Insegurança alimentar: Brasil volta ao menor patamar de fome da história
Os resultados, divulgados nesta sexta (10), pela PNAD Contínua com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), mostram que o país igualou o recorde histórico de 2013: a menor proporção de domicílios em insegurança alimentar grave já registrada pelo IBGE

A cena é simples: comida voltando à mesa, a geladeira que não amanhece vazia, a criança que vai à escola depois do café. O cotidiano volta a caber nos dias quando a fome recua. É isso que os novos dados oficiais sinalizam: menos gente pulando refeição, menos famílias precisando escolher quem come e quem cede o prato. O Brasil voltou, em 2024, ao menor patamar de fome da história, repetindo a marca alcançada em 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre 2023 e 2024, o número de domicílios em insegurança alimentar grave — quando falta comida até para as crianças — caiu de 3,1 milhões para 2,5 milhões, uma redução de 19,9%. A melhora é resultado da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), aplicada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE.
Na prática, mais de 2 milhões de pessoas deixaram a condição de fome em um ano, e outras 8,8 milhões passaram à segurança alimentar, em que o acesso à comida se torna garantido e cotidiano.
“Estamos vencendo a maior de todas as injustiças: a fome”, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (10/10), ao comentar os novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O IBGE divulgou hoje que voltamos ao menor índice de lares com insegurança alimentar grave no Brasil, empatando com aquele registrado em 2013. Nos últimos dois anos, conseguimos as mesmas vitórias que levamos dez anos para conquistar nos meus dois primeiros mandatos e no mandato da presidenta Dilma Rousseff.”
Em dois anos, o Brasil livrou 26,5 milhões de pessoas da fome e atingiu o menor índice de insegurança alimentar da história, segundo o IBGE e a FAO
Os resultados divulgados pelo IBGE na última semana mostram que o país não apenas igualou o recorde histórico de 2013 e consolidou um ciclo de reconstrução social que também recolocou o Brasil, mas reforça um caminho. Neste ano, o país saiu novamente do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) — um marco internacional de que menos de 2,5% da população vive em subalimentação grave.
Visivelmente emocionado, Lula reforçou que o resultado representa uma retomada de compromisso histórico. “Livramos 26,5 milhões de pessoas do mal da fome. É isso que vemos quando comparamos os dados de hoje com o estudo de 2022 da Rede Penssan, que reúne alguns dos maiores especialistas do tema no Brasil. Minha obsessão é que ninguém mais passe fome no país. E não sossegarei enquanto não atingir esse objetivo.”
O que diz o IBGE
A pesquisa integra a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) e utiliza a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) para medir o acesso a alimentos. O percentual de domicílios em insegurança alimentar grave caiu de 4,1% para 3,2%, e o de segurança alimentar subiu de 72,4% para 75,8%. Considerando as duas piores formas de insegurança — moderada e grave —, o índice chegou a 7,7%, o menor da série histórica. A melhora se espalhou por todas as regiões do país, tanto nas áreas urbanas quanto rurais, embora Norte e Nordeste ainda concentrem os maiores índices.
Plano Brasil Sem Fome
Lançado em 2023, o Plano Brasil Sem Fome reúne 80 ações e mais de 100 metas para erradicar a fome. A estratégia envolve o aumento da renda, a inclusão em políticas de proteção social, o fortalecimento da agricultura familiar, a compra pública de alimentos e a ampliação da alimentação escolar.
Lula reforçou que a luta deve ser permanente: “O combate à fome não é um programa, é um compromisso de Estado. É preciso garantir que o trabalhador tenha renda, que o pequeno produtor tenha apoio e que todas as crianças possam se alimentar três vezes ao dia.”
“Estamos colhendo agora o fruto do que plantamos com o Bolsa Família, com a valorização do salário mínimo e com o Plano Brasil Sem Fome”, disse Lula. “Quando os pobres voltam ao orçamento, o país volta ao mapa da dignidade.”
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, destacou a dimensão histórica dos resultados: “Levamos dois anos para reconquistar uma marca que, no passado, levou dez anos (2003–2013) para ser alcançada. Em 2025, o Brasil celebra duas conquistas históricas: a saída do Mapa da Fome e a redução da insegurança alimentar grave ao menor nível da série do IBGE.”