Por Henry Campos e Nahuan Gonçalves
Políticas de governo adotadas durante a pandemia da Covid-19 alteraram drasticamente os padrões de consumo de energia no mundo. É o que mostra estudo científico publicado na última edição da revista Nature Climate. Muitas fronteiras internacionais foram fechadas e as populações confinadas em seus domicílios, o que reduziu transportes e modificou padrões de consumo.
O estudo faz uma compilação das políticas governamentais e das atividades em seis setores da economia, em mais de 69 países, 50 estados dos Estados Unidos da América e 30 províncias da China, que representam 85% da população mundial e 97% da emissão de CO2. As emissões diárias de CO2 diminuíram 17% (11 a 25%) no início de abril de 2020, em comparação com a média dos níveis de 2019. No pico da redução as emissões por país diminuíram em média 26%. O impacto para 2020 vai depender da duração do confinamento, com uma estimativa baixa de 4% de redução (-2 a -7%) se as condições pré-pandemia se restabelecerem em meados de junho e, numa estimativa mais alta de 7 por cento de redução (-3 a -13%), se as restrições permanecerem em todo o mundo até o final de 2020. As ações de governo e incentivos econômicos pós-crise provavelmente influenciarão o padrão global de emissão de CO2 por décadas.
Antes da pandemia da Covid-19 as emissões de dióxido de carbono cresciam 1% ao ano em relação às décadas anteriores, sem que tenha sido registrado aumento em 2019.
Em razão da falta de dados da emissão de CO2 em tempo real, devido à variabilidade do monitoramento por satélite, o estudo utilizou um índice de confinamento para captar como as diferentes políticas afetam a emissão de CO2 em seis setores econômicos: 1) energia (44,3% da emissão global de CO2, derivado da energia fóssil); 2) indústria (22,4%); 3) transporte de superfícies (20,69%); 4) prédios públicos (4,2%); 5) residências (5,6%) e 6) aviaçäo (2,8%).
O índice de confinamento seguiu três escalas: a escala 1 indica políticas dirigidas a pequenos grupos de indivíduos suspeitos de apresentar a infecção; a escala 2 indica políticas de confinamento dirigidas a cidades ou regiões inteiras, afetando mais de 50% da sociedade; e a escala 3 indica a adoção de políticas nacionais que restringiram substancialmente a rotina diária da população, exceto aquela de trabalhadores de setores ditos essenciais.
Os dados do estudo mostram que as reduções diárias de atividades em escala nacional, regional ou por estado/província foram maiores no setor de aviação, onde alcançaram 75%. As reduções nas atividades de transporte de superfície foram de 50% (40 a 65%), enquanto no setor público e na indústria a atividade foi reduzida em 35% (25 a 45%) e 33% (15 a 50%), respectivamente.
O efeito do confinamento foi a redução de 17% da emissão global de CO2 (11 a 25%) por volta de 7 de abril de 2020, níveis comparáveis a 2006.
As emissões globais pelos transportes públicos caíram 36% nessa mesma data e representam a maior contribuição ao total de emissões. No setor a energético a queda foi de 7,4% e de 19% no setor industrial. Emissões dos transportes de superfície, do setor energético e do setor industrial contribuíram para 86% do total de emissão global de CO2. No setor de aviação as emissões de CO2 diminuíram 60% e no setor público a redução foi de 21%.
A redução nas emissões de CO2 foram maiores na China, nos Estados Unidos, na Europa e na Índia, o que reflete a alta emissão nessas regiões e que o confinamento foi de certo modo respeitado até meados de abril, data a que se referem as medições.
Aplicado ao mesmo modelo, um teste de sensibilidade estima que o retorno aos níveis pré-confinamento poderá se dar em até 6 a 11 semanas, a depender da retomada das atividades e do nível de confinamento.
Essas mudanças descritas no estudo parecem temporárias, pois não refletem alterações estruturais na economia, transportes ou setor energético.
Um dos pontos altos do estudo é a demonstração de como as emissões pelo setor de transportes de superfície podem responder a mudanças políticas e econômicas que levem à redução importante da emissão de gás carbônico, da po uição atmosférica, bem como melhora da qualidade de vida e incentivo a hábitos de vida mais saudáveis.
Para ler mais, acesse: https://www.nature.com/