Henry Campos e Nahuan Gonçalves.

Em artigo divulgado na plataforma medRXIV (associada ao British Medical Journal) ,em versão pré-publicação, o professor Jeffrey Seow do King’s College e mais 36 colaboradores, do Guy’s and St.Thomas National Health System Foundation, e da University of Kent, apresentaram o primeiro estudo abrangente sobre a longevidade da resposta de anticorpos, tanto em pacientes sintomáticos, quanto assintomáticos - “Longitudinal evaluation and decline of antibody responses in SARS-CoV-2 infection”.

Em razão da disseminação recorde do vírus ainda não é conhecida a duração da resposta de anticorpos e se eles terão um efeito protetor sobre a infecção. Uma vez que grande ênfase tem sido dada a testes sorológicos para determinar a soroprevalência contra o SARS-CoV-2 na comunidade e para estimar a taxa de infecção, é importante a compreensão da resposta imune para definir parâmetros para que as pesquisas de anticorpos possam fornecer dados significativos em estudos populacionais na ausência de testes para pesquisa do vírus por meio da técnica de PCR.

Uma ampla faixa de variação dos níveis (titulação) de anticorpos neutralizadores (nAcs) contra o SARS-CoV-2 tem sido descrita seguindo-se à infecção, e essa variação parece depender do tempo decorrido entre o início dos sintomas (POS), da coleta de sangue para exame , e da severidade da doença. Conhecimentos adicionais sobre magnitude, cinética e longevidade da resposta de produção de nAcs têm primordial importância para a compreensão do papel que os nAcs podem ter no desaparecimento da doença e na proteção contra a reinfecção, também chamada de infecção renovada ou infecção da segunda onda.

No estudo foram analisadas amostras sequenciais de soros provenientes de 65 pacientes com infecção comprovada por PCR e de 31 profissionais da saúde soropositivos até 94 dias POS, para entender a cinética do desenvolvimento de nAcs e a magnitude e durabilidade dessa resposta bloqueadora. No grupo de pacientes foi observada uma soroconversão (aparecimento de anticorpos) da ordem de 85% e detectada a presença de nAcs quando as amostras foram colhidas a partir de oito dias POS. Os estudo mostra que as respostas dos anticorpos das classes gM e IgA diminuem 20-30 dias POS. A magnitude da resposta de nAcs depende da severidade da doença, que não tem impacto no pico da resposta, sendo os títulos máximos de nAcs observados, em média no 23º dia POS, e diminuição de 2-65 vezes durante um período de acompanhamento que foi de 18-65 dias. Apenas dois dos 65 pacientes não desenvolveram anticorpos contra quaisquer antígenos do SARS-CoV-2 (S, RBD e N). Achados semelhantes foram encontrados nos profissionais de saúde analisados na pesquisa. As respostas dos anticorpos da classe IgG contra os três antígenos mostraram frequências semelhantes às respostas IgA e IgM, sendo o pico mais tardio e detectável até 94 dias de seguimento dos profissionais da saúde.

Em resumo, o estudo mostra que, a partir de amostras sequenciais de indivíduos infectados pelo SARS-CoV-2, até 94 dias após o início dos sintomas, foi demonstrado o declínio dos títulos de anticorpos na maioria deles. Para aqueles que apresentaram uma baixa resposta de anticorpos neutralizadores (nAcs) o retorno para valores iniciais foi relativamente curto. É possível que, apesar da diminuição do nAcs eles sejam capazes de dar proteção contra a doença. É importante lembrar que respostas de memória a partir de linfócitos B gerados durante a infecção foram registradas em outros estudos, o que pode contribuir para a proteção.

Somente estudos sequenciais prolongados, utilizando amostras de pacientes infectados pelo SARS-C0V-2 poderão determinar completamente a longevidade da ação bloqueadora de anticorpos e determinar o nível necessário para proteger as pessoas da reinfecção.

O estudo liderado pelo DR. Jeffrey Seow despertou grande interesse e entusiasmo entre grandes especialistas internacionais, como registrado no portal Science Media Center. Um dos renomados pesquisadores ouvidos pelo portal foi o professor Lawrence Young, professor de Oncologia Molecular na Warwick University, uma das principais universidades do Reino Unido, que encerra assim a sua avaliação sobre o estudo: “Esse estudo enfatiza ainda mais a necessidade de ampliarmos a nossa compreensão sobre o que é uma resposta imune protetora, se queremos desenvolver uma vacina eficaz, e reforça a necessidade de produzir uma vacina que gere uma robusta e durável resposta de anticorpos e de linfócitos T contra o SARS-CoV-2”.

A publicação desse estudo foi destaque dos jornais Le Soir (Bélgica); 20 Minutes, Libération, Le Matin-Ouest, Femme Actuelle (França) e African Manager.

Para ler o artigo científico na íntegra: https://doi.org/10.1101/2020.07.09.20148429