Por Henry Campos e Nahuan Gonçalves
A crise financeira poderá abalar o financiamento da pesquisa biomédica, embora investimentos possam crescer em outros países.
Enquanto a crise econômica causada pela pandemia se agiganta no mundo, especialistas temem que a crise possa abalar a ciência por décadas, levando milhares de pesquisadores ao desemprego, quando nações são forçadas a redirecionar suas finanças para a reconstrução de suas sociedades. Para outros, a pandemia pode fazer realçar o papel da ciência e estimular os investimentos a longo prazo, em especial nas ciências básicas, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial.
Nos Estados Unidos, onde a taxa de desemprego cresceu acima dos níveis vistos na década de 1930, muitos líderes científicos apelam para que seja mantido o crucial apoio à ciência e à inovação. “Sem a ciência para ajudar, o país corre sério perigo”, diz Harold Varmer, pesquisador sobre câncer e ganhador do Prêmio Nobel, que dirigiu o National Institutes of Health entre 1993 e 1999.
Seguindo a onda da pandemia, as ciências biológicas podem florescer, à maneira do que ocorreu em 1957, época do Sputnik, famoso satélite soviético que deu início à corrida espacial. “Pesquisadores vão onde o dinheiro está”, diz Julia Philipps, membro do United States National Science Board e ex-chefe de tecnologia no Sands National Laboratories, em Albuquerque, Novo México.
As consequências econômicas a longo prazo variam significativamente de um país a outro. A Austrália, por exemplo, advertiu que 7.000 postos de pesquisas em universidades estão em risco este ano, enquanto que a ciência na a Alemanha permanece relativamente intacta – o país está injetando 17 bilhões adicionais de euros (18 bilhões de dólares) até 2030, com aumento crescente de 3% ao ano. Embora a economia e o ambiente científico estejam abalados na China, o país parece empenhado numa recuperação rápida, o que o leva a investir mais em Biologia e epidemiologia, diz Cona Cao, cientista social do campus da Universidade de Nottingham em Ningbo, China.
As mudanças mais drásticas podem ocorrer nos Estados Unidos, que tem orçamento anual e possui uma demanda emergencial de 3 trilhões de dólares, dos quais 4 bilhões foram dirigidos a agências federais para trabalhos relacionados ao coronavírus, incluindo tratamentos e desenvolvimento de vacina. Esse montante parece amplamente insuficiente, face a uma demanda de uma coalizão de universidades por uma dotação de 26 bilhões de dólares para as agências de fomento, o que permitiria a reabertura de laboratórios, o restabelecimento de financiamentos de pesquisa, a retomada de colônias de camundongos que precisaram ser sacrificados, bem como a aquisição de equipamentos de proteção individual, desviados para as frentes de combate à Covid-19.
No Reino Unido a ciência parece ir bem melhor do que nos Estados Unidos – o governo anunciou um plano para aumentar de 9 para 22 bilhões de libras esterlinas até 2024-2025 o financiamento para pesquisa, não havendo até o momento sinais de que essa iniciativa não seja levada a cabo.
Embora para a ciência americana haja igualmente um cenário de oportunidades, a incerteza da economia e a crise do governo Trump não criam um ambiente de segurança para atendimento às necessidades do país, cujo governo permanecia até 2017 como o maior financiador da ciência básica, com um investimento de cerca de 121 bilhões de dólares naquele ano.
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