Comparecimento de “Careca do INSS” foi marcado por embates entre seu advogado e parlamentares; presidente da Conafer recebeu voz de prisão ao final do depoimento

CPMI do INSS: Careca depõe e presidente da Conafer é preso


Compareceu à CPMI do INSS na quinta-feira (25), o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, preso desde setembro e conhecido como “Careca do INSS”. Foi uma sessão tumultuada, algo que tem marcado os trabalhos. Camilo Antunes depôs por mais de 7 horas e iniciou lendo uma carta onde declarou que toda a sua “prosperidade é fruto de trabalho honesto e dedicado” e que nunca possuiu “patrimônio oriundo de roubo ou de qualquer prática”. 

Acompanhado do advogado Cleber Lopes, ele encerrou a leitura dizendo que não responderia aos questionamentos do relator, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil), alegando que o deputado lhe havia julgado e condenado quando afirmou que ele seria “o autor do maior roubo da história do país”.

Camilo Antunes é apontado pela Polícia Federal como um dos principais operadores do esquema fraudulento que lesou aposentados. O empresário, dono de uma frota de carros de luxo, 22 empresas e imóveis no exterior, atua como lobista discreto em Brasília e detém procurações para representar entidades que cobram mensalidades de aposentados.

O relator iniciou seus questionamentos repetindo a afirmação, provocando reação do advogado, que tentou usar a palavra sem sucesso. O advogado levantou-se e ameaçou abandonar o plenário, quando o deputado Zé Trovão saiu de seu assento e partiu para cima do advogado de defesa. A polícia legislativa foi acionada e a sessão foi suspensa.

Deputados relacionam esquema ao governo Bolsonaro

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) confrontou o empresário com questionamentos sobre as origens do esquema fraudulento. Pimenta destacou a parceria do empresário com a entidade Ambec, apontando a criação “curiosa” de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para uma instituição com apenas três associados.

O parlamentar apontou conexões entre a iniciativa e ex-funcionários da Geap Saúde, incluindo a suposta participação do pai de um ex-presidente daquela operadora. 

Ao vincular a cronologia dos fatos, Pimenta relacionou os descontos indevidos que lesionaram aposentados ao período de 2021 e 2022, demonstrando uma permissividade do governo Bolsonaro como facilitadora do modelo de prestação de serviço adotado nos ACTs.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) apresentou conexões entre o esquema fraudulento e integrantes do governo Bolsonaro. O parlamentar exibiu imagens de 2018 que mostram o ex-ministro Onyx Lorenzoni e o deputado Osmar Terra em reunião com médicos peritos do INSS durante a transição governamental.

Correia citou registro da Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP) sobre encontro com o então presidente Jair Bolsonaro, que teria expressado surpresa com números sobre desvios no INSS. 

Como desdobramento das investigações, o deputado anunciou requerimento para convocar os médicos peritos presentes na reunião de 2018 e pediu a prisão do advogado Nelson Willians, que também já prestou depoimento na comissão.

Presidente da Conafer

Em depoimento à CPMI na segunda-feira, 29, o presidente da Conafer, Carlos Roberto Lopes, admitiu que o esquema de descontos ilegais em aposentadorias se expandiu durante o governo Bolsonaro, embora o acordo com o INSS tenha sido firmado em 2017. Dados da Polícia Federal indicam que a entidade pode ter desviado aproximadamente R$ 688 milhões entre 2021 e 2025.

O deputado Paulo Pimenta destacou o crescimento explosivo da Conafer — de 718 para 42.810 associados em um mês — e apontou possíveis conivências governamentais. Como evidência, citou a exoneração de uma diretora do INSS que abriu processo de fiscalização, substituída por um indicado do então ministro Rogério Marinho, atual senador e membro da comissão parlamentar.

O deputado Alencar Santana (PT-SP) mostrou que a arrecadação da entidade saltou de R$ 362 mil em 2019 para R$ 58,5 milhões em 2020 — um aumento de 16.000% em um ano.

Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) destacou que a mesma Conafer tentou obter autorização para firmar ACT durante o governo Dilma em 2013 e 2014, mas foi barrada pelo INSS, que então restringia tais acordos a entidades sindicais. A mudança crucial ocorreu em setembro de 2016, já no governo Temer, quando a interpretação foi alterada para permitir que entidades associativas também firmassem ACTs — abertura que posteriormente facilitaria o esquema fraudulento.

Voz de prisão

O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), determinou a prisão após solicitações de parlamentares que acusaram Lopes de mentir deliberadamente em seu testemunho. “Ele tentou de todas as maneiras nos convencer de que se tratava de uma operação perfeitamente legal e correta. Não é. Nós sabemos muito bem que isso é lavagem de dinheiro, dinheiro dos aposentados”, declarou o senador.

Lopes estava depondo na condição de testemunha, o que o obrigava legalmente a dizer a verdade. Ele foi preso na madrugada desta quarta-feira (30) sob acusação de falso testemunho, após mais de nove horas de depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS. O empresário foi liberado aproximadamente às 4h, após pagar fiança de R$ 5 mil.