Como as crises sanitária, econômica e política coronavírus estão afetando as vidas das mulheres. Para debater este tema, o Observatório do Coronavírus, reuniu nesta quarta-feira 10 de junho a a socióloga Eleonora Menicucci, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres e a médica Ana Flavia Oliveira, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com a mediação de Vivian Farias, vice-presidenta da Fundação Perseu Abramo.
Para a professora Eleonora, a pandemia desvelou a destruição dos poucos direitos conquistados pelas populações negra, LGBTQ e indígena, perpetrada pela implantação do projeto neoliberal por Bolsonaro. A crise do coronavírus encontrou este governo escravocrata, misógino e colocou o neoliberalismo de cabeça para baixo porque mostra que precisa do investimento do SUS. Esta crise sanitária, ainda mostrou a imensa desigualdade social no Brasil. “Nos pega com o trabalho precarizado, intermitente que jogou as mulheres, sobretudo as mulheres negras na informalidade”, destaca Eleonor. A população negra tem sido mais contaminada e tem registrado mais casos de óbitos nesta pandemia, lembrou ainda a professora.
A ex-ministra mencionou as mobilizações antirracistas que estão varrendo o mundo nos últimos dias e ressaltou que no Brasil a mentalidade escravocrata prevalece nas relações privadas e públicas, atingindo mais duramente as mulheres negras. “Vidas das mulheres negras importam”, afirmou “Faço uma homenagem às guerreiras negras que tem puxado esta luta antirracista.”
Ana Flávia, por sua vez, explica que o vírus irá contaminar a todas e todos, porque é uma doença nova, mas a desigualdade de acesso ao tratamento é que vai determinar quem vai sobreviver ou morrer no Brasil. As duas formas conhecidas para combater a Covid-19 são o isolamento social e a realização de testes. “Como as pessoas vão ficar em casa se tem que trabalhar, o patrão não deixa ficar em casa, tem que enfrentar o transporte público lotado?”, argumenta. A fome está voltando e as pessoas estão descrentes, alerta ainda a professora.
As violências e a sobrecarga de trabalho estão mais evidentes nesta crise, alerta ainda Ana Flávia. Serviços de saúde como o fornecimento de contraceptivos estão sendo interrompidos, assim com a assistência em casos de violência sexual, com a profilaxia e o abortamento legal - não está sendo prestada em vários locais, sob o argumento que não são essenciais neste período de pandemia. Essas interrupções tem o respaldo do governo federal e os coletivos de mulheres brigam para estes serviços sejam essenciais.
Ana Flávia também descreveu o quadro precário enfrentado pelas mulheres profissionais da saúde em todas as frentes no combate à Covid-19. Diariamente estas mulheres trabalham sem equipamentos de segurança adequados, lutam com o medo de contaminar a si mesmas e seus familiares, buscam mecanismos de isolamento e sofrem emocionalmente com a extrema pressão. “Muitas destas profissionais são negras, e a maioria não são valorizadas, não são ouvidas”, afirma a professora.
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