Resenha de Henry Campos e Nahuan Gonçalves

Segundo relatório da Eurostat (Gabinete de Estatística da União Europeia), publicado no dia 31 de julho, no segundo trimestre deste ano o PIB recuou 12,1% na Zona do Euro e 11,9% na União Europeia. No primeiro trimestre as baixas foram, respectivamente, 3,6% e 3,2%. “Abissal”, “histórico”, “inédito”, “abominável”, são alguns dos adjetivos usados após a divulgação dos dados para descrever a amplitude da recessão em que mergulhou a Europa.

A diminuição do PIB foi de 10,1% na Alemanha, de 10,7% na Áustria e de 12,2% na Bélgica, entre abril e junho. Na Itália a queda foi de 12,4% e ainda mais acentuada na França (-13,8%), em Portugal (-14,1%) e na Espanha (-18,5%).Os números de outros países serão divulgados nos próximos dias, mas as diferenças já conhecidas reacendem o temor de uma fragmentação na Europa, notadamente na Zona do Euro, onde a retomada do crescimento poderá ser longa.

No Norte europeu a recessão deve ser um pouco menos brutal, por conta de finanças mais equilibradas e de melhores resultados previsíveis de seus futuros planos de ação. No Sul as sequelas serão mais profundas, sobretudo sobre o mercado de trabalho. O grande desafio dos países é trazer para a situação de emprego pleno os milhões de trabalhadores que ainda se encontram amparados pelo dispositivo do desemprego parcial. “Nós estimamos que 10% dos trabalhadores das quatro grandes economias da Zona do Euro – França, Alemanha, Itália, Espanha - estão colocados nesse dispositivo”, explica Rosie Colthorpe, da Oxford Economics. Graças a esse recurso a taxa de desemprego da Zona do Euro subiu apenas de 7,2% a 7,8% entre março e junho, quadro bem menos dramático do que nos Estados Unidos, onde chegou a avançar 11 pontos e atingir 14,7%, antes de iniciar uma queda.

Em 21 de julho os dirigentes europeus aprovaram um fundo europeu para relançamento da economia, de 750 bilhões de euros, sendo 360 bilhões, de empréstimos renováveis e 390 bilhões, de subvenções. O fundo visa a ajudar os 27 países membros a enfrentar a maior recessão sofrida pelo continente depois da pós-guerra e um objetivo primordial é reduzir as diferenças na retomada da economia. Como esse recurso só estará disponível em 2021, as economias muito dependentes do turismo, como a Croácia, a Grécia e a Espanha, serão muito penalizadas.

Todos os governos deverão apresentar à Comunidade Europeia um plano de aplicação, que deverá favorecer, notadamente, a transição ecológica e a revolução digital, para o alcance de objetivos comuns. Como registra Charles Henri Colombier, especialista da Zona do Euro, do Hexacode, Instituto de Estudos Econômicos, com sede em Paris, que acompanha a conjuntura e previsões para a economia mundial, “tratar-se-á , em grande parte, de investimentos, que, quando postos em execução, não terão efeitos imediatos”. Apesar de representar um passo simbólico enorme para a reconstrução europeia, o fundo, segundo Daniela Ordonez, da Oxford Economics, “compensará somente um quarto da perda histórica registrada na União Europeia”.

Como a atividade nos próximos meses permanecerá inferior à do final de 2019, as falências devem se multiplicar e uma parte das pessoas em atividade parcial vai passar ao desemprego, que deverá ser superior a 9,5% na Zona do Euro, segundo a Comissão Europeia, mas com uma distribuição diferente nos vários países – próximo de 20% na Grécia e Espanha; 11,8% na Itália; 10,1% na França, países onde a retomada do consumo será muito progressiva. Na Alemanha, Áustria e Holanda o desemprego não deverá ser superior a 6%.

No que diz respeito às empresas, o quadro é igualmente sombrio. “A queda do investimento é a principal preocupação”, revelam em nota Mathilde Lemoine e Manuel Maleki, economistas do grupo Edmond de Rotschild. Muitas empresas não renovarão seus equipamentos, já envelhecidos, como na França e na Espanha, onde se estima que o investimento produtivo ao final de 2021 seja de 10-15% inferior ao de 2019. Ressaltam ainda os economistas Lemoine e Maleki que “os setores com fortes limitações sanitárias, como lazer, hotelaria e restaurantes, e os transportes, podem ter uma perda de 20-40% em 2020”.