mais elevados das substâncias pró-inflamatórias. Os níveis de anticorpos específicos, tanto na resposta inicial à infecção (IgM), quanto nas fases mais tardias (IgG) foram significativamente mais baixos nos homens.

Os dados do estudo mostram haver diferenças substanciais entre homens e mulheres na estruturação da resposta imune no início da doença, o que sugere a existência de mecanismos distintos de progressão da doença nos dois sexos. Embora o estudo tenha algumas limitações, os dados, analisados coletivamente, também sugerem que vacinas e tratamentos para aumentar a resposta das células T ao SARS-CoV-2 podem estar mais indicados para pacientes do sexo masculino, em particular para aqueles com mais de 60 anos,  enquanto que as mulheres se beneficiariam mais de tratamentos que bloqueiam o componente inflamatório da resposta do sistema imunológico ao vírus. Essa diferença  significativa na resposta imune pode explicar, pelo menos em grande parte, a maior suscetibilidade dos homens à Covid-19.

Para ler mais: www.nature.com 

www.nytimes.com