Por Rodrigo Toneto - exclusivo para o Observatório da Crise do Coronavírus
O mês de abril representou a maior retração da atividade industrial no mundo desde 2009. No Brasil, e em mais 25 dos 32 países analisados, foi o valor mais baixo para atividade industrial e de serviços desde o início da série que, no nosso caso, se iniciou em 2007.
A PMI (pesquisa de atividade industrial e de serviços) conduzida pela IHS Markit, é um índice composto por 5 séries de indicativos da atividade, frequentemente utilizado para indicar o aquecimento ou desaquecimento da economia. São levados em conta, para a composição do índice, séries de produto, novos pedidos, emprego, tempo de entrega de fornecedores e estoques. A medida do índice é relativa ao mês anterior, de tal forma que um índice de 50 representa uma economia que está com a produção estabilizada, menos de 50 a produção está caindo e mais de 50, expandindo.
No mundo, o índice da atividade industrial caiu de 47,3 em março, para 39,7 em abril. Já no Brasil, o valor tombou de 37,6 para 26,5. O setor de serviços brasileiro observou queda de 34,5 para 27,4. O nível mundial é baixo e o único país que esboçou modesta reação foi a China, que se manteve nos 50 em março e 53 em abril. Os índices de comércio internacional também colapsaram e abril representou uma queda nas exportações mais intensa do que aquela observada em 2009, com expectativas de redução em até 50% do fluxo.
A partir das séries analisadas é possível observar uma característica idiossincrática desta crise, com choque simultâneo de oferta e de demanda. Enquanto em crises de demanda convencionais o tempo de entrega a fornecedores cai junto com a atividade, nesta o tempo de entrega aumentou, está mais lento. Tradicionalmente, quando a economia vai mal, sobram mais estoques, há menos pedidos sendo realizados, o que faz com que diminua também o tempo necessário para entrega.
Na medida em que a Covid-19 forçou fechamento de fábricas, reduziu exportações e impediu o processo produtivo, o choque na oferta também é forte, diminuindo imediatamente estoques e havendo pressão nas cadeias produtivas por parte dos setores que continuam operando. A queda da oferta é tão acentuada que levou o índice de tempo de entrega para cima, mesmo com a queda na demanda.
A recuperação, portanto, ainda é muito incerta. Para a retomada efetiva, dada a dimensão da crise, deveríamos observar índices PMI de 70, 80, algo que está fora de cogitação. Um esboço de melhora da economia chinesa deverá significar, em um primeiro momento, um alívio às restrições de oferta e, conforme as atividades voltem aos poucos, as firmas irão produzir para os setores que seguem demandando e hoje enfrentam restrições de oferta.
Nada disso terá efeito, entretanto, quando as economias voltarem a esbarrar na restrição de demanda que permanecerá por mais tempo. A queda da renda e a grande incerteza que estarão mantidas pelos próximos tempos impedirão uma retomada de fato e constituem ainda no grande desafio que temos pela frente para sairmos do buraco em que coletivamente estamos.
Isso implica destacar a tarefa fundamental dos Estados diante da crise. É dever dos governos garantir a minimização da queda da renda, transmitir confiança e garantir demanda. A queda na atividade e no consumo é esperada e em parte inescapável, por força da vital necessidade do isolamento social. O tamanho do buraco está aí, cabe à iniciativa política definir se vamos cavar mais fundo ou erguer escadas.
Rodrigo Toneto é economista, membro do coletivo Desajuste - Economia Fora da Curva e colaborador voluntário do Observatório da Crise do Coronavírus.
Links de referência:
https://ihsmarkit.com/research-analysis/global-manufacturing-pmi-at-11year-low-in-april-as-only-china-reports-growth-May2020.html
https://www.markiteconomics.com/Public/Home/PressRelease/657b1bad4d1c4545adb10647d94a4b05