O Observatório da Coronacrise do dia 17 fez uma pergunta: “a pequena empresa pode tirar o Brasil da crise?”. Para responder foram convidados Miriam Duailibi, presidenta do Instituto Ecoar para Cidadania e Conselheira da Associação Latino-Americana de Pequenas e Micro Empresas de economia solidária (AlampymeBr) e Paulo Feldmann, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador associado da Universidade Fudan (China) e foi do conselho da pequena empresa da Fecomercio. A mediação foi de Artur Henrique, diretor da Fundação Perseu Abramo e ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O programa tem muitos dados, a começar pela informação de que das nove milhões de empresas do país, seiscentas mil decretaram falências em três meses de crise, fora as que estão muito mal e inadimplentes. Uma boa saída seria os bancos oficiais se voltarem para as pequenas empresas.

Paulo Feldmann e Miriam Duailibi não só apresentaram números como também boas soluções para o desenvolvimento do país a partir do investimento nas pequenas empresas e sistemas associativos. Soluções que gerariam emprego e renda e diminuiriam os impactos da pandemia da Covid-19 na economia nacional.

“O saldo da pandemia será um número enorme de desempregados. Aumento dos desalentados, pelo menos dez milhões de pessoas nessas condições. Mais treze milhões de desempregados. É um número gigantesco no Brasil de pessoas que ou não estão empregadas ou estão muito mal empregadas”, disse Feldmann.

Para ele é um debate importante que não tem sido feito no Brasil, porque o país tem uma visão completamente diferente do restante do mundo sobre a importância da pequena empresa.

“Como resolver um problema deste tamanho? Quando a situação voltar ao normal as grandes empresas não vão contratar pessoas. Vão comprar robôs, impressoras 3D e uma série de ferramentas que substituem o ser humano. A solução está nas pequenas empresas. Das nove milhões de empresas, só noventa mil não são pequenas empresas”, explicou.

Feldmann citou exemplos de outros países que não só protegem com legislação e incentivos como investem na pequena empresa como forma de desenvolvimento e crescimento econômico, inclusive: “Alemanha e Inglaterra têm leis que estimulam consórcios entre as pequenas empresas”. Segundo o professor é preciso “uma legislação que defenda as pequenas empresas, que servirão para absorver esse contingente de desempregados depois da pandemia”.

Mudar a postura em relação a pequena empresa não é fácil porque é até cultural, ao contrário de outros países que investem, como o caso das farmácias na Itália, que não pode ter cadeia. Nenhuma proteção, nem políticas públicas. Alemanha e Inglaterra têm leis que estimulam consórcios entre as pequenas empresas. Uma legislação que defenda as pequenas empresas servirá para absorver esse contingente de desempregados depois da pandemia.

Miriam falou sobre desenvolvimento local, economia solidária e também sobre as diferenças entre economia solidária e visão liberal do empreendedorismo, a partir da provocação feita por Artur Henrique.

Ela frisou a importância da educação, do investimento em projetos como os que envolvem os catadores de lixo, que a partir da associação com outros do mesmo setor puderam melhorar as condições de trabalho e a remuneração. O Brasil é líder mundial quando o assunto é esse: “temos o maior número de pessoas catando lixo. Essas pessoas antes das atividades de economia solidária não tiravam nem trezentos reais por mês em extrema precariedade. Quando organizadas em associações passam a se ver como agentes ambientais da maior importância porque são eles que fazem a reciclagem no Brasil”.

“O país voltou ao mapa da fome. Podíamos investir na agricultura urbana, por exemplo, que garante a auto suficiência alimentar, pois as pessoas poderiam estar plantando, gerando renda e alimentando as famílias”, sugeriu.

Questões ambientais também poderiam ser uma solução, que ao mesmo tempo servem para proteger a natureza e geram renda: salvar as matas ciliares das grandes cidades, que servirá para combater o aquecimento global e empregar muitas pessoas, usar aquecimento solar de baixo custo em todo o país gera emprego e novas tecnologias, explicou Miriam.

“Há milhões de postos de trabalho que podem ser criados por meio da economia solidária. E o mundo todo está falando da economia circular, a economia que é solidária, é inclusiva, de baixo carbono, que não gera resíduos materiais nem humanos. A natureza não tem lugar para o resíduo, assim como não tem lugar para a miséria e a pobreza", disse.

O Observatório da Coronacrise é o programa do Observatório da Crise do Coronavírus (clique aqui para acessar), iniciativa da Fundação Perseu Abramo para monitorar a crise sanitária e econômica gerada pela pandemia e promover esforços no sentido de atenuá-la e até de superá-la.

O programa é transmitido ao vivo nas noites de quarta e sexta-feira, às 21h, no canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, em sua página no Facebook e Twitter, além de ser retransmitido pelas redes sociais de Dilma Rousseff e Fernando Haddad, e dos portais parceiros: Revista Fórum, DCM e Brasil 247.