Na quarta-feira, 22 de julho, às 21h, o Observatório da Coronacrise contou com a participação de José Sergio Gabrielli, economista e ex-presidente da Petrobras; Rodrigo Leão, economista e coordenador de pesquisa do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep); e Rosangela Buzanelli, geofísica e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, para discutir o tema “coronacrise no setor de petróleo e gás: alternativas de transformação”. A mediação foi de Lindbergh Farias, ex-senador e diretor da Fundação Perseu Abramo.
O ex-presidente da Petrobras, Gabrielli fez um paralelo entre as duas crises, a vivenciada em 2009 e a de hoje. A primeira foi uma grande crise do setor financeiro provocou uma recessão muito forte, já a crise recente é de origem externa à atividade econômica, causada pela pandemia e que atinge a economia pelo lado da oferta e da demanda, efeito das restrições do isolamento. Lembra que em 2009 o país estava em fase de expansão da atividade econômica: o mercado interno estava “bombando”, a distribuição de renda estava aumentando, vivíamos uma redução da fome e da pobreza. “E, apesar de não ser uma marolinha, como se previa, o Brasil saiu rapidamente da crise”. A Petrobras tinha acabado de descobrir o pré-sal. A empresa era o centro de uma política de desenvolvimento, baseada na expansão da indústria naval e da engenharia pesada brasileiras, era condutora de um grande programa de investimentos que alavancava cerca de um milhão de postos de trabalho por ano. Hoje a Petrobras reduziu drasticamente seu papel e sua influência na economia brasileira, concentra-se na produção e exploração de petróleo da bacia de Campos, “está saindo do refino, da distribuição, já vendeu a BR Distribuidora, está saindo da logística de dutos de gás, da petroquímica, dos biocombustíves, de fertilizantes...”, assim relatou o desmonte realizado pelo atual governo federal. Portanto, está se concentrando numa empresa produtora e exportadora de petróleo cru, sem de conteúdo nacional, sem estimular a indústria brasileira. Aliás, exportando 1,1 milhão de barris por dia. E o governo também não apresenta nenhuma perspectiva de retomada do crescimento.
Rosângela Buzanelli fala sobre o papel da empresa e reitera que a Petrobras está saindo do cenário. “Sua missão está voltada para a maximização do retorno ao acionista, mas o maior acionista ainda é o povo brasileiro e esse papel está um pouco relegado.” Para a ela, só foi possível descobrir o pré-sal porque a Petrobras era uma empresa pública, por isso pôde bancar esse investimento, que era vultoso e de alto risco. O papel da empresa pública é fundamental no país e não pode ser renegado. Essa empresa descobriu o pré-sal, apesar da quebra do monopólio. “Nós petroleiros bancamos porque isso significava uma política de desenvolvimento para o país”. A petroleira lembra que “apesar de toda a riqueza, se a Petrobras não for uma empresa integrada ela não se sustenta. O preço do barril é muito volátil e com a crise o que segurou o balanço da empresa foi a exportação do óleo combustível e bunker”. Então, desfazer-se de parte do parque de refino, que foi adaptado e onde foi investido muito dinheiro, para se concentrar na exploração e produção do petróleo da bacia de Santos, é deixar de ter uma empresa integrada com presença no país como um todo. “A empresa está presente em 20 estados do país, tem responsabilidade socioambiental, investe no meio ambiente, na cultura como nenhuma outra empresa no país. Sua saída dos rincões será trágica. Precisamos mantê-la como indutora do desenvolvimento”, conclui.
De que forma a empresa poderia ajudar na recuperação da economia brasileira nessa situação de pandemia? O economista Rodrigo Leão lembra que na crise internacional de 2008 houve uma articulação estatal para que o Brasil recuperasse a economia. Quando indagamos hoje sobre a participação da Petrobras na recuperação do país é precisar falar que nos últimos quatro anos ocorreram mudanças fundamentais na indústria de petróleo e na regulação do setor. Por exemplo, o conteúdo nacional nos leilões que na fase de exploração nos governos Lula e Dilma deveriam ser 50%, 60%, hoje é 18%; há mudanças importantes na partilha do pré-sal e a empresa vem perdendo relevância cada vez mais. Portanto, não mais a mesma capacidade de antes. Há quatro, cinco anos, vem se criando um arcabouço regulatório que vem diminuindo o peso da Petrobras e alterando a estrutura montada anteriormente. Baseado em estudos do Ineep, Rodrigo fala que o investimento privado que se imaginava viria no setor é muito menor do que realizava a Petrobras. Grandes empresas que entram no país atuam muito pontualmente, sem a penetração que a empresa brasileira tem (e cada vez tem menos).
O Observatório da Coronacrise é o programa do Observatório da Crise do Coronavírus (clique aqui para acessar), iniciativa da Fundação Perseu Abramo para monitorar a crise sanitária e econômica gerada pela pandemia e promover esforços no sentido de atenuá-la e até de superá-la.
O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e Twitter, além de ser retransmitido pelas redes sociais de Dilma Rousseff e Fernando Haddad, e dos portais parceiros: Revista Fórum, DCM e Brasil 247.
Assista aqui o debate na íntegra.