Vai passar. Essa é a frase a que há meses nos agarramos para enfrentar esse momento tão difícil de afastamento social. A inépcia e a indiferença do governo federal no enfrentamento à pandemia (cuja faceta mais visível são os quase dois meses sem um ministro da saúde) já resultaram em mais de setenta mil mortes. Se a estabilidade de mais de mil mortes diárias indica que ainda teremos que somar algumas dezenas de milhares de óbitos antes de assistirmos ao fim da pandemia, não é cedo para constatar que vivemos uma das maiores tragédias sanitárias de nossa história.
Na esfera econômica, o quadro não é menos desolador. O Brasil e o mundo passam por uma crise econômica poucas vezes vista e os prognósticos indicam que, na economia, o “vai passar” está ainda mais longe. É com o desafio de pensar o momento pós-pandemia que o Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (Finde) vem dar sua contribuição ao debate com o lançamento de seu segundo boletim. Essa publicação busca trazer indicadores que nos permitam compreender a excepcionalidade e a gravidade do atual momento e apontar saídas para que a recuperação seja a mais rápida possível.
Os textos elaborados pelos membros do Finde apontam caminhos em temas como emprego, uso de bancos públicos, teto de gastos, reforma tributária e financiamento de gastos públicos. Contamos também com dois colaboradores externos, que tratam do cuidado, tema caro à população idosa, que está entre os grupos mais vulneráveis no atual contexto. A diversidade de tópicos tratados tem dois elementos comuns, que compõem a essência do boletim: o papel do Estado como principal agente na condução da recuperação e a necessária mudança de rota das políticas econômicas adotadas nos últimos anos, cujos resultados mais visíveis foram a estagnação da economia, precarização do emprego e a piora das condições de vida da população brasileira pela decadência na oferta de serviços públicos essenciais. No mundo todo, a pandemia gera mortes e recessão, mas é a resposta (e principalmente a falta dela) do poder público que transforma suas consequências inescapáveis em uma tragédia que poderia ser evitada.