“Erro político é deixar a segurança nas mãos da extrema direita”, diz José Dirceu
Ex-ministro da Casa Civil afirma que segurança pública é hoje o principal campo de disputa com a extrema direita e defende que o PT organize um projeto nacional para enfrentar crime organizado, milícias e o populismo penal

“O erro político não é assumir a segurança pública; é deixá-la nas mãos da extrema direita”, afirmou José Dirceu (PT-SP) no seminário nacional de segurança pública promovido pelo PT e pela Fundação Perseu Abramo. Ele colocou a pauta em seu lugar estratégico: o centro da batalha política contemporânea.
Para o ex-ministro da Casa Civil, segurança não é apenas um conjunto de técnicas de policiamento, mas uma disputa de projeto, narrativa e organização do Estado — uma disputa que a direita radical ocupa há anos com medo, desinformação e soluções autoritárias.
Dirceu lembrou que o PT acumulou avanços decisivos quando esteve no governo federal, criando o Sistema Único de Segurança Pública, estruturando os presídios federais, fortalecendo a Polícia Federal e inaugurando uma cultura de inteligência, controle financeiro e cooperação federativa que deu ao Estado brasileiro capacidade inédita de investigação. Esse acúmulo, porém, não se converteu plenamente em hegemonia narrativa, o que permitiu à extrema direita capturar a pauta com slogans de extermínio e militarização.
Crime organizado, milícias e a disputa pelo Estado
Ao tratar da governança da segurança pública, Dirceu ampliou a análise e situou o Brasil em uma dinâmica internacional em que narcotráfico, economias ilegais, milícias e extrema direita se retroalimentam.
Citou especialmente o avanço das milícias e facções no Rio de Janeiro, o domínio econômico do crime em vários estados e a vulnerabilidade das fronteiras na Amazônia e em Roraima.
Sua leitura é de que esses grupos já não podem ser vistos apenas como organizações criminosas: operam como estruturas políticas que ocupam território, controlam economias locais e disputam legitimidade com o Estado.
Nesse contexto, afirma, o país precisa de uma política nacional articulada, capaz de enfrentar tanto o “andar de cima” das organizações — finanças, logística, armas, lavagem — quanto o domínio territorial nas periferias. Uma política que envolva inteligência de Estado, integração federativa, coordenação nacional, presença permanente nos territórios e enfrentamento econômico ao crime.
Ministério da Segurança Pública
Dirceu defendeu explicitamente a criação de um Ministério da Segurança Pública com orçamento e comando próprios, em diálogo direto com a Presidência. Para ele, uma estrutura assim daria densidade institucional à agenda e permitiria organizar de forma contínua aquilo que hoje está fragmentado entre vários órgãos.
Ao mesmo tempo, alertou que o PT não pode aderir ao punitivismo fácil. A disputa não se trava reproduzindo a retórica da violência, mas apresentando alternativas que combinem presença estatal, proteção de direitos, inteligência, controle financeiro e redução da letalidade.
“A segurança é instrumento político da extrema direita no mundo. Capturam a pauta, difundem medo, criam inimigos”, afirmou. Para enfrentá-la, o partido precisa falar claro, assumir seu acúmulo e disputar o imaginário popular com coragem.
Na avaliação de Dirceu, a segurança pública será um dos eixos centrais da disputa presidencial de 2026. Chegar a essa eleição sem projeto, sem linguagem e sem formulação seria entregar à extrema direita o principal tema que mobiliza o cotidiano da população. Assumir essa pauta, ao contrário, significa disputar Estado, soberania, território e democracia.



