No Observatório da Coronacrise desta sexta-feira 15, os economistas Nelson Barbosa e Esther Dweck analisaram o cenário das crises superpostas e seus impactos na estrutura do país e na vida das pessoas. O programa foi apresentado e mediado pelo economista e diretor da Fundação Perseu Abramo, Carlos Henrique Árabe.
O tamanho da crise econômica
Para os dois economistas, a crise econômica atual é extremamente mais profunda do que a vivida em 2015 e 2016. Dweck indicou que há estimativas de que o PIB brasileiro pode cair 3,3%, em um cenário positivo, ou até 11%, em um cenário extremamente pessimista. Quanto ao desemprego, as projeções variam entre 4,5 e 14 milhões de pessoas desempregadas. “As medidas erráticas do governo Bolsonaro e as ações descoordenadas de isolamento social vão prolongar a crise”, afirmou a professora do Instituto de Economia da UFRJ e ex-secretária nacional de Orçamento.
Para o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, Nelson Barbosa, trata-se de uma “crise de parada súbita”, em que, de uma hora para outra, a produção cai, a renda da população também cai e os governos arrecadam menos impostos. Para ele, mesmo que haja recuperação deste quadro recessivo em 2021, não se recuperarão os patamares de renda e emprego de 2019.
A assistência os trabalhadores que estão perdendo renda neste período é fundamental e as medidas aprovadas pelo Congresso, como o pagamento do auxílio direto aos informais e o seguro-desemprego para as pessoas que tiveram os contratos suspensos ou salários reduzido, são ainda lentas e insuficientes na avaliação de Barbosa e Dweck.
O socorro de capital de giro para micro, pequenas e médias empresas, mesmo anunciado pelo governo federal, não se concretiza. “Há o risco de uma quebradeira geral”, pontua Barbosa, “falta responsabilidade, é um problema político.”
O papel que o governo Bolsonaro não cumpre
A crise tem afetado de forma desigual os setores públicos e privados, a população e as regiões do Brasil. Governos estaduais e municípios têm tomado medidas de atendimento aos doentes e de contenção de contágio, mas não há coordenação nacional. “Veja a Itália, quando perceberam a velocidade da pandemia, houve uma coordenação do governo central com os governos locais. Aqui no Brasil, os estados estão tomando medidas sem ter uma ação coordenada com o governo federal”, explica Dweck.
Para ela, a coordenação deve abarcar cinco eixos: transferência de renda para os setores formais e informais; repasse de recursos aos estados e municípios para atender o sistema de saúde; garantia de sobrevivência financeira das empresas pequenas e médias com empréstimos e injeção de capitais; e adotar uma política industrial para produção de equipamentos e insumos para a saúde, garantindo um plano emergencial de reconversão industrial.
O governo federal não apresenta também um planejamento para a saída do isolamento e a retomada das atividades econômicas, prolongando o quadro recessivo, segundo Barbosa. “Está faltando uma coordenação, tem que ter protocolos para retomada em comércio e serviços para dar segurança às pessoas. Com essa incerteza, a retração econômica é maior, na dúvida todos cortam os gastos e o governo federal deve coordenar as expectativas porque tem os instrumentos para isso, tanto para liberar mais recursos para crédito, como para estimular a geração de emprego.”
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Essa inação do governo está fundamentada na crença da equipe econômica de Bolsonaro, de que a economia voltará ao mesmo cenário pré-pandemia e que a recuperação se dará apenas com ações da iniciativa privada, avalia Barbosa. “O futuro é um elemento importante para organizar a expectativas e reduzir o grau de colapso presente”
As lições pós-pandemia
Para Esther, a pandemia do coronavírus evidencia o aumento da desigualdade social que já estava sendo estruturada desde a crise de 2008. Agora, a pandemia a aprofunda ainda mais. “Esta crise mostrou a fragilidade do pacto social no mundo...até 2014 estávamos indo para fortalecer tudo isso no Brasil e agora recuou.”
Os participantes do programa convergem na proposição de construção de um novo pacto social, como já ocorreu no pós Segunda Guerra Mundial. O fortalecimento e a ampliação de sistemas públicos de saúde, de ciência e tecnologia, de educação e uma grande concertação mundial para desenvolver políticas econômicas inclusivas e de redução das mudanças climáticas estão entre as prioridades que destacaram
Para o Brasil, a ênfase conjunta de Barbosa e Dweck está na formulação e execução uma política de reconstrução, com criação de programas de recuperação de emprego e renda, com investimentos em setores que estão mais enfraquecidos. Será uma oportunidade também de construir uma nova política industrial brasileira mais pragmática que estimule a inovação e a pesquisa tecnológica.