Deputada do PT-RJ critica a lógica de guerra aplicada às periferias e defende uma política de segurança centrada em direitos, inteligência e presença qualificada do Estado

“Favelas não são zonas de guerra são quilombagens modernas”, afirma Benedita

A fala de Benedita da Silva no seminário nacional de segurança pública promovido pelo PT e pela Fundação Perseu Abramo levou o debate a um lugar que muitas vezes é silenciado: o da vida concreta nas favelas brasileiras. Com a autoridade de quem nasce, vive e representa esses territórios, ela afirmou que o Rio de Janeiro se tornou laboratório de operações letais que transformam bairros inteiros em zonas de guerra.

Nada disso, lembrou, reduziu a criminalidade ou desmontou o poder econômico do crime organizado. O que fica é a pergunta sobre quais vidas são consideradas descartáveis quando o Estado escolhe agir dessa forma.

Benedita conectou essa realidade à formação histórica das periferias do país, marcadas pelo êxodo nordestino, pela população negra e por décadas de modernização excludente. As favelas, afirmou, devem ser compreendidas como “quilombagens modernas”: espaços de resistência e construção comunitária, mas também territórios onde a ausência do Estado convive com a presença armada — seja de facções e milícias, seja de segmentos estatais que tratam moradores como inimigos internos.

“É impossível falar de segurança sem falar de segurança habitacional, do trabalho, da saúde, do combate ao narcotráfico, dos direitos individuais e coletivos”, disse.

A vida como eixo e a inteligência como método
Ao criticar operações que interrompem aulas, fecham postos de saúde e paralisam comércios — deixando mortos quase nunca investigados — Benedita defendeu que o país precisa de uma política de segurança que rompa com a lógica da excepcionalidade. “Defendemos uma política de segurança que coloque a vida no centro, que reduza letalidade, proteja civis e também profissionais da segurança pública”, afirmou. Para isso, é necessário revisar protocolos, garantir investigações independentes, criar canais seguros de denúncia e substituir a lógica da guerra por inteligência qualificada e presença estatal contínua.

A deputada também sustentou que o tema deve ser tratado em nível estratégico no governo federal, à altura da gravidade da crise. “Nós do PT temos política para isso e precisamos apresentá-la. Por isso ouso dizer: deveríamos defender a criação do Ministério da Segurança, dedicado exclusivamente a essa questão”, declarou.

Ao propor uma pasta própria, Benedita reforça que segurança pública não se faz apenas com força — mas com direitos, memória, reparação e democracia.