Leia abaixo reportagem de Lee Fang e Nick Surgey, publicada em The Intercept e traduzida por Wilson Jr, da equipe do Observatório.
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As empresas poderão em breve ter de enfrentar um movimento operário revitalizado e militante, alertou um influente consultor de relações patronais em um memorando recente para líderes empresariais.
O memorando, enviado em 20 de abril, antecipa os protestos do Primeiro de Maio pelos setores de serviços, armazéns e trabalhadores de entrega em todo o país hoje, que deixam de trabalhar para destacar más condições de trabalho e salários perigosamente baixos.
“É a primeira vez desde o início dos anos 80 que sinto um interesse significativo dos funcionários em 'ação coletiva' e 'representação de terceiros'”, alertou Rick Berman, um lobista que faz guerra contra sindicatos em nome de clientes comerciais há décadas.
Berman alertou que os funcionários preocupados com a exposição ao coronavírus adotaram o Facebook e outras plataformas online para compartilhar suas preocupações com o local de trabalho, situação que deu à diretoria do sindicato maior acesso a trabalhadores descontentes.
O aumento da organização digital e o estresse sem precedentes que a pandemia impôs aos trabalhadores em uma série de empregos no setor de serviços também coincidem com pesquisas que mostram um crescente apoio ao trabalho organizado entre as pessoas de 18 a 34 anos de idade.
"A maioria dos profissionais de RH atuais não tem histórico em lidar com uma rebelião parcial da força de trabalho", observou o memorando. "Isso provavelmente acontecerá
em empresas individuais ou poderá ser um movimento mais amplo da indústria em uma cidade ou região".
A pandemia no coronavírus causou um aumento do desemprego, que atingiu um total de 30 milhões de novos pedidos nesta semana, enquanto coloca os chamados trabalhadores da linha de frente em alto risco de infecção para sobreviver. Um número crescente de balconistas de supermercado, motoristas de entrega, armazenistas e trabalhadores agrícolas têm falado sobre condições perigosas de trabalho e salários baixos.
Como o The Intercept informou, uma coalizão sem precedentes de trabalhadores da Amazon, Instacart, Whole Foods, Walmart, Target e FedEx estão planejando sair do trabalho na sexta-feira. Os protestos são projetados para chamar a atenção para a falta de equipamentos de segurança, adicional de periculosidade e licença médica mínima oferecida aos trabalhadores durante a pandemia.
Nas últimas semanas, a Amazon demitiu funcionários que se manifestaram sobre condições supostamente inseguras nos armazéns da empresa. Chris Smalls, um dos trabalhadores demitidos, era gerente assistente do armazém da Amazon em Staten Island, Nova York, onde organizou um pequeno protesto contra a segurança dos trabalhadores no final de março.
"Este é um fato comprovado do motivo pelo qual eles não se importam com seus funcionários, demitir alguém após cinco anos por defender as pessoas e tentar dar voz a elas", disse Smalls ao Vice News.
A Amazon disse que a empresa o demitiu por "violar as diretrizes de distanciamento social e colocar em risco a segurança de outras pessoas".
A empresa, entretanto, teria intensificado os esforços para monitorar sentimentos dos empregados em sua subsidiária da cadeia de supermercados, Whole Foods, como parte de um plano para impedir os trabalhadores de aderir a um sindicato.
Berman, em seu memorando, anunciava os serviços de sua empresa. "A história de nossa empresa inclui o trabalho com grandes escritórios de advocacia e outros para negar aos Teamsters, SEIU, UNITE HERE, UFCW e UAW a abertura para sindicalizar funcionários que não têm um entendimento completo das responsabilidades", escreveu ele.
O memorando anexava artigos sobre uma recente onda de protestos entre trabalhadores de fast-food, operadores de metrô e outros funcionários essenciais nas linhas de frente do surto de coronavírus.
Berman opera vários grupos dedicados ao lobby e relações públicas em questões trabalhistas, incluindo o Instituto de Políticas para o Emprego e o Center for Union Facts (CUF, sigla em inglês; é um grupo de lobby americano para transmitir mensagens corporativas e de críticas aos sindicatos). No passado, grandes empresas, incluindo Marriott e Tyson Foods, contrataram Berman, embora sua lista completa de clientes não seja pública. A HR Policy Network, uma divisão da empresa de lobby de Berman, lista Applebee's, Ruth's Hospitality Group, Wendy's e o Corner Bakery Cafe entre seus apoiadores corporativos.
“Estamos sempre lisonjeados por receber cobertura e reconhecimento por nossos programas educacionais e não pedimos desculpas pela defesa dos direitos dos funcionários. A necessidade de educação pública sobre os abusos de poder dos líderes sindicais é maior do que nunca”, disse Berman em comunicado ao The Intercept.
O memorando termina com uma nota otimista para as empresas. "As boas notícias", afirmou Berman, "são que a maioria dos sindicatos não possui funcionários sindicais competentes para gerenciar essa oportunidade".