Artigo de Henry Campos e Nahuan Gonçalves

Cursos, estágios, concursos, entrevistas de emprego, temporadas no exterior: milhares de jovens viram desaparecer com o tempo os seus projetos, por conta da pandemia do coronavírus.

Para alguns, se tudo correr bem, trata-se de um parêntese, com a retomada das aulas no outono. Para os 700.000 graduados que aguardam a entrada no mundo do trabalho, a angústia é mais concreta: como encontrar uma colocação quando o país mergulha numa recessão, anunciada pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômica – OCDE, como “uma das mais brutais entre os países industrializados”.

Pelas manifestações demonstradoras de preocupação com o meio ambiente (greve estudantil de 2019), contra a violência policial (sábado, 13 de junho), contra as desigualdades no mundo, o racismo, a injustiça, o sociólogo francês François Dubet alerta “para um acúmulo de cólera na França, suscetível de reemergir em função do contexto e da conjuntura”.

A expectativa de inquietação e cólera dos jovens com até 25 anos parece justificada, uma vez que, no contexto profissional, eles serão as principais vítimas da pandemia. Segundo estimativas do Observatório Francês sobre o Trabalho, 620 mil postos de trabalho deixaram de existir no Hexágono, expressão utilizada para designar a França continental. Mais da metade deles eram ocupados por recém-graduados e estagiários e, em 2019, 54,9% dos jovens com menos de 25 anos de idade tinham contratos temporários de trabalho. Dados mostram que nos quatro primeiros meses do ano as ofertas de emprego para jovens foi reduzida em 65%.

Os jovens com menor qualificação serão os mais atingidos, em setores como a restauração e a hotelaria, o que lança “um grito de alerta para os jovens mais frágeis e com menor qualificação”. Para ajudá- los o governo anunciou várias medidas, entre elas o repasse de 5.000 euros para as empresas que empregarem um estagiário menor de idade, e uma contribuição de 8.000 euros para cada maior de idade contratado.

De par com essa realidade há toda uma inquietação quanto à saúde dos jovens: solidão, ansiedade, retardo no acesso ao cuidado à saúde, inquietação que os profissionais de saúde acompanham de perto.