Resenha de Henry Campos e Nahuan Gonçalves
Enquanto a pequena Ruanda é o único Estado subsaariano inscrito na lista dos países considerados “seguros” pela União Europeia, o Japão experimenta um recrudescimento do contágio pela Covid-19, considerado por aquele país como “alarmante”, inclusive com uma iminente declaração de estado de urgência em Tóquio, epicentro dos novos casos.
A pequena Ruanda, com extensão territorial de menos de 27.000 km2, faz fronteira ao norte com Uganda, ao sul e leste com a Tanzânia, e a oeste com a República Democrática do Congo (RDC). Um dos países mais densamente povoados da África, com 12,5 milhões de habitantes, Ruanda, também conhecida como o país das mil colinas, parece manter sob controle a pandemia do coronavírus. O país registra, até o momento, cerca de 2 mil casos e cinco mortes, o que faz com que tenha sido incluído, desde 30 de junho, na lista da União Europeia de países considerados “seguros” no tocante à pandemia. A título de comparação com uma população quase igual, a região parisiense da Île-de-France contabilizou mais de 7.500 mortes em hospitais.
Ruanda foi um dos primeiros países africanos a impor um confinamento total à sua população, apenas uma semana depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19 em seu território. Já com uma reabertura parcial desde o início de maio, o porte de máscaras segue obrigatório em locais públicos e permanece em vigor um toque de recolher das 21h às 5h, enquanto bares e escolas continuam fechados. Além das multas aos infratores, os mesmos são levados a estádios “para sensibilização sobre os perigos da propagação do vírus, antes de serem liberados depois do fim do toque de recolher diário”, medida vista como suspeita por organizações de defesa de direitos humanos. Uma parte das unidades de internação e ambulatórios do país destina-se, exclusivamente, a pacientes de Covid-19. Uma medida original adotada é a coleta aleatória de sangue de condutores de veículos e mototaxistas, sendo essas amostras misturadas num pool único para pesquisa do Sars-CoV-2 pelo teste da PCR. Se essa amostra conjunta for negativa, todas as amostras, que foram juntas para formar o pool, o são. Se o teste do pool é positivo, cada amostra isolada é testada individualmente. Segundo o médico Leon Mutera, especialista em Genética, que coordena a frente de combate à pandemia, “isso permite analisar rapidamente um grande número de amostras, diminuindo drasticamente os custos”. O algoritmo utilizado por essa técnica em Ruanda baseia-se em metodologia criada nos EUA nos anos 1940 para despistagem de sífilis e malária. No caso da Covid-19, ela só é eficaz em zonas onde a prevalência do vírus é baixa.
Não se sabe se a decisão foi tomada pela experiência de Ruanda, o fato é que a FDA autorizou, no dia 18 de julho, a utilização de pool de amostras de até quatro pessoas, como estratégia para ampliar o número de testes. Segundo o médico Stephen Hahn, comissário da FDA, essa estratégia tornar-se-á especialmente relevante se as taxas de infecção diminuírem, evidenciando mais uma semelhança com a conduta adota pelas autoridades sanitárias de Ruanda.
O pequeno país africano, que tem um PIB de 4,5 bilhões de dólares e um PIB per capita de 345 dólares, permanece vigilante e, recentemente, reconfinou vários bairros da capital, bem como uma zona de fronteira com a RDC. O turismo de luxo e de congressos são um componente estratégico da economia, e, com a pandemia, Ruanda já experimentou este ano uma perda de 45 milhões de euros nesse setor, o que ganha dimensão maior no pequeno país que tem 40% da sua população vivendo abaixo da linha de pobreza.
Enquanto isso, o Japão, que figura entre as cinco maiores economias mundiais (PIB de US$ 5,75 trilhões e PIB per capita de US$ 46.546), confronta-se, depois dos últimos quinze dias, com um recrudescimento de contágio pela Covid-19 considerado pelo governo japonês como “alarmante”. Com 437 novos casos no dia 1 de julho, Tóquio é considerado o epicentro da contaminação. A exemplo do ocorrido na província de Okinawa, a região de Tóquio deve retomar o estado de urgência, que havia sido suspenso no fim de maio, até pelo menos o dia 15 de agosto. Um apelo foi lançado à população de Tóquio para respeitar as medidas sanitárias, assim como um chamado para fechamento dos bares às 22 horas e a interdição das salas de pachinko, uma espécie de bilhar eletrônico.
O agravamento da situação sanitária em Tóquio e outras províncias reacendeu o debate sobre a gestão da pandemia por parte do governo central, por sua hesitação ditada pela insistência em relançar a todo custo a economia. Na contramão dos acontecimentos recentes, o governo decidiu lançar, na semana passada, uma controversa campanha de promoção do turismo, a um custo de 10,5 bilhões de euros. Outro fato preocupante é a suspensão, prevista a partir do próximo dia 5 de agosto, das restrições de acesso dos residentes estrangeiros ao território japonês. Cerca de 90 mil residentes estrangeiros no Japão, de mais de 140 nacionalidades, encontravam-se fora do país quando a proibição de entrada começou a vigorar.
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