Enquanto operação no Rio se torna a mais letal da história, Congresso mantém projetos de segurança parados, incluindo PEC do governo Lula que visa reforma estrutural do sistema

PEC da Segurança Pública segue parada na Câmara, reforma estrutural que evitaria operações como a do Rio
Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados

Enquanto o país assiste horrorizado à operação policial mais letal da história do Rio de Janeirocom pelo menos 132 mortes nos complexos do Alemão e da Penha – o Congresso Nacional mantém paralisados mais de 200 projetos relacionados à segurança pública, incluindo a principal aposta do governo Lula para reformar o setor, a Proposta de Emenda à Constituição 18/2025.

A contradição entre a urgência da violência e a lentidão legislativa ficou evidente nesta quarta-feira (29), quando o senador Paulo Paim (PT-RS) criticou a ação policial no Rio e defendeu a aprovação da PEC da Segurança, que tramita na Câmara desde abril.

“Eu pergunto novamente: que vida é essa? Não é matando pessoas e apontando culpados que vamos resolver o crime organizado”, afirmou Paim, citando a condenação da ONU à operação carioca. “Esse é um problema complexo que exige planejamento, inteligência, políticas públicas, coragem e humanidade.”

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, informou que a CPI do Crime Organizado será instalada na terça-feira (4). Segundo o senador, a decisão foi tomada em entendimento com o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), proponente da comissão.

Acúmulo legislativo

Um levantamento da Folha de S.Paulo apurou que são 202 projetos parados, 194 na Câmara dos Deputados – com textos apresentados desde 2003 até este ano – e outros oito no Senado, na fila desde 2015. Desse total, 20 são considerados prioritários por técnicos do governo federal, parlamentares e profissionais da área de segurança, segundo o jornal.

A PEC da Segurança, principal iniciativa do governo Lula na área, encontra-se em uma comissão especial da Câmara desde setembro, aguardando parecer do relator Mendonça Filho (União-PE). A proposta visa constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e estabelecer diretrizes mínimas para os órgãos de segurança em todo o país.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), prometeu pautar projetos sobre segurança pública toda semana, mas a realidade mostra que o processo segue lento. “Queremos fortalecer as políticas de prevenção, garantir melhores condições de trabalho para as forças de segurança e aprimorar o marco legal”, afirmou Motta à Folha.

Nas redes sociais, cresceu o movimento pela aprovação da PEC da Segurança. Páginas progressistas estão postando comparativos explicando como funcionará a integração das inteligências, um dos ítens do plano que é duramente atacado pelos governadores de oposição. A Central de Movimentos Populares, CMP, convocou um ato nacional para o dia 31 de outubro, sexta-feira, contra a chacina.

PEC da Segurança Pública segue parada na Câmara, reforma estrutural que evitaria operações como a do Rio

Alternativas defendidas

Paim defendeu que a solução para a violência passa por políticas sociais de longo prazo. “Não é com matanças que vamos resolver; é com políticas públicas eficientes. É com educação, saúde, moradia, emprego, cultura, cidadania e oportunidades. Essa é a verdadeira segurança pública”, argumentou.

O senador destacou a necessidade de “investigar os fluxos financeiros, interceptar o dinheiro do tráfico, combater a corrupção no Estado e oferecer alternativas reais à população vulnerável”. A contradição entre a urgência das ruas e a burocracia legislativa evidencia o desafio que o país enfrenta para construir uma segurança pública verdadeiramente democrática e eficaz.

PEC da Segurança Pública segue parada na Câmara, reforma estrutural que evitaria operações como a do Rio
Foto: Agência Senado

“Laboratório de Intervenção Internacional”

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) usou a tribuna da Câmara para alertar sobre o que classificou como uma “tentativa de fazer do Rio de Janeiro o laboratório de uma intervenção internacional”. A parlamentar revelou que a Secretaria de Segurança do estado enviou carta à Embaixada Americana caracterizando organizações criminosas como terroristas.

Segundo Jandira, a bancada do Rio apresentou proposta para solicitar intervenção internacional, movimento que ela descreveu como “eleitoral, político e ideológico da guerra cultural”. A deputada foi enfática em sua condenação: “Isso é um crime de lesa pátria, isso é um absurdo o que está sendo feito.”

A parlamentar criticou ainda a caracterização como “narco-terrorismo”, argumentando que a medida representa “o reconhecimento da incompetência do governador e de suas forças de segurança”. A deputada defendeu que o Brasil tem condições de enfrentar o problema internamente, sem recorrer a ajuda externa. “É uma vergonha, é um crime o que está se tentando fazer junto ao Rio de Janeiro e junto ao Brasil”, concluiu Jandira.

(Com informações da Agência Senado)