Racismo em meio à coronacrise foi o tema do programa do Observatório da Coronacrise realizado na noite de ontem (12), com a participação do sociólogo Martvs das Chagas, secretário Nacional de Combate ao Racismo do PT; da arquiteta Dulce Pereira, professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e ex-presidenta da Fundação Cultural Palmares; e de Flávio Jorge, do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo (FPA) e da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen). A economista Elen Coutinho, diretora da FPA saudou os convidados e mediou o debate.

Martvs das Chagas iniciou comentando as manifestações ocorridas após o assassinato do cidadão estadunidense George Floyd, que reverberou em manifestações antirracistas ao redor do mundo. Ele destacou o fato de Brasil e Estados Unidos terem histórias muito distintas.
“A abolição da escravidão nos EUA se deu em 1863, 25 anos antes, e em 1870, os negros de lá já votavam, ao passo que a população negra aqui no Brasil só conquistou o direito ao voto em sua plenitude em 1988, quando os analfabetos puderam votar. São realidades muito diferentes na cultura e na formação da identidade nacional, mas que hoje se aproximam muito por conta da luta contra o racismo e também pelas mortes que decorrem da pandemia, que atingem maciçamente negros e negras”.

A professora Dulce Pereira lembrou uma pesquisa conduzida por ela que mostra que a população negra é a primeira a ser vítima de “patógenos”, desses vírus todos, por estar exposta à falta de saneamento, não ter acesso a exames adequados e descaso no sistema de saúde à medida que o SUS foi sucateado.
“Antes da pandemia, já havia uma discussão sobre o risco e a vulnerabilidade dessas populações a partir do efeito estufa e do aquecimento global, por exemplo. Portanto desde o início dessa crise os pesquisadores da Fiocruz que se dedicam a questões raciais e alguns que atuam em redes diziam que é preciso pensar formas de tornar a população negra menos vulnerável”, afirmou.
Disse ainda que da forma com que o Brasil lidou com o coronavírus, tendo um Estado sequestrado por um grupo que se articulou para gerenciar a nação de forma racista, não haveria como haver processo diferente do que este que ocorre hoje.

Flávio Jorge afirmou que temos uma figura racista, misógina e machista governando o Brasil, chamada Bolsonaro, e que o momento é muito complicado. “O coronavírus e sua incidência sobre a população negra é parte disso, mas a nossa luta é maior. Assistimos no último final de semana à saída da juventude negra às ruas, uma juventude que é fruto das políticas que construímos nos governos Lula e Dilma, que entrou nas universidades de forma inédita no Brasil. Essas pessoas serão fundamentais para botar pra fora Bolsonaro”, disse.