Tradução de artigo de Christina Potter publicado por Outbreak Observatory- Johns Hopkins University

O Vietnã foi elogiado como uma emergente história de sucesso no combate à COVID-19, com o país relatando baixo número de casos e nenhuma morte relacionada ao coronavírus durante a pandemia. Neste “Outbreak” de quinta-feira, examinaremos mais de perto a resposta do país, a fim de entender melhor seu sucesso no controle da epidemia e como o país planeja manter esse controle no futuro.

Situação epidemiológica

Os primeiros casos de COVID-19 no Vietnã foram relatados em 23 de janeiro - um pai e um filho que haviam visitado a China. Até hoje, o Vietnã teve um total de 369 casos confirmados e nenhuma morte, de acordo com o painel COVID-19 do Centro de Ciência e Engenharia de Sistemas da Universidade Johns Hopkins. Esses números baixos são particularmente impressionantes, pois o país possui uma população grande, além de renda e recursos limitados em comparação com outros países que estão sofrendo com o vírus; O Vietnã tem uma população de 97 milhões de pessoas e é considerado um país de renda média-baixa com capacidade limitada de assistência médica em comparação com outros países da região. O país também não teve transmissão comunitária nos últimos três meses - todos os novos casos foram de importação. Até agora, 90% de todos os casos foram recuperados com sucesso.

Preparação

Para entender como o Vietnã teve sucesso no combate à pandemia, é importante relembrar como o Vietnã respondeu a epidemias anteriores e como seus investimentos em preparação influenciaram tais respostas. Por exemplo, durante a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) em 2003, o país priorizou a saúde da população em vez de se preocupar com o impacto econômico de suas políticas. As autoridades implantaram uma resposta multissetorial incorporando serviços militares, de segurança pública e organizações de base, garantindo, ao mesmo tempo, que a comunicação transparente dos riscos e a mobilização efetiva da comunidade fossem enfatizadas durante o surto. Essas lições certamente foram inseridas em sua estratégia atual. O país também enfrentou outras epidemias das quais extraiu lições semelhantes, incluindo a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, gripe aviária, sarampo e dengue. Parceiros como Gavi e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos também investiram em capacitação a longo-prazo do sistema de saúde do país.

Ação inicial e agressiva

O Vietnã iniciou levando a sério os preparativos para a pandemia, quando os casos de COVID-19 aumentaram na China, sua vizinha. As triagens para Covid-19 entre os passageiros nos aeroportos começaram em 11 de janeiro de 2020 - um dia após a China ter relatado sua primeira morte - e a quarentena obrigatória na chegada para passageiros vindos de áreas de alto risco foi logo implementada. O Ministério da Saúde convocou uma reunião de estratégia de resposta com a Organização Mundial da Saúde e outros parceiros em 15 de janeiro. As escolas foram fechadas no mesmo mês. Um Plano Nacional de Resposta e um Comitê Diretor Nacional de Prevenção de Epidemias estavam em vigor antes do final de janeiro.

Em fevereiro e março, as restrições de viagem se tornaram ainda mais rígidas com a suspensão de voos para a China e outros países de alto risco, e a quarentena foi obrigatória para todas as chegadas internacionais. No final de março, o país suspendeu a entrada de todos os passageiros internacionais estrangeiros. Líderes do governo implementaram um fechamento nacional nas três primeiras semanas de abril com a suspensão de setores não essenciais, mas bloqueios locais já ocorriam desde o início de fevereiro, quando uma comunidade rural de 10.000 pessoas enfrentou um fechamento de 20 dias após sete casos terem sido relatados.

Essa ação precoce e agressiva pode ter valido a pena, permitindo que o país volte ao normal. As escolas estão abertas desde o início de maio. Além do uso continuado de máscaras, distanciamento social e outras medidas direcionadas de controle de infecções, o país aparentemente reabriu totalmente. Além de ter sucesso na perspectiva da saúde, o Fundo Monetário Internacional estima que o Vietnã enfrentará impactos econômicos mais leves da pandemia do COVID-19 em comparação com outros países da região devido à resposta rápida e agressiva de seus líderes, que permitiu ao país reabrir mais cedo e com sucesso.

Teste, rastreamento de contatos e quarentena

Um elogio comum ao Vietnã tem sido a ênfase do país na busca e no isolamento de casos. Embora o teste inicial tenha sido limitado a indivíduos sintomáticos que podem ter tido uma exposição recente devido a viagens ou contato com um caso confirmado, a capacidade de teste foi rapidamente ampliada para abranger outros grupos. Agora, todos os indivíduos que iniciam a quarentena são testados ao entrar e sair dela. Os testes também são feitos com pessoas que frequentam locais de alto risco, como comunidades em regiões muito contaminadas, mercados atacadistas e zonas industriais. Até o final de abril, a capacidade de teste havia aumentado permitindo até 27.000 amostras processadas por dia e quase 1.000 pessoas foram testadas para cada caso confirmado encontrado - muito mais do que a Nova Zelândia ou Taiwan na época, que realizavam aproximadamente 150 testes por caso confirmado encontrado.

O rastreamento de contatos com os infectados e a quarentena relacionada a ele foram um componente central da estratégia de resposta do Vietnã. O rastreamento de contatos foi uma iniciativa extensa, apoiada por 63 centros provinciais de controle de doenças, 700 centros distritais de controle de doenças e mais de 11.000 centros comunitários de saúde. O público também foi recrutado para auxiliar no rastreamento de contatos com anúncios sobre sites de “potencial exposição” divulgados em jornais e na televisão, para que contatos em potencial pudessem procurar proativamente testes e atendimento. Os contatos de casos confirmados foram rastreados e testados com até três graus de separação, sendo eles casos confirmados, contatos, contatos de contatos e contatos de contatos de contatos, todos identificados e isolados em certa medida.

Comunicação e mobilização

Partindo das lições anteriores, o Vietnã adotou uma postura muito forte de centralizar a comunicação de risco e a mobilização do público em sua estratégia de resposta. Os líderes nacionais utilizaram imagens que evocam a linguagem de um país em guerra contra um vírus inimigo, a fim de consolidar o apoio e a conformidade com as medidas de saúde pública entre os cidadãos. Textos em massa para telefones celulares, anúncios de alto-falante, pôsteres de rua, publicações na imprensa e nas mídias sociais sobre prevenção de transmissão têm sido utilizados desde o início e com frequência para fornecer consistentemente uma comunicação de risco. Sites e linhas diretas dedicadas à essa comunicação também foram desenvolvidos para que os cidadãos busquem ativamente respostas para suas perguntas. Uma música, que agora se tornou viral e que pode ser encontrada no Youtube, foi desenvolvida para ensinar as pessoas sobre a lavagem das mãos.

Ressalvas e lições aprendidas

Como vimos em histórias de sucesso em epidemias anteriores, os investimentos anteriores em preparação no Vietnã e uma forte política de combate ajudaram o país a manter a pandemia amplamente controlada. No entanto, deve-se notar também que o governo de partido único do Vietnã é exclusivamente adequado para fazer mudanças rápidas e unilaterais mas que podem não ser adequadas para outros estilos de governança. Independentemente disso, a comunidade internacional deve continuar acompanhando o Vietnã, a fim de colher as lições aprendidas e avaliar seu uso potencial em outros contextos, particularmente o uso efetivo do país em rastreamento de contatos, testes e comunicação de risco.